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Primeiras Impressões | The Path (Hulu, 2016)

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O que você sabe sobre a verdade?

A verdade (por enquanto) é que temos The Path, nova série original do serviço de streaming norte-americano Hulu, que apesar de não funcionar no Brasil, poderá ser apreciada por conta das novas tecnologias de compartilhamento de conteúdo online. Talvez estamos diante da aposta mais ousada da plataforma em todos os sentidos. É a sua maior produção, com o maior volume de investimentos, e a proposta mais difusa entre todas as suas séries. Sem falar no questionamento da fé cega que alguns seres humanos acabam assumindo para si como uma espécie de tábua de salvação. Mas que pode ser o caminho da perdição.

A série mostra os bastidores de uma fictícia comunidade religiosa, o Meyerismo. Essa religião foi criada pelo Dr. Steven Meyer, autor do livro ‘The Ladder’, e é uma espécie de combinação de todas as religiões ditas alternativas, místicas, que trabalham com métodos de transe através de alucinógenos e outros procedimentos que teoricamente conectam as pessoas com forças ocultas e desconhecidas. Aparentemente está tudo bem nessa comunidade: eles se ajudam, ajudam os necessitados e vivem em harmonia. Mas como em tudo nesse mundo, ela tem segredos que precisam ser revelados. Senão, não tem série.

A trama é centrada em Eddie Lane (Aaron Paul), um cara convertido ao Meyerismo, com um passado problemático. Perdeu o pai, o irmão, e quando achava que tudo estava perdido, encontrou Sarah Lane (Michelle Monaghan), que nasceu em uma família Meyerista. Tem importante relevância dentro da religião, assim como Cal Roberts (Hugh Dancy), líder não-oficial da comunidade. Cada um deles terá que lidar com seus conflitos internos que testarão sua fé, principalmente no caso de Eddie, que começa a não acreditar em nada do que está vendo, e vai atrás da verdade.

As atividades da comunidade Meyerista, apesar de aparentemente benéficas, começam a ser investigadas pelas autoridades. Além disso, algumas atitudes de Cal são moralmente questionáveis, e com o passar do tempo, essas atitudes e conflitos internos devem eclodir em eventos imprevisíveis para todos. Será que veremos a dita comunidade perfeita ruir diante de nossos olhos?

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The Path não é uma série fácil. Seu piloto de 56 minutos é lento e arrastado, mas não é uma série tão complexa quanto se imagina. Os eventos são de simples compreensão, e mesmo com os objetivos dos personagens centrais ficarem subentendidos em um primeiro momento, apenas a sequência de episódios vai mostrar quais são as aspirações de cada um deles. De qualquer forma, os eventos do piloto estão bem amarrados e conectados, e tudo converge mesmo para o principal objetivo da trama: questionar a fé das pessoas, e sobre quando essa fé é suplantada pelos interesses pessoais.

A produção da série é igualmente competente. Como disse, é fato dizer que o Hulu tem em The Path o seu maior investimento em séries originais até agora, e a qualidade estética da série mostra claramente que o dinheiro foi bem investido. Várias cenas de externas, com uma ambientação bem feita. O roteiro, como já foi dito, é bem construído, e é ajudado por um ótimo texto e um excelente elenco. Ter nomes consagrados como Aaron Paul, Michelle Monaghan e Hugh Dancy ajuda e muito nos bons resultados.

Talvez o que tenha me incomodado em The Path (e pode incomodar outras pessoas) é justamente o traço característico mais intrínseco na série: a sua narrativa. Ela é lenta e detalhista porque precisa ser. É uma série ‘velada’, onde os seus principais personagens não explicitam suas emoções e pensamentos. Em determinados momentos, vamos entender suas reações momentos depois, em uma clara tentativa da série plantar sementes ao longo do episódio para daí extrair os seus plot twists. Não que isso seja algo ruim e condenável, mas a consequência imediata dessa escolha é ter uma série mais lenta como um todo.

Em alguns momentos, o estilo de narrativa me lembrou The Leftovers (salvo as suas devidas proporções, não estou querendo igualar uma série com a outra), e isso me incomodou. Porém, não desgostei por completo. The Path parece ser uma proposta bem interessante, e tem potencial para se desenvolver para algo bem maior. Entendo que é justamente isso que justifica a minha recomendação para que você continue a acompanhar a série. Se você gosta de tramas que mostram o perfil de seus personagens de forma mais detalhada, com o objetivo de tornar a série mais instigante, onde o caráter de cada um será mais impressionante do que um soco na cara, essa série pode ser a sua pedida.

Porém, reconheço que The Path não é para todos. Compreendo os leitores que não vão gostar. Tudo indica que este drama será difícil de engolir para muitos em um futuro a médio e longo prazo, porque lidará com temas relativamente polêmicos e delicados, e tendem a apresentar escolhas de seus personagens que não devem agradar a todos. Mas acho justo e válido que uma série de televisão faça esses questionamentos.

Acho que vale a pena conferir o piloto, apesar do arrasto e dos 56 minutos do episódio.


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@oEduardoMoreira