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Krig-ha, Bandolo!

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Krig-ha, Bandolo!

Ah… você não entendeu o que eu acabei de dizer?

Tudo bem. Acontece. De tempos em tempos, falamos algumas coisas que só nossa mente entende, e está tudo certo.

Mas como sou um ser que está na área da comunicação, entendo que é meu dever deixar claro o que tenho a dizer. Afinal de contas, sou responsável pelo que falo ou escrevo, mas não em como você entende o que estou falando.

Por isso, faço o convite: Krig-ha, Bandolo!

Se permita! Aceite o inevitável processo de libertação conceitual e existencial.

Abrace a metamorfose!

 

Mudar constantemente foi o que me trouxe até aqui. E dizer isso soa até irônico, vindo de alguém que veste o mesmo tipo de roupa o tempo todo. Na caminhada da vida, entendi que as mudanças são internas, profundas e silenciosas, e aquelas pessoas que se conectam conosco de forma mais intrínseca percebem essas transformações.

Foi por causa de todas as transformações que aconteceram na minha vida que você hoje me conhece. E, acredite: meu processo de metamorfose não terminou, e isso pode fazer com que eventualmente os nossos caminhos se separem um dia. Logo, da próxima vez que a gente se encontrar, me receba como a intensidade de um possível último encontro. Pois tudo pode mudar repentinamente, e não gostaria que a última impressão fosse uma briga ou apenas um beijo no rosto.

Durante um bom tempo da minha existência, resisti às mudanças. Tal e como a maioria das pessoas que conheço. Sair do lugar comum dá trabalho, desperta o medo do desconhecido e deixa marcas profundas pela natureza do processo.

Por outro lado, não queria mais viver a minha vida de “ouro de tolo”, acreditando que o sinônimo de felicidade é ter um bom emprego, ser o dito cidadão respeitável e me contentar em ir ao zoológico todo domingo, mesmo achando tudo isso um saco.

Ficar no lugar comum e aceitar a fórmula de sucesso que o coletivo estabeleceu é uma grande piada. E eu não estava rindo de nada há 20 anos atrás. Nem mesmo das minhas próprias piadas.

Minhas metamorfoses passam da mudança do curso na faculdade até a reelaboração dos meus relacionamentos afetivos, com fortes questionamentos à monogamia imposta pela sociedade e abraçando com força a regra do “onde não existe cumplicidade não há fidelidade”. E sei que pago um preço elevado por isso.

Mudei meu corpo para ser mais saudável, comendo menos e me alimentando melhor. Mudei minha mente para ser mais inteligente. Mudei meus códigos morais e éticos para ser mais empático com as pessoas que eu amo. Mudei minha visão sobre política, escolhendo um lado porque era necessário.

Eu mudei tanto nos últimos anos, que finalmente entendi que me transformar em alguém diferente de quem eu era no passado era algo que eu sabia fazer muito bem. Na verdade, me tornei um especialista em metamorfoses. Escrever sobre tecnologia e ler as notas em uma partitura são apenas duas consequências das mudanças que promovi na vida.

Aceitei minhas diferenças existenciais para aceitar o outro como alguém diferente de mim. E… acredite… essa foi uma difícil e importante metamorfose conceitual.

Foi essa grande mudança que me permitiu receber você em minha vida, nos mais diferentes níveis.

 

Então… deixo o convite: se permita, e aceite as mudanças que acontecem o tempo todo.

Receba a metamorfose na sua vida. Seja como um presente do tempo ou um ato de libertação, deixar o seu “eu” do passado descansar e abraçar a sua nova versão é um gesto de amor próprio intenso. É quase indescritível o que se sente quando finalmente entendemos que onde estamos é apenas um lugar temporário, e que podemos escolher para onde vamos e queremos chegar a qualquer momento.

Aqui. Lá. Do outro lado. Tudo passa a ser uma escolha sua.

Amo a pessoa que me tornei em função das metamorfoses da minha vida. E já sou completamente apaixonado pela pessoa que vou ser daqui a 10 ou 20 anos. Independente da diabetes, do TDAH, do Alzheimer ou da Inteligência Artificial que pode mudar o mundo para sempre, eu hoje sei que lá na frente serei ainda melhor do que sou hoje.

Não se sentar no trono da mesmice com a boca escancarada cheia de dentes e esperando a morte chegar é uma vitória para alguém como eu.

Muito mais interessante é me transformar todos os dias em alguém que destrói as cercas embandeiradas que me separam do próximo. E, enquanto eu te abraço, vejo no horizonte a sombra do disco voador chegando.

Tudo isso me inspira a seguir em frente.

 

“Krig-ha, Bandolo!” é o nome do primeiro álbum da carreira solo de Raul Seixas, e esse disco completa hoje 50 anos de seu lançamento.

Se Raul Seixas compôs canções incríveis ao longo de sua vida, podemos dizer que ele começou com um ato revolucionário. “Krig-ha, Bandolo!” é um dos discos mais importantes do rock nacional, e o 12º disco mais relevante da história da música brasileira, de acordo com a revista Rolling Stone.

Posso dizer que o ano de 1973 foi especial para a música brasileira. Nesse mesmo ano, recebemos como presente o “Clube da Esquina”, o mais importante álbum musical de nossa história. E “Krig-ha, Bandolo!” entregou um Raul Seixas disposto a mudar o “status quo” de nossa sonoridade, com canções de impacto como “Mosca na Sopa”, “As Minas do Rei Salomão” e “Al Capone”, entre outras.

Fiquei na dúvida entre “Ouro de Tolo”, que é a sua melhor letra, e “Metamorfose Ambulante”, que é a sua melhor canção. E por agora acreditar que tenho vários amores na vida com diferentes formas de amar, escolhi as duas canções para escrever esse texto.

Por fim, tenha em mente sempre que abracei na vida a mais importante lição de Raul Seixas, e espero, de verdade, que você pelo menos pense um pouco sobre a profundidade dessa frase:

“eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Krig-ha, Bandolo!

VIVA RAUL!

 

“Metamorfose Ambulante” e “Ouro de Tolo”
(Raul Seixas)
Raul Seixas, 1973


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@oEduardoMoreira