A Netflix iniciou o seu plano para acabar com o compartilhamento de contas em sua plataforma, mas ninguém sabe se isso realmente vai dar certo. Aliás, a concorrência espera pelos resultados esfregando as mãos, pois pode ser dar muito bem com isso.
De qualquer forma, esse é um dos maiores experimentos da história do segmento de streaming e, por que não dizer, da tecnologia. A Netflix saltou na frente do Spotify, que sempre ameaçou acabar com o compartilhamento de contas em seu serviço, mas nunca materializou a sua decisão.
A má notícia para o pessoal da Netflix é que acabar com as contas compartilhadas em seu serviço é algo virtualmente impossível.
É proibido proibir. Legalize já!
A Netflix tenta vender a sua já existente política de compartilhamento de contas como “novas formas de compartilhar” o serviço. Na prática, é uma proibição, sob o pretexto de que a empresa não está lucrando como antes.
A bem dizer a verdade, a Netflix sempre deu prejuízo. No formato de streaming, nunca deu lucro real para os seus investidores e acionistas. A diferença agora é que o prejuízo está ficando cada vez maior, deixando o negócio insustentável.
O principal objetivo da Netflix com a medida é aumentar a receita média por usuário, mesmo com a empresa reconhecendo que o fato de compartilhar contas ajudou no crescimento da plataforma ao longo dos anos.
No Brasil, é fato consumado que a maioria dos usuários da Netflix utilizam o serviço através das contas compartilhadas. Com políticas mais rígidas neste sentido, as perdas da plataforma por aqui podem ser enormes.
Nos aspectos técnicos, a Netflix pode sim proibir por completo o compartilhamento de contas. Por outro lado, cobrar a mais para permitir as contas compartilhadas pode ser a saída para a empresa que precisa desesperadamente aumentar o valor médio pago por assinante.
Quando não se pode vencer, aceita a derrota (parcial)
Alguém na Netflix entendeu que proibir por completo o compartilhamento de contas pode ser ainda pior do que permitir esse compartilhamento pagando um valor adicional. Logo, está repensando a decisão original.
Tudo bem, só é possível neste primeiro momento compartilhar as contas com outros dois usuários pagantes e não com cinco usuários como é feito hoje. Mas muitas pessoas entenderam que é melhor que cada um pague o dobro do valor investido nas contas divididas neste momento do que perder o acesso ao serviço ou assinar um plano mais restrito.
Se a Netflix não oferecer a opção de compartilhamento de contas com cobrança adicional, impondo aos usuários a aquisição de uma nova assinatura individual, aí sim a plataforma precisa se preparar para uma grande onda de cancelamentos em massa.
De qualquer forma, tudo ainda é muito incerto nesse momento. Mas não podemos deixar de reconhecer que a decisão da Netflix foi muito corajosa. Realizar cobranças adicionais e acabar com o compartilhamento de contas em um momento em que a economia global está em crise é um movimento bem arriscado.
Neste momento, é correto dizer que muitas pessoas estão priorizando colocar comida na mesa do que seguir pagando a cara mensalidade da Netflix. Ao mesmo tempo, para quem quer manter algum tipo de entretenimento em casa ou indo para o trabalho, existem as outras plataformas de streaming, que esfregam as mãos esperando para ver o que realmente vai acontecer.
A reação dos cancelamentos é algo previsto pela Netflix, e a empresa espera que as receitas aumentem com o passar do tempo. Vamos ver se esse movimento foi bem calculado. Os resultados deste experimento vão definir as novas diretrizes dos demais serviços de streaming.