O Oscar sempre foi palco de discursos emocionantes e memoráveis. Falas inspiradoras, protestos e desabafos foram expressos diante da audiência global. Mas poucos esperavam ou estavam preparados para o que Adrien Brody fez no último domingo (2).
Brody fez questão de transformar sua vitória como Melhor Ator em “O Brutalista” em um momento histórico. Com um discurso que superou o tempo limite e bateu o recorde de duração da premiação, ele aproveitou cada segundo para compartilhar sua visão sobre arte, sociedade e os problemas do mundo atual.
O público assistiu, entre perplexo e fascinado, enquanto Brody segurava firmemente o microfone e ignorava qualquer tentativa de interrupção. E olhando para o contexto aplicado, talvez até eu entenda que ele teve os seus motivos para fazer o que fez.
A vida para Adrien Brody não foi nada fácil…
A trajetória de Adrien Brody em Hollywood é marcada por altos e baixos, e esse Oscar representa uma redenção em sua carreira. Após anos de papéis irregulares e períodos longe dos holofotes, sua interpretação em “O Brutalista” o trouxe de volta ao topo.
Seu discurso como vencedor em Melhor Ator foi um testemunho de quem sobreviveu às oscilações da indústria e entendeu o valor de cada oportunidade. E ele fez questão de que todos ali compreendessem isso também.
Quando a orquestra tentou encurtar sua fala, Brody reagiu com firmeza: aquele era seu momento, e ele não deixaria passar em branco.
Mas o que exatamente fez desse discurso algo tão marcante? Foi apenas a duração, ou havia algo mais?
Ao longo dos longos 5 minutos e 40 segundos de fala, Brody abordou temas como preconceito, guerra e a efemeridade do sucesso. Seu discurso, longe de ser apenas uma longa lista de agradecimentos, se transformou em uma declaração de princípios.
Com isso, ele entrou para a história não apenas como o vencedor de um segundo Oscar, mas como alguém que soube usar sua voz quando teve a chance.
Ah, sim, claro… ia me esquecendo… e por quebrar um recorde no Oscar que perdurava há mais de 70 ano.
A quebra do recorde
Desde 1943, o recorde de discurso mais longo do Oscar pertencia a Greer Garson, que levou cinco minutos e 30 segundos para agradecer por sua vitória em “Sra. Miniver”. Naquele tempo, não havia um limite estrito de fala, e os vencedores podiam se estender o quanto quisessem.
Com o passar dos anos, a Academia estabeleceu regras mais rígidas, tentando manter o evento ágil e dentro do tempo planejado. Até porque o evento estava ficando cada vez maior na sua visibilidade, e uma vez que a premiação foi para a televisão, o “fale o quanto você quiser” era algo simplesmente inconcebível para o formato “tempo é dinheiro”.
O tempo máximo de fala foi reduzido para apenas 45 segundos, e, caso ultrapassado, a música começava a tocar, sinalizando o fim do tempo.
Muitos se conformaram com essa limitação, mas Brody decidiu que sua voz valia mais do que a etiqueta da premiação.
O ator mergulhou em reflexões profundas sobre sua carreira e a responsabilidade dos artistas. “Não é a minha primeira vez”, declarou ele, relembrando sua vitória anterior por “O Pianista” em 2003.
Seu discurso não foi apenas sobre si mesmo, mas sobre como o cinema pode ser um espelho da sociedade. Ele mencionou os problems enfrentados por minorias, os efeitos destrutivos do ódio e a necessidade de um mundo mais inclusivo.
Foi um discurso inesperado e, ao mesmo tempo, impossível de ignorar.
A plateia dividiu-se entre a admiração e o desconforto. Alguns aplaudiam suas palavras, enquanto outros trocavam olhares impacientes, esperando que a orquestra voltasse a tocar e o obrigasse a encerrar.
Mas Brody permaneceu firme, desafiando qualquer tentativa de encurtar seu tempo. Quando a música começou, ele fez um gesto claro: “Desliguem isso.”
A ousadia do ator um evento tão rigorosamente programado se tornou, por si só, um espetáculo.
Arte, política e o poder do palco
Um Oscar não é apenas uma premiação para celebrar a sétima arte. Faz tempo que esse evento se transformou em uma plataforma para levantar discussões e despertar reflexões. E Adrien Brody usou essa plataforma para discutir temas urgentes.
Em meio a agradecimentos e reflexões pessoais, ele abordou o antissemitismo, o racismo e as repercussões da guerra. “O passado nos ensina uma lição clara: o ódio não pode passar despercebido”, afirmou, com um tom mais sério. Foi uma espécie de convocação, lembrando a todos que a arte tem um papel essencial na construção de um mundo mais empático.
O impacto do discurso de Brody foi imediato. Nas redes sociais, espectadores debatiam se um momento como aquele deveria ser permitido ou se Brody havia ultrapassado os limites do aceitável.
Alguns o aplaudiram por usar sua voz em uma plataforma global, enquanto outros questionaram se o Oscar era o local adequado para discursos políticos. Mas, independentemente da opinião de cada um, ninguém pôde negar: ele havia conseguido o que queria.
O cinema sempre esteve entrelaçado com debates sociais, e a fala de Brody reforçou essa conexão. Em uma indústria que muitas vezes silencia vozes dissidentes, ele fez questão de se fazer ouvir.
Suas palavras podem ter gerado incômodo, mas também trouxeram à tona discussões que muitos evitam. E isso, por si só, já foi uma vitória.
A redenção de Brody
A carreira de Adrien Brody nunca seguiu um caminho linear, apesar de todas as expectativas que foram criadas em torno do seu nome.
Após seu primeiro Oscar, ele viu sua fama desvanecer aos poucos, com projetos que não decolaram e uma presença cada vez mais discreta em Hollywood. Filmes como “The Singing Detective” e “Manolete” não tiveram o impacto esperado, e o ator passou anos à margem da indústria.
Algumas poucas aparições notáveis, como em “Meia-Noite em Paris” e “Crônica Francesa”, mostravam lampejos de seu talento, mas nada que realmente o colocasse de volta no topo.
Com “O Brutalista”, tudo mudou.
Sua interpretação do arquiteto judeu-húngaro László Tóth rendeu aclamação da crítica e o levou novamente ao Oscar.
Para Brody, essa vitória foi uma reafirmação de que ainda tinha muito a oferecer. E o longo discurso foi uma extensão desse sentimento e, ao mesmo tempo, um recado claro para Hollywood: “não estou pronto para desaparecer novamente”.
Ele sabia que aquela noite representava sua segunda chance, e ele aproveitou cada segundo.
Hollywood é uma indústria que se alimenta de reinvenções, e poucos conseguiram fazer isso tão bem quanto Adrien Brody em 2024. Quem sabe apenas Demi Moore fez algo tão ou mais emblemático no comeback de carreira, mas não levou para casa o Oscar de Melhor Atriz (infelizmente).
De qualquer forma, Brody saiu de um nome quase esquecido para vencedor do Oscar de 2025, em um novo capítulo de sua trajetória.
Parabéns para ele.
Mas que o discurso foi longo demais, não resta a menor dúvida.
Via TVLine