A cerimônia do Oscar é sempre um momento de grande expectativa no mundo do cinema. E alguns dos momentos históricos da cerimônia são, no mínimo, controversos.
Um desses momentos aconteceu quando Marlon Brando recusou o prêmio de Melhor Ator por sua atuação em “O Poderoso Chefão” em 1973. A atitude em questão causou reações em atores consagrados em Hollywood na época, como John Wayne e Clint Eastwood.
Vale a pena resgatar a reação de Eastwood, pois foi ele quem teve que entregar o prêmio da categoria de Melhor Filme. E seus comentários quando “O Poderoso Chefão” venceu não foram nada gentis ou empáticos.
Entenda a polêmica
Na 45ª edição do Oscar, quando Roger Moore e Liv Ullmann anunciaram o nome de Brando como vencedor, quem subiu ao palco foi Sacheen Littlefeather, uma ativista indígena.
Ela explicou que Brando estava recusando o prêmio em protesto contra o tratamento dado aos povos nativos americanos na indústria cinematográfica e televisiva, além de mencionar eventos recentes como a ocupação de Wounded Knee.
Se você analisar os filmes norte-americanos com o mínimo de isenção e critério (principalmente aqueles que faziam parte do segmento western), os nativos norte-americanos sempre foram tratados de forma preconceituosa e até pejorativa.
Considerar os índios norte-americanos como “os grandes vilões” e glorificar o cowboy norte-americano tipicamente branco como “grande patrimônio nacional” fala muito mais sobre a cultura dos EUA do que qualquer outra coisa.
Esse discurso político inesperado deixou o público e a Academia de Hollywood perplexos na época. Apenas 50 anos depois, a AMPAS (Associação de Artes e Ciências Cinematográficas) publicou uma desculpa formal pelo tratamento recebido por Littlefeather após sua participação.
Aliás, a própria Littlefeather, antes de falecer, comentou o gesto da Academia, com um toque de senso de humor:
“Os indianos são pessoas muito pacientes, só se passaram 50 anos!”
A reação de Eastwood a tudo isso
A atitude de Brando e Littlefeather gerou muitas reações na cerimônia. Além de vaias, o ator John Wayne teria tentado agredir a ativista para retirá-la do palco, sendo contido pelos seguranças.
Já Clint Eastwood, ao entregar o prêmio de Melhor Filme para “O Poderoso Chefão”, fez um comentário que foi interpretado como racista.
“Não sei se devo apresentar este prêmio em nome de todos os cowboys que foram filmados nos westerns de John Ford ao longo dos anos.”
Sinceramente? Comentário extremamente infeliz.
Apesar das reações negativas na época, o gesto de Brando e Littlefeather abriu caminho para que as entregas de prêmios se tornassem um espaço de reivindicações sociopolíticas.
Hoje, é comum vermos discursos sobre temas como #MeToo, mudanças climáticas e conflitos geopolíticos durante a premiação.
Tudo isso nos faz lembrar que o cinema e a arte são intrinsecamente políticos, e que os artistas têm o poder de usar suas plataformas para promover causas importantes.
Aliás, John Wayne deve ter revirado no túmulo quando soube que povos originários participaram ativamente do Oscar 2024, incluindo a indicação de Lily Gladstone para Melhor Atriz por “Assassinos da Lua das Flores”.
Por outro lado… f*da-se, John Wayne. Ninguém se importa com você hoje.