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Primeiras Impressões | The Leftovers (HBO, 2014)

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Confesso que eu não consigo entender o que se passa na cabeça do senhor Damon Lindelof, co-produtor executivo da estreante The Leftovers (HBO). Mesmo. E eu não sou burro. O citado senhor, em uma recente entrevista sobre a sua nova série, praticamente pediu para que a audiência se concentre nos personagens, e não nos mistérios. Ok… eu vi o piloto com isso em mente… apesar do CAMINHÃO de perguntas sem resposta que o piloto apresenta. Então…

O que acontece, Lindelof? Quer usar o mesmo truque duas vezes?

Sim, pois da última vez que ele falou algo semelhante, um monte de gente fez o que ele pediu, e muitos desse monte de gente se ferrou bonito! Não esqueço até hoje que ele e J.J. Abrams, na coletiva de apresentação de Lost (ABC) para a imprensa, afirmaram categoricamente que “o personagem principal da série é a ilha”. No final das contas, as pessoas eram o que mais importava, a ilha era uma rolha, e o final foi aquele negócio que vocês viram.

Em The Leftovers, o principal motivo para contar a história já é o primeiro mistério da mesma. Tudo no mundo ia muito bem nesse mundão véio sem fronteira, até que 2% da população mundial simplesmente desaparece do planeta Terra repentinamente, e sem maiores explicações.

Vai me dizer que você não quer saber como e por que isso aconteceu… certo?

Três anos depois, você tem uma seita religiosa, que acredita que esses desaparecidos vão voltar para a Terra (e voltam) com a missão de salvar o planeta de uma grande ameaça, a própria população da cidade de Mapleton, que ficou completamente modificada com esse evento sobrenatural, alguns personagens que mudaram suas vidas para sempre, e todas as suas motivações posteriores (óbvio) – com alguns deles quase surtando, e outros surtando mesmo -, e se não bastasse tudo isso, um velho que fica matando os cachorros da cidade. Que ele alega que não são da cidade.

Ora, Lindelof… se você não jogou um monte de perguntas a serem respondidas na Terra, eu sou o Bryan Cranston!

Tudo bem, eu entendo o que ele quer dizer. The Leftovers até levanta questões interessantes, como “a fé vs o ceticismo”, o que esse desaparecimento coletivo causou naqueles que ficaram, e como isso transtornou a vida de todos. O piloto deixa isso muito claro. Porém, já aí temos perguntas sem respostas, até mesmo para que exista uma história a ser contada. De nada adianta ver essas pessoas sofrendo ou se drogando e praticando felação uma nas outras (no caso dos jovens da cidade principalmente) se não entendermos como elas chegaram naquele ponto.

Nesse ponto, Lindelof já se traiu.

Independente disso… a seita religiosa, o maluco caçando cachorros, e o desaparecimento de 2% da população mundial… como ignorar isso, Lindelof? IMPOSSÍVEL!

Tenho que ser justo aqui. The Leftovers é assinada por Damon Lindelof e Tom Perrota na posição de produtores executivos principais. Porém, foi o co-criador de Lost que mais apareceu na mídia especializada para defender sua série. Que por sinal, tem a cara dele: o piloto se arrasta, com personagens pouco interessantes, e uma trama que apenas esboça o que aconteceu e como aquelas pessoas vivem. É evidente que muita gente ficou curiosa com os mistérios levantados pela série, e nem pode ser diferente, pois é o que sobra de interessante nessa história.

Particularmente, eu não vou cair nesse truque. Não estou aqui dizendo para você não assistir The Leftovers. Só estou deixando o aviso: Damon Lindelof está usando da mesma estratégia de desviar o foco para depois justificar os seus erros no desenvolvimento da trama. Tirar o foco agora para quando não conseguir amarrar as pontas soltas.

Quer seguir em frente com The Leftovers? Boa sorte. Você foi avisado.


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@oEduardoMoreira