Uma caminhada começa com o primeiro passo. E nunca sabemos onde vamos chegar no final. Tudo depende de nossas escolhas… ou das setas que a estrada indica.
Moonlight: Sob a Luz do Luar, definitivamente, não é um filme fácil. Toda a sua proposta se apóia na jornada de um único personagem, e em como o meio pode interferir (ou não) no futuro de uma criança que já tem baixas perspectivas de futuro, justamente pelo ambiente em que ele está.
O filme mostra a jornada de vida de Chiron, em três momentos essenciais de três fases de sua vida. Cada fase é rotulada por um apelido, e em cada momento ele tem uma descoberta que define ou prepara para o próximo passo ou destino do nosso protagonista.
Aqui está uma coisa que particularmente me incomoda.
Eu sei que o ambiente onde você está pode sim influenciar o futuro de uma pessoa. Mas não acredito nessa história de que apenas esse entorno será capaz de determinar quem você vai ser ou suas escolhas futuras. Vendo por essa perspectiva… onde está a personalidade do indivíduo? Ninguém mais consegue raciocinar por si? Viramos todos “Maria vai com as outras”?
De qualquer forma, um dos acertos do filme é mostrar que nem todo mundo é 100% ruim. Um traficante pode ser uma pessoa boa, que mostra ao pequeno Chiron certos aspectos da vida que vão além das próprias aceitações e convicções do traficante. Mesmo porque ele entende que o moleque está ferrado de qualquer maneira. Logo, por que frustrar ainda mais o pequeno.
Misturar vários tipos de preconceitos (o que acho válido) como racismo e homofobia com esteriótipos generalizados, onde os conflitos resultam em uma escolha pela criminalidade no futuro não necessariamente é a melhor opção para mostrar como o meio pode influenciar na formação de caráter e personalidade de alguém. Porém, é inegável que mostrar essa cenário como uma possibilidade real pode sim chamar a atenção do espectador para o viés desejado.
Isso realmente me incomodou. De novo: esta é uma perspectiva pessoal. Eu realmente acredito que aquele que vem de uma comunidade mais pobre e sem recursos não necessariamente deva virar um bandido. Cada um é dono de suas próprias escolhas. É como culpar a sociedade por existir crianças vendendo bala no farol.
Por outro lado, talvez seja justamente esse tipo de incomodar que o filme quer despertar nas pessoas. Porque quando nos incomodamos com isso, é sinal que a história proposta atinge o seu principal objetivo: tirar o espectador de sua zona de conforto. E despertar para uma reflexão que tira a pessoa da caixa, do seu senso comum.
Ampliar a racionalidade para uma perspectiva antes ignorada. Fazer pensar além do que aquilo que nossa mente nos condicionou a aceitar como algo normal.
Os principais eventos da vida de Chiron (que determinam suas escolhas futuras) acontecem durante a sua juventude, que é o momento em que o filme melhor se desenvolve. Aqui acontecem as descobertas mais interessantes, e também os eventos mais devastadores. É até interessante a conclusão da história, mostrando o contraste da essência de Chiron com suas escolhas éticas e morais.
De positivo, temos a ideia de ter um filme cujo elenco é 100% composto de negros, como uma das respostas claras às críticas feitas aos últimos anos, onde a Academia de Hollywood não indicava filmes e atores negros desde 12 Anos de Escravidão (2014). Além disso, a discussão geral sobre a criminalidade nas comunidades menos favorecidas, o preconceito aos negros e aos homossexuais e o cuidado que temos que ter em orientar uma criança para que ela seja uma pessoa de bem no futuro são válidos.
A fotografia é um dos pontos altos desse filme, criando um ambiente de imersão bucólica dentro de uma perspectiva nada otimista para os personagens centrais da trama. Aliás, isso é algo louvável, já que estamos falando de um filme cuja produção custou apenas US$ 1.5 milhão. O que mostra claramente que é possível sim entregar um filme que impressione a crítica com um orçamento que é considerado um nada dentro do multimilionário universo de Hollywood.
Moonlight: Sob a Luz do Luar venceu o Oscar de Melhor Filme em 2017 por motivos pontuais. Vários deles foram citados ao longo desse texto. Confesso que não é um dos meus preferidos. Eu mesmo não gostei do filme. Mas isso não me impede de enxergar o seu valor para um contexto mais amplo, que é o que justamente a trama se propõe. Pode ser lembrado daqui a alguns anos por ser o filme que quebrou vários paradigmas e preconceitos, sendo assim revolucionário dentro do nosso tempo, e referência para as gerações futuras.