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‘Ilhados com a Sogra’, ou o que você ama odiar e odeia amar em um reality delicioso

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O mais puro suco do entretenimento.

Dizer que a mensalidade da Netflix está tão cara quanto um quilo de carne de primeira no supermercado deixou de ser notícia há muito tempo. É o lugar comum, e aceita pagar essa pequena fortuna quem quer. Ou quem tem família grande em casa.

Mas se eu tive a capacidade de sair do conforto do meu sofá para escrever algumas linhas sobre o delicioso ‘Ilhados com a Sogra’, é porque pagar R$ 18,90 no capado plano básico com publicidade finalmente serviu de alguma coisa.

E a Netflix nem está me pagando para falar bem dela dessa vez. E nem precisa. Compartilho esse serviço de utilidade pública de graça dessa vez.

 

Dormindo com o inimigo (ou o aliado)

‘Ilhados com a Sogra’ é o reality competition da Netflix que a internet adotou nesse segundo semestre. Sei que estou assistindo ao programa depois do hype, mas confesso que tenho uma certa preguiça de seguir o amor coletivo para produções televisivas. Se algo bomba demais, eu automaticamente crio uma resistência ao programa.

Mas neste caso, fui movido mesmo pela curiosidade mórbida em testemunhar um experimento antropológico televisivo que é singular em todo o planeta. Mesmo porque esse programa não só é uma produção original da Netflix como é uma criação brasileira, que pode muito bem ser exportado para todo o planeta com muita facilidade.

‘Ilhados com a Sogra’ já começa uma delícia quando decide fazer dos casais participantes um bando de otários. Todo mundo pensando que iria para uma ilha paradisíaca para testar seus relacionamentos, mas na prática vão descobrir se vale a pena manter essas relações para conviver com pessoas que não contam com filtros morais para demonstrar suas diferenças com genros e noras.

E é isso o que torna esse reality simplesmente maravilhoso: não dá para contar com filtros morais das sogras que estão vivendo em uma situação absurdamente caótica e expositiva. Depois de uma certa idade, as pessoas não mudam e vão se dar ao direito de dizer o que pensam e sentem sem rodeios, acreditando que estão certas porque chegaram nesse mundo antes e, com todo o respeito do termo, estão se fodendo a mais tempo.

Com uma Fernanda Souza que sabe muito bem fazer o papel de menina má ou adicionadora de nitroglicerina em relações prestes a explodir, temos um programa que é tão envolvente, que você começa a identificar com facilidade heróis e vilões dentro da narrativa.

E, instintivamente, começa a se colocar de joelhos diante do televisor, agradecendo à Deus (ou a qualquer outra força superior) pelo simples fato de não ter uma sogra na vida.

 

Por que você deve prestar atenção em ‘Ilhados com a Sogra’?

Não pense que esse é mais um reality fútil, onde as pessoas estão aglomeradas em condições inóspitas só para que elas fiquem quebrando o pau o tempo todo. ‘Ilhados com a Sogra’ vai além disso.

O casting realizado pela Netflix foi muito bem-feito, pois diferentes perfis foram estrategicamente pinçados para que a dinâmica de personagens acontecesse. Tem a dupla manipuladora, a sogra que não deixa a nora falar, o genro que acha que a sogra é uma estúpida, as sogras que tentam se conciliar com as noras em nome do filho…

E a dupla entre sogra e nora que acaba se voltando contra o filho, pois descobrem que ele é o manipulador covarde que mente para as duas só para que ele não entre em conflito com ninguém.

No meio de tudo isso, o programa coloca terapeutas para que os dois lados se abram dentro daquela convivência, provas que trabalham a dinâmica de comunicação e as diferenças entre eles, e outros elementos da própria estrutura do programa que resultam em uma exposição evidente das diferenças de temperamento e personalidade.

Mais do que isso: ‘Ilhados com a Sogra’ escancara as diferenças entre as gerações nos costumes e nas visões de mundo, algo que é camuflado ou tolerado dentro das famílias, mas que em um cenário onde aquela pessoa que tenta ser o ponto de equilíbrio entre os lados opostos não está presente, todas essas diferenças e animosidades transbordam com enorme facilidade.

Em alguns casos, as verdades ditas de lado a lado são bem duras, com requintes de crueldade e até mesmo o peso do ódio no tom de voz. E você pode até questionar se isso e válido no entretenimento televisivo. Mas não podemos dizer que é teatro ou ficção.

Afinal de contas, é um reality competition, e não uma novela do Manoel Carlos. Certo?

 

Vale a pena?

Vou repetir: eu saí do conforto do meu sofá para escrever um artigo com mais de 700 palavras sobre ‘Ilhados com a Sogra’. O que você acha?

O reality vale muito a pena. Para quem só quer se divertir, é o puro suco do entretenimento. Se bem que é bem provável que você se envolva o suficiente para passar raiva com alguns genros e sogras no programa.

Para aquelas pessoas que conseguirem enxergar um pouco mais que as brigas e as dinâmicas conflituosas, vão constatar (ou melhor reforçar a ideia) que esse relacionamento entre genro/nora e sogra é, por si, naturalmente difícil. O amor pode ser algo egoísta e possessivo em alguns casos, e muitos não querem dividir o grande amor de sua vida com ninguém.

Mas quem sabe se você puder identificar quais são os reais e profundos motivos que causam essa divisão entre dois seres que amam a mesma pessoa como ponto comum, e você consegue tirar algumas coisas muito positivas de ‘Ilhados com a Sogra’.

Compreender que visões de mundo são muito diferentes entre as gerações, que pessoas foram criadas com costumes e tradições completamente opostas na maioria dos casos, e que se calar diante de certas coisas é algo muito difícil pode ajudar a melhorar uma relação complexa e conflituosa. E acredito que genros/noras e sogras podem aprender a lidar melhor com esses aspectos ao assistir esse reality.

E até os filhos devem aprender alguma coisa aqui, pois omissão e imparcialidade não funcionam quando o cenário emocional pende para a verborragia e o extremismo. Não é preciso escolher um lado ou dar razão para alguém. Pode simplesmente usar da sinceridade, por mais dura que seja.

Eu recomendo que você veja ‘Ilhados com a Sogra’ comendo pipoca. É simplesmente excelente. Vale cada centavo dos R$ 18,90 do plano básico com publicidade da Netflix.

E isso aqui tem que ter uma segunda temporada. Para ontem.


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@oEduardoMoreira