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When We Rise, e as lições que aprendemos quando crescemos

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when we rise

 

Descobrimos o mundo quando crescemos. E quando crescemos, criamos coragem para mostrar ao mundo quem somos.

Só agora consegui ver na íntegra a minissérie When We Rise, exibida pela ABC entre o final de fevereiro e o começo de março. E, apesar da relativa baixa audiência alcançada pela produção, o mais importante aqui é o quão corajosa ela se apresenta para um grande público, que tem preconceito, ignorância e rejeição ao diferente dentro de si.

Apesar da trama se passar no começo da década de 1970, onde por conta das guerras em que os Estados Unidos se envolveram e a contracultura que parte da sociedade descobria, o sentimento de mudança floresceu de forma latente, onde um grupo decidiu levantar a voz e se fazer presente. Enfrentando as suas próprias guerras.

 

When We Rise é direta no seu tema: o preconceito contra os homossexuais. É incrível como esse tema é atual, infelizmente. Mas nos anos 70, essa intolerância era muito maior. Apesar do homossexualismo sempre existir, e se fazer presente dentro dos diversos segmentos da sociedade.

Fileiras militares, colégios católicos e até famílias tradicionais. Não era uma questão de um grupo específico. Nunca foi. Sempre se criou teorias absurdas sobre o que “fazia alguém se tornar um gay”, quando isso claramente não existe. A pessoa nasce assim.

E quando cresce, resolve fazer a sua voz ser ouvida.

E é sobre isso que When We Rise aborda. Pessoas que, em diferentes locais dos Estados Unidos, em diferentes situações, se viram crescendo em um país confuso e dividido por questões ideológicas das mais diversas. Mas, até mesmo por conta do momento em que vivam e tudo o que o cercavam, decidiram levantar sua voz, para se fazerem ouvidos.

Começaram a lutar. A sua luta particular contra uma sociedade extremamente conservadora, preconceituosa e intolerante. Uma sociedade que não só não aceitava o diferente. O repudiava. O amaldiçoava.

Engraçado… até hoje vemos isso acontecer de tempos em tempos. E é por isso que a série pode sim ser considerada um soco no estômago na dita sociedade cristã ocidental, defensora da moral e dos bons costumes.

 

 

A coisa mais difícil para qualquer pessoa, independente de sua condição, é ser livre para ser ela mesma. Para ser autêntico e verdadeiro. Porém, para os homossexuais, é algo muito pior. Até hoje. O medo da rejeição daqueles que mais ama, o preconceito da sociedade… São cargas muito mais pesadas para se carregar. E tomar ciência dessas cargas pode sim ajudar a alcançar uma sociedade mais consciente e um pouco mais tolerante.

When We Rise ganha pontos comigo porque se mostra como um relato corajoso e verdadeiro sobre como era difícil se fazer ouvido quando você faz parte da minoria. E falo isso também pelo fato da trama abordar o preconceito com os negros, algo que ainda era muito forte nos EUA naquele período.

Os direitos civis das minorias eram simplesmente rasgados e cuspidos na cara dessas minorias, sem qualquer tipo de cerimônia. E a impressão que dá era que a sociedade branca norte-americana sempre precisava de um alvo a ser caçado. Negros, gays, lésbicas, religiosos (de diversos segmentos)… não é uma crítica declarada, mas historicamente é o que sinto, ainda mais acompanhando tudo o que a indústria do entretenimento vem apresentando nos últimos anos, com séries e filmes que muito bem abordam esses temas.

Quase que em tom de denúncia.

Traçar os paralelos do passado com o que vemos no presente é algo fundamental para o desenvolvimento de qualquer cultura ou povo. E as lições deixadas pela série podem ser assimiladas pela audiência do mundo todo. As situações são expostas à carne viva, sem rodeios, onde qualquer pessoa consegue reconhecer o cenário geral e a sua importância dentro do contexto geral histórico.

Mais. When We Rise vai além. Consegue levantar discussões sobre o que realmente é importante nas lutas que temos que lutar, nos desafios que temos que enfrentar, e as causas pelas quais devemos protestar. Em alguns casos, mesmo fazendo parte do mesmo grupo, os pensamentos ideológicos diferentes podem afastar os iguais, o que mostra que desde aquela época determinados movimentos civis precisavam exercitar mais a prática do “concordar em discordar” para todos crescerem.

 

When We Rise, tecnicamente, é muito bem feita. A ambientação é excelente, a trilha sonora é ótima, a fotografia é muito bem feita. É um grande acerto técnico da ABC. Sem falar que o ploto duplo dirigido por Gus Van Sant praticamente absorve você para o universo proposto pela trama.

O texto da série é outro ponto forte. É um texto tão direto quanto a proposta da trama. Sem meias verdades, sem melindres, sem melismas de linguagem. De novo: qualquer idiota preconceituoso consegue entender que a série está falando com ele também. Com o objetivo de dar o tal soco no estômago que falei um pouco antes nesse texto.

Até mesmo quem não tem absolutamente nada contra a comunidade LGBT vai se sentir incomodado com a proposta de When We Rise. Vai se sentir com um pouco de peso na consciência. Ou vergonha de viver em uma sociedade que ainda trata as minorias como lixo.

Por fim, o elenco da série é de peso. Nomes como Whoopi Goldberg, David Hyde Pierce, Mary Louise Parker, Kevin McHale, Dylan Walsh, Rosie O’Donnell, Denis O’Hare, T. R. Knight e vários outros emprestam seus talentos para uma minissérie que é quase uma causa civil televisionada. E isso é algo excelente para a TV norte-americana, e para a comunidade como um todo.

 

 

Aplaudo de pé When We Rise e a ABC. Principalmente o canal pela coragem de expor tal cenário à carne viva, ou como uma fratura exposta da sociedade.

Lembrando: a ABC é do grupo Disney, que até o começo da década de 1990 tinha banido as mortes nas suas animações infantis. Um grupo com DNA familiar, mas que ao longo das últimas décadas foi se implementando como uma empresa que olhava para todos da mesma forma, acompanhando a evolução da humanidade.

Um grupo que merece todo o meu apoio só por ter irritado pessoas como Silas Malafaia.

E séries como essa mostram como pessoas como Silas Malafaia estão erradas.


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@oEduardoMoreira