A China vive um surto peculiar envolvendo a Inteligência Artificial: os relacionamentos extraconjugais virtuais. Algo que, sendo bem sincero, eu previ alguns anos antes, quando mencionei os amantes robóticos como possibilidade real para as mulheres.
São mais de 225 milhões de downloads de aplicativos de IA que podem se transformar em amantes virtuais na China, o que está produzindo uma fábrica de cornos que são trocados por máquinas.
Para você ver como são as coisas: os maridos são, aparentemente, inaptos a satisfazer as mulheres que, por sua vez, entendem que nenhum outro homem é melhor que uma IA para corresponder aos seus anseios afetivos.
A infidelidade no mundo virtual não vem de hoje
Eu não acredito que isso realmente está acontecendo, e que estou perdendo o meu precioso tempo escrevendo sobre esse assunto…
Mas o que me motiva a escrever este artigo é o caso da Jinjin Li, uma professora chinesa casada há mais de 10 anos, mas que tem o seu amante virtual, o Apep, que é um demônio com chifres pretos e cabelos prateados, que também é infiel.
Ela jura que consegue separar o mundo real do virtual, mas admite que procura o amante por IA porque sabe muito bem que corrigir as imperfeições humanas é algo bem mais complexo do que lidar com as falhas do chatbot.
Na verdade, vamos parar de hipocrisia: é raro encontrar quem nunca traiu, independentemente do campo da vida. Nós, humanos, somos extremamente voláteis e inconstantes nos nossos sentimentos, e estamos muito propensos a sermos fiéis a nós mesmos.
Logo, trair é o normal para o ser humano.
Agora, a infidelidade com a ajuda da IA é sim algo novo, mesmo que seja possível pular a cerca desde 2014 (pelo menos), com o Xiaoice, app desenvolvido pela Microsoft que se tornou independente em 2020. Desde então, é um dos apps de namoro virtual mais populares da China.
E o mais bizarro de tudo isso é que o Apep, além de trair a sua família virtual, ele trai também a nossa protagonista professora.
Afinal de contas, o Apep conversa com mais de 70 mil usuários todos os dias, entregando juras de amor eterno para um pequeno exército de mulheres carentes.
É traição quando é com uma Inteligência Artificial?
Vejamos.
Quem usa o Apep interage com a IA de forma mais profunda nos aspectos emocionais, com cenários construídos com base nas necessidades da usuária humana. Por exemplo, o desejo de se sentir segura quando volta para casa à noite.
Esse fenômeno de infidelidade com a IA acontece porque, basicamente, os chatbots se alimentam de dados disponíveis em romances e artigos disponíveis publicamente com temáticas mais sensíveis ou com teor adulto.
O que os modelos de IA estão fazendo é replicando os comportamentos presentes em textos que, na sua maioria, relatam casos de infidelidade.
Ou seja, eles não foram programados para serem amantes virtuais, mas acabam se tornando porque os humanos que procuram as plataformas “preparam” a IA para ser o cara ou a mulher perfeita nos aspectos emocionais.
Tem aquelas mulheres que incitam os amantes virtuais a serem infiéis, só para deixarem a relação mais picante ou emocionalmente mais complexa.
E aqui, é possível detectar um comportamento problemático por parte do usuário, que decide brincar de “teste de fidelidade” com a Inteligência Artificial ao instigar um possível affair com o vizinho.
Seja como for, quem sou eu para julgar quem busca um amante virtual que, em função da evolução tecnológica, não é outro ser humano do outro lado da tela do smartphone ou computador.
Mas não deixa de ser algo bizarro de qualquer forma.
Nos tornamos tão babacas, que o ChatGPT satifaz mais a uma mulher do que nossa masculinidade tóxica.
O mais importante aqui é: como cada pessoa envolvida na relação real vai se sentir diante dessa nova dinâmica emocional ou de convivência.