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Zoom, e o CEO que surfa na contradição

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O aplicativo de chamadas de vídeo Zoom se tornou sinônimo de reuniões virtuais durante o auge da pandemia. Mesmo com suas polêmicas sobre a forma em como trabalhava com a privacidade dos usuários, o software se tornou um achado para quem precisava agregar várias pessoas em uma mesma comunicação.

Porém, quem manda no Zoom tomou uma decisão que surpreendeu a todos, causando perplexidade nos funcionários e um ar de contradição junto ao grande público. A gigante das videoconferências, tal e como muitos outros gigantes tecnológicos, solicitou que seus funcionários voltassem ao escritório.

Ou seja, a mesma empresa que se beneficiou amplamente do auge do trabalho remoto e das reuniões online, pede que todos voltem aos escritórios, no mais puro suco da hipocrisia.

 

E o argumento para a decisão é esdrúxulo

Eric Yuan, o CEO da Zoom, justificou essa decisão aparentemente inesperada e claramente contraditória, destacando preocupações sobre a confiança e a inovação entre os funcionários.

Agora, a empresa que nos permitiu trabalhar remotamente e colaborar virtualmente agora argumenta que esse formato laboral não permite que as pessoas construam a mesma confiança mútua ou sejam tão inovadoras quanto o trabalho presencial.

E eu me pergunto: como todas essas mesmas empresas conseguiram ficar de pé e lucrativas durante a maior crise sanitária global do século? E só agora os executivos perceberam que o trabalho remoto é algo prejudicial?

Essa revelação foi feita através de áudios vazados de conversas internas da empresa e, posteriormente, divulgados pela mídia. Yuan enfatizou que nos primeiros dias da Zoom, todos se conheciam, mas com a expansão rápida da empresa e a contratação de muitos novos funcionários, a confiança entre os colegas se tornou um desafio.

“A confiança é a base de tudo. Sem confiança, seremos lentos”, declarou o CEO.

Alguém precisa lembrar para o Yuan que é sim possível confiar em pessoas que estão a quilômetros de distância. Eu mesmo confio mais em desconhecidos que estão em Portugal do que em membros da minha família (mas isso é outra história).

O ponto crucial aqui é que Yuan alega que é difícil gerar grandes ideias em um ambiente de videoconferência como o da Zoom. Segundo ele, as reuniões virtuais não proporcionam o mesmo nível de interação e debate produtivo que as reuniões presenciais.

Ele observa que as chamadas de vídeo tendem a tornar as pessoas mais amigáveis, o que, paradoxalmente, pode levar a menos debates construtivos. E são esses debates que, na visão de Yuan, são essenciais para a inovação.

Traduzindo tudo isso que você leu até agora: o CEO do Zoom está fazendo propaganda negativa do seu próprio aplicativo, depondo contra alguns dos principais motivos para esse software existir.

E isso é algo simplesmente bizarro.

 

O puro suco do contraditório

Essas declarações vazadas colocam em cheque a imagem que a Zoom promove em seu marketing.

Em seu site, a empresa se vangloria de oferecer “colaboração imersiva no escritório, a partir de casa”, afirmando que 95% das empresas relatam um aumento na confiança e no desempenho ao usar a plataforma da Zoom. A discrepância entre essa narrativa de sucesso e a confissão do CEO levanta questões sobre a realidade do trabalho remoto e das videoconferências.

O debate entre o retorno aos escritórios e a continuação do home office está fervendo em 2023. Trabalhadores argumentam que o trabalho remoto lhes permite ser mais produtivos, eliminando deslocamentos e distrações comuns no ambiente de escritório. Por outro lado, muitos empregadores acreditam que o trabalho presencial promove a colaboração e o controle, aumentando a produtividade da equipe.

Essa divergência de opiniões é ilustrada pela surpreendente mudança de postura da Zoom. Enquanto a empresa se beneficiou imensamente do trabalho remoto, o marketing enfatizava os benefícios dessa prática. Agora seu próprio CEO expressa dúvidas sobre sua eficácia, depondo contra esse sistema laboral.

Essa contradição destaca a complexidade das questões que envolvem o futuro do trabalho e como a pandemia mudou para sempre nossa compreensão sobre como, onde e quando as pessoas devem trabalhar.

Além de revelar a hipocrisia corporativa do CEO do Zoom, obviamente.

É vergonhoso ver um executivo agindo dessa forma, em um posicionamento que pode sim ser uma visão pessoal de Yuan, e ele tem todo o direito do mundo em ter uma opinião e até mesmo mudar a sua visão sobre o trabalho remoto. O problema é manter a narrativa para o público de que o Zoom é uma ferramenta que beneficia as atividades laborais por oferecer supostos benefícios pelo trabalho à distância, mesmo com a empresa adotando outro pensamento nas suas estruturas internas.

Eu chamo essa postura de hipócrita. E você?


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@oEduardoMoreira