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Boicote à ‘Barbie’ no Oscar 2024 prova a validade do filme: Hollywood é sim machista e misógina

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Sei que não estou no meu lugar de fala, e para muitas pessoas que vão consumir este conteúdo, muito provavelmente serei digno de cancelamento. Mas… estou aqui para falar o que penso, e não para agradar nerdolas e machos-alfa acéfalos.

É triste pensar que a Academia de Hollywood mostrou claramente para o mundo que filmes como ‘Barbie’ são válidos e necessários. Na verdade, quem viu ao filme saiu do cinema consciente disso.

Porém, os membros da Academia foram os mais cruéis, pois descontaram recalques, invejas, frustrações e vinganças históricas em Greta Gerwig e Margot Robbie. Só porque ‘Barbie’ era maior do que os homens que se revoltaram com o filme.

 

O filme do ano

Independentemente de qualquer coisa que venha a acontecer no futuro, ‘Barbie’ é sim o filme de 2023. E não entenda essa perspectiva como “a escolha do melhor filme do ano”. A lista de indicados ao Oscar 2024 simplesmente não me representa.

E, pelo visto, não estou sozinho nessa.

Se Christopher Nolan tem um pingo de inteligência no seu cérebro, ele sobe no palco para receber o Oscar de Melhor Diretor (ou de Melhor Filme, pois ele deve ganhar os dois) e, humildemente, agradece à ‘Barbie’ por estar ali.

Não que ‘Oppenheimer’ não mereça vencer os prêmios que vai levar. Olhando para o contexto aplicado do qualitativo, o filme de Nolan é sim melhor do que ‘Barbie’. Porém, 70% das pessoas que eu conheço iriam simplesmente ignorar a existência dessa obra sem o filme contando uma história baseada na boneca da Mattel.

Uma história original. Roteiro original. Apenas os palhaços da Academia de Hollywood entendem que um filme INSPIRADO (e não baseado) em um brinquedo é uma adaptação. E aqui, temos apenas mais um capítulo do absurdo boicote ao filme da dupla Gerwig e Robbie.

Em um ano de 2023 que foi terra arrasada nos cinemas de todo o mundo, com vários filmes blockbuster com bilheterias pífias, ‘Barbie’ fez com que ‘Oppenheimer’ se tornasse minimamente relevante para o grande público.

E os machos-alfa da espécie ficaram ofendidinhos com uma mulher assumindo o protagonismo de um universo que, até então, era controlado com mãos de ferro pelos homens.

 

O empoderamento feminino incomoda

‘Barbie’ contou a história de transmutação da então chamada “Barbie estereotipada” em uma mulher independente, com planos, sonhos e controle da própria narrativa. Ou seja, o verdadeiro pesadelo dos homens.

Bem antes do filme estrear, ele já era repudiado e massacrado por homens de personalidade frágil e mente fraca. Acusado de ser o “filme da lacração”, os discursos eram os mais verborrágicos e misóginos, antes e depois da estreia do longa.

Aliás, eu fui um daqueles que dei a deixa: mulheres, o teste definitivo se seus namorados, maridos, companheiros, namoridos, amantes, ficantes e peguetes prestavam ou não era justamente o interesse em assistir ou não ao filme (e, se assistiram, se saíram revoltados com tudo o que viram).

Para os homens com masculinidade frágil ou machismo em níveis estratosféricos, ‘Barbie’ é uma ofensa. Um atentado violento à realidade que eles sempre viveram.

Mais do que isso: é uma ameaça ao macho escroto dito dominante da espécie, pois poderia despertar nas mulheres o sentimento de “virada de jogo”. Afinal de contas, nunca o sistema patriarcal foi apresentado de forma tão escancarada e didática na história do cinema.

Essa autêntica revolução feminina em forma de filme teve o mesmo efeito prático que castrar muitos homens em Hollywood, que estavam testemunhando o que poderia ser o fim de um império que eles lutaram tanto para construir ao longo de mais de 100 anos.

Onde já se viu… que absurdo! John Wayne está revirando no túmulo neste momento (mais ainda com a indicação de Lily Gladstone na categoria de Melhor Atriz).

E o legado que Harvey Weinstein deixou para essa indústria tão séria? Será simplesmente soterrado porque Greta Gerwig e Margot Robbie decidiram mostrar que os homens são os grandes vilões da liberdade e independência feminina?

“Calúnia!”, bradam as mentes masculinas de Hollywood mais fragilizadas por todos os discursos apresentados em ‘Barbie’. Detalhe: de forma curiosa ou não, a imensa maioria dos chorões são homens brancos, héteros, de idade avançada e com pensamentos conservadores…

…mas alguns deles visitaram a tal ilha de Jeffrey Epstein.

Coincidência? Estou duvidando!

 

Um bando de covardes puniu Gerwig e Robbie

A lista de indicados ao Oscar 2024 tem sim alguns absurdos gritantes (e vou falar sobre isso em outro artigo). Porém, as ausências de Greta Gerwig na categoria de Melhor Direção e de Margot Robbie em Melhor Atriz são autênticas aberrações.

