Não são apenas os fãs de videogames retrô que usam a tecnologia do passado todos os dias. Sim, eu sei que os retrogamers o fazem em nome da nostalgia e satisfação pessoal. Porém, um grupo específico de profissionais estão usando computadores e softwares do passado para ganhar dinheiro.
E digo mais: são grandes nomes de Hollywood que abraçaram essa inteligente tática, tudo para garantir que o entretenimento que vai chegar aos cinemas ou nas salas de casa da audiência seja entregue da melhor forma possível.
Eles mesmos: os roteiristas. Eles estão usando tecnologia velha e desconectada para escrever as histórias que assistimos no cinema e na TV.
É bem mais seguro
Eu poderia usar o caso de George R.R. Martin, escritor dos livros da saga Game of Thrones, que usa um software de edição de textos jurássico, o WordStar (que eu utilizei no começo da minha vida informática). Mas já escrevi sobre isso.
Vou citar o exemplo de Eric Roth, roteirista de ‘Duna’, que mantém uma prática peculiar e segura de trabalho ao utilizar o Movie Master, um software com mais de 30 anos rodando em MS-DOS.
Eric alega que o uso desse software reduz a chance de ataques cibernéticos e vazamentos. E ele não está totalmente errado: é uma das formas mais eficientes para evitar os problemas típicos da era conectada.
Ao escrever em um sistema MS-DOS, o roteirista impede que seu trabalho seja acessado digitalmente, protegendo o material contra hackers. Como o software não se conecta à internet e limita os arquivos a 40 páginas, a estrutura dos roteiros fica mais segura.
Roth imprime cada roteiro para levá-lo ao estúdio, onde a equipe digitaliza o conteúdo para uma distribuição posterior para o elenco e time de produção. Ele não envia os arquivos por e-mail, impossibilitando qualquer tentativa de roubo digital direto, segundo explica em um vídeo no YouTube.
Roth menciona que a escolha pelo Movie Master é, em parte, uma superstição. Por outro lado (e esse é mais um argumento a favor do uso da tecnologia antiga em sua atividade profissional), uma maneira de evitar distrações modernas como redes sociais e notificações constantes, que poderiam prejudicar o foco durante o processo criativo.
O outro lado da moeda
Existe um fato curioso que precisa ser observado: há um ano, um grupo investiu 2,6 milhões de dólares, acreditando fielmente comprado os direitos de ‘Duna’ ao adquirir um livro.
O episódio mostra como as pessoas e até mesmo a própria indústria está suscetível aos golpes online, o que reforça ainda mais os motivos para que Roth tome o máximo de cuidado com o mundo online.
Roth ainda utiliza o Windows XP para iniciar o Movie Master, um sistema operacional que até consegue se conectar na internet, mas que o roteirista prefere manter totalmente offline e resguardado.
Ele acredita que, ao manter o trabalho isolado e analógico, garante uma camada extra de segurança para seus roteiros.
Sem falar que ele não consegue mais atualizar o Windows XP, e se ele conectar esse computador na internet, ele ficará infectado mais rápido do que um piscar de olhos.
O ambiente minimalista do Movie Master ajuda Roth em manter o foco no processo criativo, colocando a narrativa como protagonista da tarefa.
E se funciona para ele, quem somos nós para julgar?