A Sony está prestes a adquirir o catálogo musical da banda Queen por 1.200 milhões de dólares. Esta transação inclui os direitos dos masters dos discos, receitas de streaming e benefícios derivados da exploração da trilha sonora do filme “Bohemian Rhapsody”.
Se concretizada a negociação, essa será a maior quantia já paga por um catálogo musical, superando o recorde anterior da própria Sony. A negociação ainda está em andamento, e aguarda a confirmação oficial dos membros do Queen e dos herdeiros de Freddie Mercury.
Faz tempo que digo e afirmo que a nostalgia é algo muito rentável para a indústria do entretenimento. Mas isso aqui que a Sony está fazendo pode ser uma enorme quebra de paradigma para o mercado fonográfico e, principalmente, para os artistas de nova geração.
O impacto econômico da música do passado no presente
A Sony tem um histórico robusto de aquisições de catálogos musicais, incluindo artistas lendários como Michael Jackson, Bob Dylan e Bruce Springsteen. É um catálogo muito consistente, em uma estratégia clara por parte da gravadora: valorizar músicas icônicas e manter a sua exploração comercial contínua.
Clássicos do passado podem ser máquinas de dinheiro infinito, por mais que todos estejam de saco cheio em ouvir “We Are The Champions” na cerimônia de premiação na final da UEFA Champions League.
Mas após o lançamento do filme “Bohemian Rhapsody” em 2018, os ganhos do catálogo da banda Queen aumentaram significativamente, já que o filme foi um sucesso global e campeão do Oscar de Melhor Filme.
Em 2016, os lucros anuais da banda eram de 12,34 milhões de libras esterlinas, subindo para 77,77 milhões de libras no ano seguinte ao lançamento do filme. O que prova que todo mundo gostou de “Bohemian Rhapsody” a ponto de comprar os discos e ouvir mias as músicas nas playlists das plataformas digitais.
E não é só o Queen que se beneficiou da nostalgia para lucrar em cima de sua obra musical
A tendência de valorização do clássico
Nos últimos anos, houve uma crescente tendência de venda de direitos de catálogos musicais, impulsionada pela valorização nostálgica e pelo potencial de uso comercial em diversas mídias.
Artistas como Neil Young e Bob Dylan, que anteriormente eram reticentes a vender seus direitos, também cederam e passaram a comercializar suas músicas. Mesmo porque todo mundo gosta de dinheiro neste mundo.
A Sony está empenhada em adquirir catálogos de artistas clássicos, muitos dos quais já faleceram ou estão sem produzir novos materiais. Exemplos incluem Michael Jackson, Bruce Springsteen e David Bowie, apenas para citar alguns dos nomes mais badalados.
Outros artistas cujos catálogos foram adquiridos recentemente incluem Kiss e Phil Collins, onde valores e volume de músicas podem variar de acordo com as condições de cada músico ou características de seus respectivos acervos.
E não podemos negar que esses e vários outros artistas contam com um valor que é considerado inestimável e duradouro, sustentados pelo sucesso consolidado ao longo dos anos, pela nostalgia e constante relevância cultural de suas obras.
Não são poucos os jovens que estão buscando as músicas do passado para conhecer algumas das referências dos artistas que eles ouvem no presente. E é dessa forma que a indústria fonográfica está se reinventando (ou pelo menos tentando).
As exceções
A ideia da Sony em capitalizar em cima de catálogos de artistas que estão inativos encontra algumas exceções bem interessantes.
Por exemplo, a aquisição do catálogo de Kevin Parker, do Tame Impala. Ele continua a produzir novas músicas, o que mostra uma tentativa da Sony em investir nos músicos contemporâneos que ainda podem expandir o seu público com canções inéditas.
E tudo isso está acontecendo porque o streaming mudou a indústria musical como um todo. As carreiras dos novos astros estão se tornando cada vez mais efêmeras, e os artistas clássicos seguem dominando o cenário, alcançando lucros surpreendentes pelos seus catálogos.
Não só isso: vários desses veteranos podem até não gravar novos discos… e nem precisam, pois podem pegar a estrada e lucrar com shows que, em sua maioria, estão lotados. Porque as pessoas querem ver esses astros e ouvir as músicas que fazem parte da trilha sonora de suas respectivas histórias.
De um modo geral, os grandes valores em investimentos nos catálogos musicais estão em artistas que ou estão aposentados, ou falecidos ou apenas em turnês. Apenas uma grande exceção que está produzindo novas canções neste momento:
- KISS: US$ 300 milhões, só turnê
- Enrique Iglesias: Valor não revelado de nove dígitos, apenas turnês
- Cyndi Lauper: Quantidade não revelada, só turnês (quase não grava novas músicas)
- Rod Stewart: US$ 100 milhões, apenas turnês
- Cher: Quantidade não revelada, apenas turnês
- Dr. Dre: US$ 200 milhões, sem gravação ou turnê (mais focado na produção musical)
- Phil Collins, Gênesis: US$ 300 milhões, aposentado
- Sting: US$ 300 milhões, somente turnês
- David Bowie: US$ 250 milhões, falecido
Todo esse movimento da Sony em investir nos clássicos até tem um certo ar de “resposta” para artistas como Taylor Swift, que normalmente endurecem o jogo para as gravadoras ao assumir o controle criativo e operacional de suas obras.
Faz tempo que a indústria fonográfica procurava uma alternativa para o império que Taylor construiu em torno de si mesma. E parece que essas mesmas gravadoras que sempre controlaram o mercado com mãos de ferro encontraram uma solução minimamente eficiente.