
Donald Trump lançou a Trump Mobile como um “sonho molhado” do norte-americano médio que acredita em sua equivocada visão de mundo.
A iniciativa surge como uma extensão de sua política de “Make America Great Again”, focando na fabricação de produtos tecnológicos em território americano.
Temos que entender que a abordagem nacionalista, com produtos fabricados exclusivamente nos Estados Unidos, é uma retórica pronta, ou uma tentativa de materializar o discurso político de Trump em um produto comercial completo.
Acontece que há mais coisas por trás dessa combinação de tecnologia e patriotismo, que dificilmente o Homer Simpson vai conseguir enxergar.
O problemático T1 Phone

O smartphone T1 Phone constitui o primeiro dispositivo da marca Trump Mobile, prometendo ser “projetado para desempenho e orgulhosamente projetado e fabricado nos Estados Unidos”.
O aparelho apresenta acabamento escovado com tom dourado característico, incorporando a bandeira americana na parte traseira como elemento visual patriótico.
Ou seja, tão brega quanto tudo o que cerca o Donald Trump. Ou vai me dizer que você realmente acha o Trump Tower algo bonito?
As especificações técnicas incluem uma configuração de câmera traseira tripla, com sensor principal de 50 megapixels e sensor macro adicional. Segundo informações preliminares, o dispositivo não incluirá sensor grande angular, limitando as opções fotográficas disponíveis aos usuários.
Um iPhone wannabe que fotografa pior do que o iPhone.
O hardware interno compreende 12 GB de memória RAM, 256 GB de armazenamento expansível via cartão de memória, bateria de 5.000 mAh e tela OLED de 6,7 polegadas com taxa de atualização de 120 Hz.
O aparelho também mantém o conector de fone de ouvido, recurso cada vez mais raro em smartphones modernos.
Até porque o redneck médio vai querer ouvir a rádio FM texana em qualquer lugar, sem depender da conexão de internet.
Não estamos diante de um smartphone mágico e revolucionário. Temos um telefone que é relativamente caro para uma marca que não é ninguém no mercado de telefonia, e com um enorme problema logístico para resolver.
Onde a conta não fecha

O T1 Phone será comercializado por US$ 499, posicionando-se na faixa intermediária do mercado de smartphones. Os consumidores interessados podem realizar pré-reservas mediante pagamento de US$ 100, com lançamento previsto para setembro de 2025.
Isso é, se é que vão conseguir reservar o telefone, pois logo no primeiro dia de reservas o site travou, e muitos ficaram a ver navios.
O grande problema do T1 Phone é a fabricação nacional. Atender os ultranacionalistas tem um preço que, para muitos, simplesmente não fecha.
O Liberty Phone, fabricado pela Purism, custa US$ 2.000 para o consumidor final, e tem custos de fabricação estimados em US$ 650. E suas especificações não chegam perto do T1 Phone.
Ou seja… ou o smartphone do Donald Trump está perdendo dinheiro de propósito, ou alguém está subsidiando o dispositivo com muita força, e queimando uma grana violenta em nome do “Make America Great Again”.
Faça as contas. E você vai descobrir rapidinho quem vai pagar a conta.
A Trump Mobile é outro problema
A Trump Mobile funciona como operadora virtual (MVNO) utilizando a infraestrutura da T-Mobile através da parceria com Liberty Mobile. Esta configuração permite oferecer cobertura nacional sem investimentos massivos em torres de transmissão e infraestrutura própria.
O problema aqui é que o usuário médio terá apenas uma alternativa de plano para contratar na Trump Mobile.
O “Plano 47” constitui a única opção tarifária disponível, custando US$ 47,45 mensais. O plano oferece chamadas, mensagens de texto e dados ilimitados.
Aqui, é preciso ser justo.
Verizon, AT&T e T-Mobile oferecem planos ilimitados por valores aproximados ao cobrado pela Trump Mobile, indicando que ao menos isso é minimamente crível e realista nessa proposta.
Até mesmo os planos para turistas custam mais ou menos a mesma coisa nas operadoras tradicionais. Porém, estamos falando de uma MVNO, e é normal ver preços mais acessíveis nas operadoras virtuais, já que elas não contam com gastos de infraestrutura e manutenção.
Serviços adicionais do “Plano 47” incluem assistência rodoviária Drive America e teles saúde 24 horas por dia, sete dias por semana, mas todos os serviços são terceirizados.
Vale a pena investir no “sonho molhado” de Trump?
Depende do seu nível de fanatismo pelo homem laranja.
Tudo aqui soa apenas e tão somente como uma retórica ultranacionalista. Pouco aqui está relacionado com tecnologia e telefonia móvel.
Repare como não foi mencionado em nenhum momento o modelo de processador do T1 Phone. Ou seja, podemos ter uma pequena carroça em forma de dispositivo tecnológico. E ter 12 GB de RAM não quer dizer nada, pois o Android customizado pode ser um devorador de memória.
E ter uma operadora virtual que cobra quase US$ 50 por mês de um único plano de telefonia mais parece uma prisão do que uma efetiva liberdade de escolha.
O lançamento da Trump Mobile neste momento (com Trump no seu segundo mandato presidencial) mais parece uma tentativa de “Make Trump Great Again” do que qualquer outra coisa.
Mas tem gente que não só vai acreditar nisso, como também vai me criticar por levantar dúvida razoável sobre a iniciativa.
Não me importo com nada disso.
É o típico caso que apenas os inteligentes vão conseguir enxergar o que está acontecendo.

