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[Resenhas] Parenthood mostra que nem todo drama familiar é “dramático”

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Vai ter um tempo em que a maioria das pessoas que consomem o conteúdo do Spin-Off vão parar e pensar: “a família é a coisa mais importante que nós temos”. Hoje, ainda estão mais preocupados em saber qual é a próxima onda da internet, qual o próximo clipe da Lady Gaga ou qual é o próximo tema do Nerdcast. E, por causa desses motivos, vão sempre achar que pai e mãe só existem para atrapalhar sua vida, que tios são aquele estorvo pra fazer você passar vergonha, e que seus irmãos são mais odiados que Bin Laden. Ok, estão com uma certa dose de razão. E não estão com a razão também. E Parenthood mostra isso.

Parenthood (NBC/LIV) é uma das apostas do canal que, nos últimos anos, foi duramente criticado pelas suas escolhas em algumas séries (vide Heroes, caros amigos), e dessa vez, eles investiram seus esforços em um segmento que vem se tornando cada vez mais frequente nas séries norte-americanas: os relacionamentos humanos. Cada vez mais a TV quer que as pessoas se enxerguem nas situações apresentadas na tela, e a série de Jason Katims (de Boston Public, My So-Called Life e Friday Night Lights) consegue fazer isso de forma simples, sem ser cansativa ao público. Pra começar, a série tem como mérito contar com um elenco de qualidade mais do que comprovada. Contar com nomes como Peter Krause, Lauren Graham, Monica Potter, Bonnie Bedelia e Craig T. Nelson garante boas interpretações e personagens convincentes. Até mesmo o elenco infanto/juvenil da série consegue dar conta do recado, com cada personagem tendo seu traço de personalidade, sem ter o “adolescente chato demais” ou a “criança problema demais”.

Outro grande mérito de Parenthood foi não centrar a história em apenas um grande drama, e nem fazer deste problema o fim do mundo para uma dessas famílias. Para ser mais claro: o fato de ter um filho com Síndrome de Asperger não é o fim do mundo. Afinal, sua irmã tem uma filha que adora fazer papel de subserviente na escola infantil, um irmão que vive em um barco e descobre ter um filho de 5 anos de idade, e sua irmã, que acaba de chegar de outra cidade, tentando reconstruir sua vida, com uma filha que não consegue se ajustar à nova vida de cidade do interior. Resumindo: merdas acontecem na vida de todo mundo. E em toda família.

Não existem heróis nem vilões em Parenthood. E o mais legal: não existe personagem perfeito na série, tal como em nossa família. Os problemas da série podem acontecer com qualquer família, em qualquer lugar do mundo. Não são poucos os casos de casamentos de longa duração desmoronarem depois de 40 anos de convivência, porque uma das partes se sente anulada depois de tanto tempo de relação. É comum um casal que, quando chega na faixa dos 40 anos de idade, tem o seu interesse sexual seriamente diminuído, pois trabalho, filhos e atividades domésticas são coisas que tomam muito mais tempo do que se imagina. Prima roubar namorado de prima, irmão que “vive 2 horas no banheiro”, esposa que não vai muito com a cara da irmã do marido… isso tudo acontece em qualquer família. E é igual em Parenthood.

Aí você me pergunta: “qual é a grande diferença, então? Por que assistir esta série? Não seria mais fácil eu prestar atenção na parentada no encontro da macarronada na casa da avó no domingo?”. Ok, vou te explicar.

A grande diferença de Parenthood para, por exemplo, Brothers & Sisters, é que em Parenthood tudo se apresenta de forma descomplicada. Ninguém tem tempo pra sofrer demais com os seus dramas, porque quando olham para o lado, vê que seu irmão ou sua sobrinha estão com problemas muito maiores. Logo, precisam se recompor, se levantar e se colocar à disposição para ajudar. Em Parenthood, as diferentes personalidades se completam de forma harmoniosa, criando um equilíbrio que faz com que, mesmo uma família imperfeita como os Braverman são na tela, possa ser uma família completa, e que a cada acontecimento, eles redescubram a importância de estarem juntos. Porque família é isso. Toda família é dessa maneira. Além disso, a série apresenta uma variância entre momentos cômicos e mais sérios sem ser caricata, sem cair no “cretino”, como outras séries caem, e de forma bem natural, sem cansar.

Eu escrevo este post após o término da temporada de apenas 13 episódios. Termino com a certeza que é a melhor série dramática da NBC, de longe. E termino com a convicção de que foi um saboroso produto televisivo. Se muita gente se apaixonou pela família Prickett (de Modern Family), vai também gostar muito de acompanhar a saga dos Braverman, na difícil missão de “viver e se manter vivo”.

Parenthood cumpre de forma exemplar o seu papel: leva entretenimento, emociona, leva a reflexão, e faz algo mais. Para quem já  está nesta fase de “estar criando sua própria família” (como é o meu caso), sabe o quanto que, por muitas vezes, a ausência de irmãos, pai e mãe faz em alguns momentos. E o quanto é acolhedor o momento de re-encontro, seja para um momento de auxílio, ou para um simples reunião festiva. E, nestes 13 episódios, a série fez o papel do encontro de família, de forma acolhedora. É como a visita dos pais que não vemos a muito tempo, ou que não estão mais presentes para nos abraçar e nos orientar. E isso se torna bem evidente na letra de “Forever Young”, música de Bob Dylan que é executada na abertura de cada episódio, que diz:

“Que Deus te abençoe, e te acompanhe sempre; Que seus desejos se tornem realidade; Que você sempre faça para os outros, e deixe que os outros façam por você; Que você construa uma escada para as estrelas, e que suba cada degrau; E que você, fique jovem para sempre”.

E, no fundo, é isso que nossos pais sempre nos desejam.


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@oEduardoMoreira