Quando Max Emilian Verstappen nasceu em 1997, Michael Schumacher era bicampeão do mundo, pilotava uma Ferrari e se preparava para entregar de bandeja o vice-campeonato daquele ano para o medíocre do Heinz-Harald Frentzen, pois tentaria a trapaça de 1994 para cima de Jacques Villeneuve sem sucesso.
Seu pai, Jos Verstappen, era igualmente medíocre. Tanto, que foi o piloto titular do ano de morte da Tyrrell. E se Max olho para tudo isso, jamais pensou que poderia ser tetracampeão do mundo 27 anos depois.
Pois aconteceu. Em 24 de novembro de 2024, Max Verstappen conquista o seu quarto título mundial de Fórmula 1 em sequência, gravando seu nome de vez como um dos melhores da história da categoria.
Muito mais difícil do que o esperado
Não foi apenas a gordura que ele construiu nas 10 primeiras etapas do campeonato. Foi a competência em saber lidar com todos os problemas e adversidades que apareceram ao longo de 2024, dentro e fora das pistas.
O Hornergate, a disputa de poder entre Christian Horner e Helmut Marko, as saídas de Adrian Newey e Jonathan Weatley da Red Bull, as especulações sobre o seu futuro e até assédio online contra Kelly Piquet. Max Verstappen teve um ano fora das pistas que pode ser chamado de pesadelo. E sobreviveu a tudo isso.
E dentro das pistas, quando olhamos para trás, 2024 passa longe de ser o ano dominante que todos nós concebemos em nossa memória, até mesmo considerando tudo o que aconteceu até o GP da Espanha.
Max Verstappen conquistou sim sete vitórias em 10 corridas. Mas no meio do caminho, ele teve um abandono, um indício claro de que a McLaren estava evoluindo com muita força na vitória de Lando Norris em Miami, e até mesmo a Ferrari esboçando ser uma ameaça com o triunfo de Charles Leclerc em Mônaco.
Para todos nós, que nos acostumamos a ver Verstappen como o piloto dominante, o campeonato de 2024 nos entregou mais entretenimento do que o esperado.
E depois do GP da Espanha, todo mundo sabe o que aconteceu: Verstappen só foi vencer de novo no épico GP de São Paulo, e só subiu ao pódio até lá em quatro oportunidades.
Porém, foi um ano em que Verstappen mostrou maturidade, cabeça no lugar e experiência para superar todas as adversidades.
Campeão de 2024, com toda a justiça
Deixando de lado a incompetência de Lando Norris (que não conseguiu capitalizar em função do carro melhor que tinha nas mãos), Max Verstappen soube administrar a situação, conquistando resultados que foram vitais para o quarto título.
E não falo apenas dos quatro pódios conquistados antes do GP de São Paulo. Falo de sua capacidade em trabalhar em função do que construiu nas primeiras 10 corridas.
Ao constatar que não tinha mais o melhor carro, Max ou trabalhou para superar Norris de alguma forma, ou correu para que o piloto inglês descontasse a menor distância de pontos possível, reduzindo o prejuízo ao máximo possível.
Dessa forma, duas idas ao pódio de Max foram na segunda posição, atrás de Norris. E em outras duas oportunidades, participar da cerimônia de premiação significou superar o adversário na McLaren.
De forma surpreendente, Max Verstappen fez MAIS PONTOS que Lando Norris do GP da Espanha em diante, mesmo sem ter o melhor carro em mãos. Aliás, contando com o terceiro melhor carro da categoria neste momento, já que a Ferrari superou a Red Bull no campeonato de construtores.
Se em 2021 a batalha épica com Lewis Hamilton deixou dúvidas se Max terminou com um carro inferior ao da Mercedes, e se em 2022 e 2023 ele venceu com o pé nas costas porque tinha o melhor carro, o ano de 2024 serve como prova cabal de que estamos diante de um dos melhores da história, pois nem de longe Verstappen teve o melhor carro da categoria ao longo da temporada.
Aliás, a diferença absurda entre Verstappen e Sergio Pérez é a prova contundente de como ele é capaz de fazer a diferença com seu talento, habilidade e visão estratégica. Ele é diferenciado em vários níveis.
Max Verstappen é o melhor piloto da Fórmula 1 na atualidade, e um dos melhores de todos os tempos. E o campeonato de 2024 nos dá a certeza disso, de forma definitiva.
É claro que a discussão se ele é o melhor da história continua. Particularmente, não vejo dessa forma. Ele não é nem mesmo o melhor tetracampeão da Fórmula 1, tanto nos aspectos estatísticos como nos fatos históricos apresentados.
Mas neste momento em que testemunhamos a história sendo escrita nas ruas de Las Vegas, o que melhor podemos fazer é reverenciar o novo tetracampeão mundial.
O que mais me deixa feliz nessa conquista é que dessa vez Max Verstappen teve que mostrar o seu melhor em pista, tal e como precisou fazer em 2021 para superar Hamilton.
Tudo bem, Lando Norris não chega perto de ter o talento e a capacidade de dirigibilidade do seu compatriota heptacampeão mundial. Mas foi o suficiente para que Max Verstappen se forçasse um pouco mais para mostrar o máximo de seu talento.
Incluindo aquela que, na minha opinião, é a melhor performance de sua carreira: o épico GP de São Paulo, em uma das melhores performances de um piloto na história da Fórmula 1.
Ele faz a diferença como piloto, e disso, não resta a menor dúvida.
Logo, o título da Fórmula 1 está em ótimas mãos, em um campeonato que não esperávamos absolutamente nada no começo (exceto a dominância da Red Bull), mas que fomos surpreendidos com (pasmem) a temporada com o maior número de vencedores diferentes com mais de uma vitória na história da categoria, e isso não é pouca coisa.
Foi ótimo testemunhar tudo o que aconteceu em 2024. E ver Max Verstappen conquistando o campeonato dessa forma é extremamente contemplativo e recompensador.
Viva Las Vegas.
Viva Max Verstappen, tetracampeão mundial de Fórmula 1.