Sabe aquela manhã de domingo bem preguiçosa, tempo nublado e fechado, onde até o sol saiu para trabalhar de mau humor?
Então…
Meu estoque de café especial – aquele caríssimo, com notas florais que só quem finge entender fala que e existe a sério – tinha acabado. Foi aí que, em um lapso de genialidade (ou burrice extrema), lembrei de um vídeo no YouTube do barista James Hoffman.
Ele é um verdadeiro alquimista da cafeína, e decidiu enfrentar o maior tabu dos amantes do café: torrar grãos crus em uma Air Fryer.
“Se ele conseguiu, por que eu não?”, pensei.
A seguir, o relato dessa experiência.
A saga começa
Primeiro passo: comprar grãos crus.
Fácil, certo?
Errado.
Descobri que encontrar grãos crus numa cidade como Florianópolis é como tentar achar um unicórnio no supermercado. Não é qualquer estabelecimento que vende comida que tem esse item disponível.
E no principal shopping da cidade, que fica no centro, o local que vende decidiu não abrir as portas no domingo. E eu nem deveria sair de casa em um dia tão fechado.
Depois de muito esforço, comprei um pacote pela internet e esperei a entrega.
Quando finalmente chegou, abri o pacote como quem abre um presente de Natal, e fiquei encarando aqueles pequenos grãos esverdeados, que mais pareciam pedrinhas de aquário.
Sim… é isso mesmo que você está pensando: comprei aquele café cujos grãos são cagados pelo passarinho. Paguei uma fortuna só para fazer um experimento estúpido da internet.
De qualquer forma, eu estava pronto para o desafio.
Coloquei os grãos na cesta da Air Fryer, ajustei a temperatura para 180 graus e programei o tempo. A cozinha logo foi tomada por um cheiro peculiar, uma mistura de grama recém-cortada com algo que não deveria estar lá, como um leve toque de… pneu queimado?
Ignorando o alerta olfativo, resisti à tentação de abrir a tampa, como se minha fé no processo pudesse transformar aquilo em algo mágico. Afinal, quem precisa de uma torradora profissional quando tem uma fritadeira a ar, certo?
Dez minutos depois, abri a cesta e fui recebido por um espetáculo visual caótico: grãos torrados de todos os tipos, dos quase crus aos carbonizados.
Um verdadeiro arco-íris de erros de cálculo.
Refletindo comigo mesmo, cheguei a conclusão que precisava ser consistente no processo, algo que muitos subestimam quando desistem na primeira tentativa.
Enquanto pensava sobre essa reflexão estúpida, tentava esfriar os grãos com a ajuda de um ventilador portátil, o mesmo que uso no verão para sobreviver ao calor infernal aqui em Floripa.
O próximo passo era moer os grãos e provar a bebida resultante do experimento.
Coloquei os grãos no moedor, e o som que saiu foi semelhante ao de um liquidificador triturando pedras. O pó resultante parecia café, mas o cheiro ainda tinha aquela intrigante nota de grama.
O que não deixa de ser estranho, convenhamos. Eu não estou utilizando um cortador de grama para moer o café. Então… por que diabos estou sentindo esse aroma de jardim, quando só deveria sentir o cheiro de café?
O resultado
Preparei uma xícara e, com toda a coragem do mundo, dei o primeiro gole. Foi como beber uma mistura de ervilha torrada, carvão e esperanças destruídas em um gosto amargo de decepção.
Mas eu não estava pronto para desistir.
Lembrei que Hoffman também tinha experimentado torrar grãos com diferentes óleos. Inspirado e extremamente confiante (dois elementos que levam o ser humano a erros inacreditáveis), fui até a cozinha e peguei o que tinha à disposição: azeite de oliva, óleo de coco e, numa ideia de “gênio absoluto” (sic), um pouco de manteiga.
Repeti o processo com cada opção, E o cheiro da cozinha agora oscilava entre padaria de domingo e churrasco de quintal.
O resultado?
O café com azeite parecia uma salada líquida. A bebida com óleo de coco era tragicamente doce. E o café com manteiga… bom, digamos que parecia mais sopa do que café.
No final, a lição ficou clara como um café mal filtrado do Starbucks: torrar café em casa com uma Air Fryer é algo que ninguém pediu para existir, e que absolutamente ninguém deveria tentar.
É o equivalente culinário a usar chinelos em uma maratona – uma péssima ideia desde o início.
Mas, se você insistir, pelo menos terá uma boa história para contar e um motivo para nunca mais reclamar do preço do café profissional caro que você paga em uma cafeteria gourmet.
Não tente. Simplesmente não tente.
Aceita o preço de ter um café decente para tomar, e segue sua vida normalmente.
Conselho de amigo.