O blog tecnológico TUAW (The Unofficial Apple Weblog) foi encerrado em 2015, após onze anos de atividade. Ele conhecido por suas análises e notícias sobre produtos da Apple, escrito por jornalistas respeitados no campo da tecnologia.
Em algumas oportunidades, utilizei o TUAW como fontes de notícias e referências para os artigos de opinião que escrevi nos meus blogs. E devo confessar que ele faz falta até hoje.
Após seu fechamento, o TUAW foi adquirido por várias empresas, incluindo Yahoo, Verizon, e finalmente pela Apollo Global Management. Aconteceu com ele o mesmo processo que vários veículos de tecnologia e sites passaram: uma espécie de “dança das cadeiras” para achar um dono que queria ficar com ele de vez.
Recentemente, o domínio do TUAW foi comprado pela Web Orange Limited, uma empresa de marketing online baseada em Hong Kong. Mas como essa empresa era incapaz de recuperar os direitos sobre o conteúdo original, ela tomou uma decisão que é sim polêmica (que já vejo alguns canais de vídeos do YouTube fazendo o mesmo), mas que se alinha de alguma forma com o momento atual da tecnologia.
O que você acha de um site que usa a identidade dos antigos autores do TUAW pra publicar artigos gerados por Inteligência Artificial (IA)?
A polêmica está servida (de novo)
Nem preciso dizer que a prática levantou óbvios questionamentos sobre os aspectos éticos e legais. Afinal de contas, é basicamente o uso não autorizado de nomes e reputações de jornalistas.
Na cara dura.
Comparações com os artigos arquivados do TUAW no Engadget mostraram que os novos conteúdos eram versões resumidas e distorcidas dos originais. Os textos foram alterados e atribuídos incorretamente aos antigos autores.
Ou seja… plágio.
Christina Warren, ex-jornalista do TUAW, expressou indignação ao descobrir que seu nome e uma foto gerada por IA estavam sendo usados sem autorização.
Ela criticou a prática como uma tentativa de fraude de SEO ineficaz devido às mudanças nos algoritmos do Google.
Para quem não sabe, o Google não só está dando baixa indexação para os artigos produzidos e plagiados por uma IA, como também está banindo a visibilidade desses sites nos resultados do buscador.
Ou seja, deixar todo o texto para a IA pode ser um enorme problema a médio e longo prazos. É mais fácil copiar e colar logo a matéria da fonte original. Isso é menos pior que a manipulação tecnológica que estamos testemunhando.
Brett Terpstra, outro ex-redator, também denunciou a falta de conhecimento e participação dos antigos jornalistas na nova versão do blog.
A reutilização indevida de suas identidades prejudica a reputação profissional construída ao longo dos anos, já que uma bobagem muito grande em um texto manipulado é o suficiente para tirar o crédito do jornalista que “assinou” aquela matéria.
Não é um caso isolado
A situação do TUAW não é isolada. Outros sites antigos foram transformados em “fazendas de conteúdo” gerado por IA, usando táticas semelhantes para gerar tráfego e lucros à custa do trabalho original de jornalistas reais.
Sei que a Inteligência Artificial é uma tecnologia que ainda é nova, e todos estão descobrindo como lidar com ela. Mas passou da hora de se estabelecer regras mais definidas para o seu uso.
Christina Warren, outra jornalista que escreveu por anos para o TWAU original, destacou a necessidade de melhores práticas na preservação de conteúdo digital. Ela enfatizou a importância de proteger a integridade do trabalho jornalístico contra apropriações indevidas e distorções causadas por tecnologias emergentes.
E o mais grave de tudo isso é que, apesar de o Google tomar medidas contra essa prática, ela está se tornando cada vez mais comum na internet.
É claro que o uso da Inteligência Artificial não pode ser banido do jornalismo, mas ele precisa ter parâmetros mais definidos, pois ninguém pode sair prejudicado.
Não vou negar que uso a IA para produzir meus textos, mas tento não depender exclusivamente dela.
Sinto que, se eu fizer isso apenas e tão somente para ser aquele que vai escrever mais rápido sobre alguma coisa, vou me tornar mais dependente da IA com o passar do tempo.
Não posso sofrer de crises criativas no meu trabalho, e não posso me sentir condicionado a ser aquele que vai publicar o artigo no menor tempo possível.
Vamos ver se o caso do TUAW vai estabelecer parâmetros mais definidos para o uso da IA no jornalismo, já que penalizar os sites não está resolvendo.
Sim. É difícil e, ao mesmo tempo, polêmico encontrar um denominador comum.
Mas é algo que se faz necessário.
Via The Verge