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Primeiras Impressões | Vinyl (HBO, 2016)

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Quem disse que o rock morreu?

Na verdade, morreu quando todo mundo acreditou que Lorde é rock. Mas isso é outra história. Fato é que a HBO investe em mais um drama de época, apesar de não ser tão de época como outras produções que o próprio canal exibe. O que não tira em nada o mérito de Vinyl, que é uma série pesada, mas com elevado nível de cultura pop. Não só pela conexão direta com a música, mas também pela mecânica de como apresentar as suas histórias e acontecimentos.

A série é centrada em Richie Finestra (Bobby Cannavale), um executivo de gravadora que está tentando salvar a sua gravadora, a American Century. A crise na gravadora afeta a todos de todas as formas, mas é nas costas de Richie que fica o fardo mais pesado. Ele precisa descobrir quais são as verdadeiras novas tendências musicais do início da década de 1970, ainda mais com o fim dos Beatles e um movimento de contra cultura claramente emergente. A necessidade do executivo era encontrar o novo na música, uma nova tendência que fosse realmente relevante para uma nova geração.

O que estava em maior evidência na época era o rock que sofria das influências dessa mesma contra cultura. Bandas como Led Zeppelin, Pink Floyd e Deep Purple já eram destaque no cenário musical, e a missão de Richie era fazer com que essas bandas trouxessem dinheiro para a sua gravadora. Não só no mercado norte-americano como em escala global. Porém, duas coisas atrapalham muito nosso protagonista: a sua própria vida desregrada, com elevado consumo de álcool e drogas, e as excentricidades dos artistas com quem ele se relaciona.

Também temos que destacar que a música negra, que já era muito rica 20 anos antes, está com maior força. Richie não pode ignorar isso, e busca também identificar junto aos locais onde o movimento musical negro existe como parte viva da comunidade para identificar e recrutar os talentos que nunca tiveram uma chance antes.

Para complicar ainda mais a vida de Richie, ele se envolve em um assassinato – também regado a álcool e drogas -, o que pode atrapalhar em definitivo a sua atividade profissional e os interesses de sua gravadora. Pode ser que o comportamento intempestivo e maluco do nosso executivo venha o cobrar de uma forma irreversível. Ou não. Vai que a sua competência em detectar novas tendências musicais podem ajudá-lo a se livrar da cadeia.

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Vinyl tem um piloto dirigido de forma excelente por Martin Scorsese, que também é produtor-executivo ao lado de Rich Cohen, Terence Winter e Mick Jagger. Talvez aqui temos a mais que explicada combinação perfeita de diferentes visões do mundo do entretenimento para produzir uma série que pode ser muito interessante na sua trama, apesar de sua narrativa arrastada. Aliás, fazer um filme de 1h54 para explicar toda a história do piloto é algo absolutamente desnecessário, até mesmo para uma série que investe pesado na riqueza dos detalhes.

Pode ser esse o único ponto negativo de Vinyl. Do mais, tudo está muito certo. A história é boa, os personagens centrais são bons, Bobby Cannavale convence muito bem no papel de executivo de gravadora meio maluco, e a ambientação da HBO é algo que inevitavelmente te atrai para a atmosfera da série. Você é tragado pelos anos 70 criado pelos caras, já que tudo ali foi pensado, planejado e executado para que em nenhum momento você tenha a impressão que aqueles acontecimentos ocorreram em outro tempo.

Nem preciso aqui me explicar muito sobre o teor da série. Sexo, drogas e rock and roll era o que tinha na época. Logo, espere isso de Vinyl. Não é uma série para todo mundo nesse aspecto, e a quantidade de palavrões no texto chega a ser um tanto quanto desnecessária. Mas nem isso consegue ofuscar os pontos positivos da série. Mas aqui é altamente recomendado não assistir a série ao lado da sua avó mais conservadora. A não ser que a sua avó tinha os seus 30 anos de idade na década de 1970 e hoje entende bem o que você vive quando canta aos berros uma música do Linkin Park. Aí, está valendo. 🙂

Vinyl é a prova cabal que a HBO assume mesmo para si o slogan “It’s not TV. It’s HBO”. Você não veria esse tipo de série em nenhum outro lugar. Quem sabe em um AMC ou Showtime da vida, mas até mesmo esses dois canais seguram bem a mão na hora de falar de temas ousados. Essa é a vantagem de ser um canal premium nos EUA: não existe censura para você contar a sua história. E não podemos deixar de aplaudir tal audácia.

Vamos torcer para que a série vingue. Foi renovada com apenas um episódio, mas teve uma audiência baixa na estreia. Será que a audiência da HBO não estava preparada para tudo o que viu no piloto?

Só o tempo vai dizer.


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@oEduardoMoreira