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Primeiras Impressões | Lucifer (Fox, 2015)

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Um dos grandes males da humanidade é julgar tudo e todos sem conhecer. Julgar pelas aparências. E me cobrem isso depois. Por enquanto, vamos falar de Lucifer, uma dos pilotos que vazaram na internet nos últimos dias, e uma das apostas da Fox para a próxima temporada. E podemos dizer que as notícias são boas.

Então, um belo dia, Lucifer, o anjo caído que decidiu se rebelar contra Deus, se cansou do seu reino de maldade e perversidade. Sabe, achou tudo muito chato e monótono, e decidiu tirar umas férias. O destino? A ‘vila dos malucos’: Los Angeles. Isso mesmo… Lucifer decide vir para a Terra, em LA, tirar uma onda. Brincar com a hipocrisia e falso moralismo humano. Apenas por diversão.

Acontece que Lucifer encontra uma humanidade tão perdida moralmente falando, que chegou a conclusão que era muito mais divertido ajudar os humanos a encontrar algum caminho na vida do que prejudicar ainda mais suas existências insignificantes. Até porque os humanos já estavam craques em fazer c*g*das no seu dia a dia. Então, decidiu abrir uma casa noturna em LA – a LUX -, e socializar, encontrando com tudo quanto é tipo de gente. Influenciando na vida dessas pessoas. De forma positiva ou negativa. E deixando bem claro quem ele era, para que a pessoa não se arrependesse disso depois.

É claro que um pacto com uma entidade desse porte tem consequências. Algumas delas desagradáveis. Para algumas pessoas, coisas ruins acontecem ‘de forma curiosa’, e esses cidadãos (ou cidadãs) acabam procurando Lucifer para ver se consertam suas vidas. Cabe ao nosso protagonista decidir se vale a pena consertar ou não a vida do(a) infeliz.

Acontece que uma popular cantora é assassinada diante de Lucifer, e a vida – ou férias – dele muda quando ele encontra Chloe Dancer, detetive local que vai investigar o caso. Nosso protagonista vê nela alguém que tenta fazer a coisa certa na vida, e que o assassinato da tal cantora está muito mais relacionada aos indivíduos que fecharam ‘acordos’ com ele, e decide ajudar Chloe no caso. E se tornam BFFs. Olha só que lindo!

Porém, nem tudo é tão simples para Lucifer. Ao deixar as suas responsabilidades malignas, ele deixa vago também a direção da esbórnia do inferno, o que deixa a possibilidade de um colapso nas forças espirituais acontecer. Mesmo porque se ‘até puteiro tem porteiro’, por que não as trevas? E Lucifer vai ter que lidar com isso enquanto suas férias na Terra são prolongadas.

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Eu confesso que não esperava nada do piloto de Lucifer, e agora posso dizer que foi a melhor coisa que me aconteceu: não esperar nada. Pois fui positivamente surpreendido com um piloto bom, equilibrado, bem feito, sem exageros e divertido.

Tom Ellis se encaixou muito bem no papel principal, com o tom sarcástico que você imagina que Lucifer poderia ter. O texto da série ajuda e muito, já que ressalta toda a sagacidade e sarcasmo do protagonista diante das situações propostas. Mas nada disso vale se o ator não conseguir colocar no personagem o tom certo que exprime esses traços de personalidade, o que aumenta as chances da série ser bem sucedida.

A Fox acertou na produção e estética de Lucifer. Sua fotografia é propositalmente mais opaca, com um tom sombrio em algumas oportunidades. As cenas são bem feitas, com uma produção excelente, e sem exageros nos efeitos visuais (graças a Deus… ops… desculpe… a Lucifer, obrigado, Senhor – das trevas). Ok, tem as asas do Amenadiel visivelmente digitalizadas, mas podemos ignorar isso facilmente. Mesmo porque dá trabalho criar asas de verdade.

Mas o mais legal do piloto de Lucifer é que ele é BEM MENOS OFENSIVO do que muita gente pintou. E quando falo ‘ofensivo’, quero dizer ‘agressivo à tradicional sociedade cristã ocidental’.

A série não se propõe a questionar a fé das pessoas em Deus ou outras crenças. Na verdade, nem fala sobre religião no piloto. É um assunto que passa completamente batido. Lucifer mostra o lado irônico de um anjo rebelde, CEO do inferno, que vem para a Terra e acaba fazendo a justiça ‘apenas por diversão’. E isso é engraçado.

Talvez a conexão que possa ser feito com a fé é justamente o fato de muita gente pedir à Deus todos os dias pela solução dos seus problemas, e aquele que está disposto a efetivamente ajudar de forma imediata é o diabo (ou algo que o valha). Mesmo assim, essa é uma conclusão minha, e acho que boa parte da audiência nem vai dar bola para isso. Logo, e desnecessário o conselho de pais dos EUA e as comunidades religiosas quererem boicotar a série em alguns estados norte-americanos, como já está rolando antes mesmo da série estrear.

Mesmo porque eles estão julgando sem ver o piloto. Julgando pelas aparências.

Lucifer merece ser olhada com maior atenção. Pode valer a pena para aqueles que tem a mente aberta, que quer um texto inteligente, que trabalha com as ironias da vida. Que tira sarro do falso moralismo da humanidade. Eu, que não dava nada para a série, já começo a achar que pode ser um dos acertos da Fox na temporada. Fico na torcida para que a audiência do canal entenda a grande piada: rir da nossa própria condição de seres imperfeitos.


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@oEduardoMoreira