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The Post – A Guerra Secreta (2017) | Cinema em Review

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The Post – A Guerra Secreta conta um dos mais importantes capítulos do jornalismo investigativo da história da humanidade, além de revisar um dos maiores escândalos do governo norte-americano em todos os tempos. Steven Spielberg, que adora revisar acontecimentos históricos no cinema, fez um filme sob medida para prender o interesse daqueles que se interessam pelo jornalismo investigativo e pela verdade na informação.

Em tempos onde muito se discute sobre o ‘fake news’ e a manipulação da informação para ludibriar a grande massa crítica, o filme narra os bastidores do período em que os jornais The New York Times e The Washington Post revelaram a existência de um dossiê baseado em documentos confidenciais do governo dos Estados Unidos, que basicamente revelavam todos os métodos sujos de pelo menos cinco ex-presidentes do país para prorrogar ao máximo a Guerra do Vietnã, de forma desnecessária e já cientes de que as chances de vitória dos norte-americanos era nula.

Tudo isso respingaria na gestão do presidente na época dos eventos, Richard Nixon, que também tinha os seus próprios crimes para responder (o caso Watergate seria revelado depois desse evento).

O problema todo começa quando o The New York Times recebe informações privilegiadas sobre o dossiê, e é pressionado pelas autoridades a suspenderem as publicações sobre o assunto, por considerarem um desacato à gestão Nixon. Quando o The Washington Post recebe o mesmo dossiê, mas com um volume de dados muito maior, precisa tomar uma decisão difícil: publicar os dados do dossiê, correndo o risco de sofrer as mesmas penalizações da lei (sem falar em arruinar o próprio negócio do jornal, que acabava de entrar para a Bolsa de Valores), ou não publicar e correr o risco de Nixon vencer e implantar uma era de censura sobre toda a imprensa.

Sem falar no ótimo subplot igualmente útil nos dias atuais: o questionar da capacidade das mulheres em assumirem uma posição de comando. É fundamental lembrar que a decisão mais importante da história do The Washington Post foi tomada por uma mulher, que precisou de muita coragem para arriscar tudo em nome da verdade e da informação.

 

 

The Post – A Guerra Secreta é um filme relativamente fácil de acompanhar, onde a perspectiva do espectador é de testemunha presencial dos fatos. Você é colocado no local onde tudo acontece, como se fizesse parte de tudo isso. É possível sentir a atmosfera da redação, o ambiente informal da residência da dona do jornal, e toda a tensão gerada pelo senso de urgência em produzir um material jornalístico onde os envolvidos não sabiam se esse conteúdo seria publicado ou não.

Muitos podem achar que toda a narrativa foi feita de forma mais romantizada do que o que normalmente aconteceria na vida real, e eu concordo. Mas tal ‘romantismo’ é necessário para conectar a maioria dos meros mortais com esse tal senso de urgência apresentado na segunda hora do filme. Aliás, um dos méritos do longa é que sua narrativa e ágil, e você não verá o tempo passar, e esse é um sinal claro que o filme é bom.

Sim… The Post – A Guerra Secreta é um ótimo filme.

Tom Hanks e Meryl Streep estão realmente excelentes nesse filme. O nosso querido Bob Odenkirk também. Aliás, o elenco do filme é um ponto dos mais positivos, pois conseguem passar a veracidade necessária para convencer o espectador de que a causa deles é algo mais do que importante. É essencial para garantir a liberdade de expressão e independência da imprensa, que era o que realmente estava em jogo naquele cenário.

Transportando para a nossa realidade atual, The Post – A Guerra Secreta é um claro sinal de alerta para as novas gerações, mostrando um ‘já vimos esse filme antes’ sobre temas pontuais envolvendo a independência editorial das grandes mídias. Hoje, vemos um governo Donald Trump controlando parte da dita ‘mídia’, e pregando o discurso de quem é contra ele simplesmente noticia as tais ‘fake news’. Se Trump pudesse, faria o mesmo que Nixon tentou fazer: implantar a censura na imprensa. Mas não pode. Porém, usa do mesmo ‘modus operandi’ do presidente que depois sofreria um impeachment. Por exemplo, vetar a presença de jornalistas de determinados veículos em eventos da Casa Branca.

The Post – A Guerra Secreta também mostra como a história se repete com uma precisão absurda, décadas depois. Não há diferença alguma sobre o que aconteceu com o caso do The Washington Post e os vazamentos de Julian Assange no Wikileaks. Aqui, a lição é a mesma: a única forma de publicar algo que o governo está fazendo de errado é publicando esses fatos. Com provas.

O governo pode até considerar você um criminoso por violar as regras ao publicar documentos confidenciais, mas o próprio governo acaba como maior criminoso, ao enganar uma nação inteira em nome dos seus interesses. E, nesse caso, a verdade sempre deve prevalecer.

 

 

The Post – A Guerra Secreta é um filme que merece sua indicação ao Oscar 2018 como Melhor Filme, muito por se alinhar ao momento atual onde o poder da informação não está nas grandes mídias, mas sim naquele que era visto antes como um simples consumidor de conteúdo. Por outro lado, mostra claramente o quão fundamental é que todo veículo de produção de conteúdo seja independente, apartidário e apolítico. Todo veículo de comunicação deve servir ao povo, e não ao governo. Caso contrário, existe a ditadura editorial, a distorção da realidade, e o ‘fake news’ no seu estado puro. Alimentado pelos governos.

É um filme altamente recomendado para quem gosta do jornalismo, dos fatos históricos e relevantes da humanidade e, principalmente, para aqueles mais céticos sobre o que é um jornalismo de verdade.

Para aqueles que não acreditam nem na Veja, nem na Carta Capital.

 

 


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@oEduardoMoreira