Que Steve Jobs é um gênio, ninguém tem dúvida disso. Mas nem ele é perfeito, diferente do que muitos fãs da Apple imaginam ou idealizam até hoje.
Jobs teve os seus tropeços que, em alguns casos, resultaram em histórias curiosas para o mundo da tecnologia. Como essa, que ocorreu nos bastidores do desenvolvimento do logo da NeXT, empresa que Steve criou após ser expulso da Apple.
Neste caso, temos como protagonistas Steve Jobs, a NeXT, Paul Rand e um cheque de US$ 100.000. E os questionamentos sobre um logo que não convenceu logo de cara.
Como o logo da NeXT se tornou uma criação milionária
Do começo.
Em 1985, Steve Jobs foi forçado a deixar a Apple após uma disputa com o conselho da empresa. Então, ele fundou a NeXT, uma empresa de computadores de alto desempenho direcionada para o mercado educacional e científico.
Para criar o logo da nova empresa, Jobs contratou Paul Rand, um renomado designer gráfico, que cobrou US$ 100.000 pelo trabalho. E nem venha me dizer que o seu sobrinho consegue fazer isso de graça com o CorelDRAW.
O processo de criação desse logo foi tão meticuloso, que Rand produziu um livro de 100 páginas detalhando tudo. O desenvolvimento da imagem incluiu diversas opções e estudos, o que obviamente encareceu o processo.
Rand defendia que um logo ideal não precisa explicar a empresa, mas sim ser memorável e associável à marca. O logo da IBM, por exemplo, não sugere computadores, mas se tornou associado à empresa por causa de suas listras.
Palavras de Paul Rand:
“O ideal é que um logotipo explique ou sugira a empresa que simboliza, mas isso raramente é possível ou mesmo necessário. O símbolo da IBM, por exemplo, não sugere nada sobre computadores, exceto o que o espectador lê nele. As listras agora estão associadas a computadores porque as iniciais de uma grande empresa de computadores têm listras. O mesmo vale para o símbolo da ABC, que não sugere televisão. Os fatores mnemônicos de ambos os logotipos são dispositivos gráficos: listras e círculos. Neste exemplo, o e é o fator mnemônico.”
O próprio logo da Apple (a maçã mordida) não tem nada a ver com tecnologia, mas hoje é visto como um elemento icônico, que agrega valor a qualquer produto que o recebe.
Ou seja, o pensamento de Rand não está tão errado assim. Certo?
Certo, Steve Jobs?
O ceticismo de Jobs
Inicialmente, Jobs hesitou em aceitar o logo proposto por Rand, buscando outras opções. Mas o profissional em design teve a coragem de dizer NÃO para o temperamental executivo, insistindo que seu trabalho era a solução ideal.
O próprio Steve Jobs falou sobre o assunto em uma entrevista:
Perguntei se ele poderia pensar em alguma opção e ele disse: ‘Não, vou resolver o problema para você e você me paga. Você não precisa usar a solução. Se você quer opções, vá conversar com outras pessoas'”.
O logo da NeXT apresentou um cubo em perspectiva distorcida com a letra “N” em destaque, utilizando cores vibrantes e tipografia moderna. O design foi considerado ousado e rompedor para a época, mas relevante o suficiente para influenciar logotipos posteriores, como o do Google.
Apesar da inovação, o logo também recebeu críticas por seu preço elevado e por não envelhecer bem, não se adaptando às tendências minimalistas atuais.
O logo da NeXT, apesar do alto custo, não é o mais caro da história. O logo da BBC custou US$ 1,8 milhões e gerou reações mais positivas.
E dificilmente pensamos na importância de um logo como parte da memorização e impacto das marcas no coletivo. Porque, de forma burra, pensamos que esse elemento gráfico pode ser feito em 15 minutos, deixando os designers extremamente irritados com essa percepção.
Investir no design de um logo agrega valor para a sua marca, e a escolha de uma imagem eficiente exige sim uma consideração cuidadosa do profissional e diferentes perspectivas criativas.
E no caso de Steve Jobs, nada menos que US$ 100 mil de investimento.