Em março de 2021, a Netflix falou para quem quisesse ouvir que tinha planos para acabar de vez com a farra das contas compartilhadas, pois entende que era essa prática que estava impedindo a empresa em ser economicamente sustentável.
Ou seja, jamais foram os bilhões de dólares investidos em múltiplas produções, em um volume de produção de conteúdo que era humanamente impossível de se assistir.
Pois bem, passamos o ano de 2022 sob essa ameaça, e agora sabemos que ainda nesse primeiro trimestre de 2023 chegará ao fim a festa das contas compartilhadas no serviço de streaming.
Coincidência ou não, a Netflix vai perder assinantes em massa. E sabe muito bem disso.
A maioria divide contas na Netflix
Para a Netflix, tem muita gente que não está pagando para ver os conteúdos na plataforma. Na verdade, até está pagando, mas muito menos do que poderia pagar se tivesse uma conta individual.
Seja dividindo contas com parentes e amigos, ou até mesmo através de plataformas que foram criadas especificamente para facilitar o processo do compartilhamento do acesso entre desconhecidos, milhões de usuários estão ajudando os proprietários das contas na Netflix a pagar a já cara mensalidade da plataforma.
E para a grande maioria dessas pessoas, essa foi a única maneira viável de manter o serviço de streaming ativo em suas casas. Tanto para quem recebia o benefício do acesso à plataforma como para quem pagava pela assinatura.
Não precisa ser um gênio da matemática para perceber que a Netflix vai perder milhões de assinantes com essa decisão. A grande pergunta que pairava no ar era o quanto que pode ser essa queda.
E esses números começaram a tirar o sono dos executivos da Netflix. Quem sabe foi por isso que o CEO da plataforma decidiu se demitir do posto depois de longos 25 anos no comando do serviço.
Quem vai ficar, e quem vai partir
Vários relatórios ao redor do planeta tentam estimar o tamanho do tombo que a Netflix pode tomar depois do fim das contas compartilhadas.
Aliás, é importante deixar claro que a Netflix não vai proibir ninguém de seguir dividindo os acessos às contas. Pessoas que vivem na mesma casa podem seguir com múltiplos acessos sem cobranças adicionais. O grande problema está naqueles que não moram na mesma residência, pois o titular dessa conta dividida terá que pagar valores adicionais para continuar com a prática.
Dito isso, como em média 60% dos assinantes da Netflix dividem suas contas nesse momento, pelo menos a metade desse grupo vai abandonar a plataforma quando as contas compartilhadas chegarem ao fim.
Ou seja, de cada 10 assinantes, três vão desistir da Netflix quando a festa das contas compartilhadas acabar. É muita gente, convenhamos.
Mas a Netflix aposta no pulo do gato.
Quem ficar vai pagar mais caro
A Netflix aposta que os outros 30% que vão ficar acabem compensando aqueles que decidiram partir nos aspectos financeiros, e eu tenho as minhas dúvidas se a conta vai fechar.
Dos 30% que antes dividiam contas, metade aceita pagar o valor adicional para seguir utilizando o serviço nas mesmas condições atuais, o que significa que desejam manter a resolução dos conteúdos em 4K e não ter qualquer tipo de restrição de conteúdo.
A outra metade aceitaria pagar uma assinatura própria e individual, com as mesmas características que já possui. E esse é o grupo que os executivos da Netflix desejam dar um beijo na boca como forma de agradecimento.
E o plano com publicidade só é aceito por pouco mais de 10% dos usuários, o que mostra que este é um grande fracasso da Netflix. Neste caso, é melhor liberar um plano gratuito com publicidade nos moldes da Pluto TV, pois isso seria mais rentável para a empresa.
A conta vai fechar?
É difícil dizer neste primeiro momento. Mas tudo leva a crer que o movimento da Netflix seria calculado, pelo menos na teoria.
A convicção em acabar com as contas compartilhadas é tamanha, que é difícil de imaginar que alguém dentro da Netflix realmente acredita que este movimento pode dar errado.
Por outro lado, os números são frios. Da mesma forma como é frio o bolso daqueles que estavam compartilhando as contas até agora.
O plano com publicidade não colou, e muita gente na Netflix acreditava que seria um sucesso. O que me leva a crer que remover um dos grandes benefícios que a plataforma sempre defendeu ao longo de mais de 10 anos vai fazer com que os lucros aumentem porque seus executivos entendem que as pessoas não podem mais viver sem suas séries e filmes?
Pode ser sim um movimento calculado e acertado. Como também pode ser uma enorme presunção da Netflix, onde essas decisões podem cobrar muito caro da empresa em um futuro não muito distante.