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A carta para o meu EU com 15 anos de idade (sem spoilers do meu futuro)

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Caro eu,

 

Você vai receber essa carta quando completar 15 anos de idade, o que significa que eu cheguei aos 45 anos. E por estar na metade da minha vida, entendo que você tem que saber algumas coisas sobre o seu futuro. Mas sem spoilers, pois alguns detalhes dessa história são tão malucos, que é melhor que você não saiba… até mesmo para que tudo seja mais interessante para você (e para mim também).

Vou compartilhar apenas o essencial para você atravessar bem os próximos 30 anos. Ou para que pelo menos não se perca no caminho. Se bem que o simples fato de escrever essa carta para você mostra que tudo ficou bem.

Aliás, vou parar de enrolar e ir direto ao ponto mais importante: tudo vai ficar bem. Acredite em mim.

Apesar de todos os obstáculos, desafios, problemas e decepções, você vai chegar até aqui inteiro. Só peço, sinceramente, que pare de tentar resolver a todos os seus problemas pelo caminho mais fácil. Isso é inútil, e só vai te causar dor.

Viver é o ato mais perigoso da existência humana, e você precisa ter coragem para seguir em frente. A boa notícia é que, ao final desse ano que você está vivendo (1994), você vai receber a tal plaquinha do “Sem Luta Não Há Vitória”. E ela com certeza vai te salvar (e me salvar também).

Saiba que você será um lutador nato. Vai aprender que resiliência é a sua palavra de ordem. Então, é melhor se preparar desde já, pois a jornada é dura, e você não vai vencer todos os embates.

Aprenda com as quedas. Cada cicatriz no seu corpo é sinal que você lutou. Exceto essa que vai aparecer no seu braço esquerdo. Isso será consequência da irracionalidade de um adulto irresponsável, que quer impor a sua hierarquia através da violência.

Sei que é meio tarde para falar isso, mas… perdoe os seus pais. Eles não sabem o que estão fazendo, pois aprenderam com os pais deles a serem pessoas erráticas. Mas não relativize os erros das pessoas mais velhas. Elas têm a obrigação de fazer o certo, pois se afirmam sábios.

Aliás, não queira ser sábio. Seja curioso. A verdadeira inteligência vem do questionamento constante, do desejo em entender o mundo ao seu redor e, com alguma sorte, você acumula alguma sabedoria para a vida.

E, mesmo assim, o melhor aprendizado não é o teórico. Então, vai lá e faz. Faça o que você tem vontade, viva as experiências da vida e tire suas próprias conclusões a partir daquilo que você viveu e aprendeu.

Não acredite no que as pessoas dizem. Elas podem mentir tanto e quanto você mente e vai mentir ao longo da vida. Pessoas não são feitas de palavras, mas de atitudes. Tudo bem, a fala é uma ação. Mas a palavra de alguém não vale absolutamente nada diante daquilo que ela faz.

Entenda isso o quanto antes, e aprenda a se blindar de um mundo que, de tempos em tempos, vai tentar te destruir.

Aprenda o quanto antes possível o que significa termos como “resiliência” e “empatia”. Você vai precisar (e muito) desses conceitos ao longo dos próximos 30 anos. Principalmente nos últimos cinco (vai por mim: esse é um dos spoilers que eu não posso contar).

Entenda que você vai se decepcionar com algumas pessoas, e que você vai causar algumas decepções. O ser humano mente, trai, passa a perna nos outros, manipula e distorce narrativas. E você também, pois é humano.

Logo, tente ser menos exigente com você mesmo, justamente para não ser tão exigente com as outras pessoas, que são tão falíveis quanto você. Aprenda a se perdoar para também conseguir perdoar aqueles que você ama, mas que te feriram porque são imperfeitos.

Por mais duro que isso possa parecer, entenda: as pessoas que você mais vai amar nos próximos 30 anos vão te machucar de alguma forma. E é justamente as dores que você vai sentir e superar que vão indicar o quanto você ama essas pessoas.

Com sorte, essas mesmas pessoas vão perdoar você quando os seus erros vierem à tona.

Mas também não seja otário na vida. A borracha gastar mais do que o lápis é um problema. Não relativize a repetição do erro pela falta de bom senso do outro. E, pelo amor de qualquer coisa… não tolere o racismo, a misoginia, a xenofobia ou qualquer outro preconceito.

Não tolere gente preconceituosa. Mesmo que sejam seus parentes.

Do mais, seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo.

Hoje, eu entendo perfeitamente por que você queria ser como os outros. E isso é um erro. Seja sempre você mesmo. Você é sim diferente de todo mundo, por dentro e por fora. Valorize isso em você o quanto antes, e seja feliz com a certeza de que é único dentro do seu mundo. E será assim ao longo de sua vida.

Não fique parado muito tempo no mesmo lugar. Recicle de tempos em tempos suas visões de mundo. Procure aprender algo novo sempre que puder, e mantenha olhos e ouvidos abertos para os mais jovens. Aprenda com as gerações futuras, e transmita seus conhecimentos para eles quando for possível.

Seja gentil e educado. Seja comunicativo. Queira conversar com o outro olhando nos olhos. Dê e receba todos os abraços e beijos que quiser. Não sonegue abraços. Não faça barganha com os sentimentos mais nobres.

Sempre respeite os sentimentos dos outros.

Por fim… eu quero te agradecer por me conduzir até aqui. Muito obrigado por cuidar de mim, por me ajudar a crescer e, principalmente, por não desistir.

A sua coragem, criatividade, capacidade de reinvenção e personalidade me inspiram até hoje. Você me ajudou a construir a minha melhor versão, que é essa que escreve essa carta para você.

No final, tudo vai dar certo. Mas tente reduzir o consumo de doces e carboidratos desde já. Sério, você vai me agradecer no futuro.

É isso. Como diz o Emicida (esse spoiler eu posso dar, e você vai gostar muito dele no futuro):

 

“Aí, maloqueiro… Levanta essa cabeça. Enxuga essas lágrimas, certo?

Respira fundo e volta pro ringue. Cê vai sair dessa prisão, cê vai atrás desse diploma, com a fúria da beleza do Sol, entendeu?

Faz isso por nóis. Faz essa por nóis.

Te vejo no pódio!”

 

Sinceramente,

Você.


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@oEduardoMoreira