Robbie ainda está minimamente contemplada pela indicação de Melhor Filme, e ela ainda está disputando o Oscar de alguma forma por ser a produtora executiva do filme. Porém, ela é o símbolo máximo desse projeto. É a cara e a voz desse filme. Jamais poderia ter ficado de fora da indicação para Melhor Atriz.

E no caso de Greta Gerwig, que dirigiu apenas e tão somente o maior e mais relevante fenômeno cinematográfico de 2023, não ter o seu trabalho de direção reconhecido foi uma forma de ceifar e tentar aniquilar a sua genialidade criativa. Um autêntico crime contra o bom senso.

Para completar o excremento fecal que foi jogado na nossa cara com tantas injustiças nas indicações, ‘Barbie’ foi redirecionado, de forma cretina e manipuladora, para a categoria de Melhor Roteiro Adaptado, concorrendo com verdadeiras potências como ‘Oppenheimer’ e ‘Pobres Criaturas’.

Tem gente que vai dizer “ah, mas se ‘Barbie’ é tão bom assim, que se banque e vença”.

Meu querido idiota que defecou ao escrever tal afirmação… em TODAS AS OUTRAS PREMIAÇÕES, ‘Barbie’ foi indicado na categoria correta: Melhor Roteiro Original. Afinal de contas, essa história não é uma adaptação de outro filme ou de uma obra literária que já existia, como sempre foi.

Mas… os machos-alfa da Academia de Hollywood INVENTARAM que ‘Barbie’ era “uma adaptação de uma boneca”… que nem história de origem tinha! O que foi contado no filme não é a história real da criação da boneca Barbie!

E qualquer imbecil sabe disso!

E Hollywood mostrou que ‘Barbie’ é sim um filme necessário, punindo Gerwig e Robbie, as principais responsáveis por essa história ser conhecida por tantas pessoas.

 

O reconhecimento irônico

A Academia de Hollywood (e os idiotas de plantão) contam com a desculpa pronta:

“Vocês estão reclamando à toa. ‘Barbie’ recebeu oito indicações ao Oscar 2024. O filme foi reconhecido”.

Em partes.

As indicações como Melhor Canção Original eram óbvias (e ainda acho que “What Was I Made For” é o Oscar garantido para o filme), e Ryan Gosling mereceu a sua indicação como Ator Coadjuvante. A grande surpresa aqui foi America Ferrera ser indicada como Atriz Coadjuvante, pois (quase) ninguém esperava por isso.

E se ‘Barbie’ não fosse indicado à Melhor Filme, o público processaria a Academia de Hollywood no dia seguinte, e o Xandão iria impugnar a escolha dos finalistas ao grande prêmio.

Os membros da Academia responsáveis por essa aberração em desfile sabem muito bem que essas exclusões das duas principias responsáveis por ‘Barbie’ foram escolhas direcionadas. Foram recados claros.

Foi uma resposta do coletivo que se incomodou com o filme.

Gosto não se discute, e eu aceito isso. Mas qualidade e mérito? Se discute sim.

Eu desconfio se o Oscar 2024 teria essa relevância toda sem ‘Barbie’ na corrida. Da mesma forma como aconteceu nos últimos cinco anos, onde essa premiação, que está virando cada vez mais um evento insignificante, dependeu dos grandes eventos de público para ter algum tipo de visibilidade.

‘Pantera Negra’, ‘Vingadores: Ultimato’ e ‘Top Gun: Maverick’ foram os motivos para o Oscar ter algum tipo de visibilidade junto ao grande público, que está cada vez mais defecando e se locomovendo para as escolhas dos velhos brancos héteros que não entendem que o mundo está avançando.

E o mundo avança, a ponto de encontrarmos narrativas tão bem desenvolvidas como ‘Barbie’, que fala do mundo machista opressor com um discurso irônico e direto, passivo agressivo e divertido, provocativo e ousado.

Necessariamente ácido para que até os homens idiotas entendam onde o roteiro quer chegar.

E, antes que eu me esqueça: nem vem me acusar de etarismo. Todo mundo em Hollywood sabe que o que está atrasando a indústria do cinema é esse povo que perdeu o bonde da história, com mentalidade rançosa e atrasada, acreditando que sabe tudo, mesmo quando o mundo diz exatamente o contrário.

Para essa galera que parou de pensar, ‘Barbie’ foi uma ofensa ao direito deles de serem machistas e misóginos. De serem assediadores, de tratarem mulheres como lixo ou objeto sexual. De só permitirem que uma mulher vença nessa indústria se passarem pelos crivos deles.

E como ‘Barbie’ foi um dos maiores fenômenos de massa dos cinemas dos últimos cinco anos (só me lembro de algo parecido em ‘Vingadores: Ultimato’), tudo o que restou foi punir as responsáveis por esse filme se tornar uma realidade.

Punir as mentes criativa e executiva de uma história que coloca as mulheres no controle, com empoderamento e protagonismo, foi a forma da Academia de Hollywood validar ‘Barbie’ para o tempo presente.

É irônico, cruel e revoltante. Mas validou os discursos de Gerwig e Robbie.

Eu não tenho lugar de fala. Mas como ser racional, eu falo mesmo assim.

Pois o boicote à ‘Barbie’ foi uma das maiores palhaçadas que o Oscar produziu em toda a sua história.


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@oEduardoMoreira