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Dois Papas que eu gostaria de ter como meus amigos

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Vou tentar refazer a minha imagem com os católicos. Alguns deles estão meio bravos comigo depois da pergunta polêmica que eu fiz diante da recente tentativa de censura. Mas para mostrar que eu sou um cara legal, quero falar sobre outro filme que fala diretamente com a turma do “pai, filho e espírito santo”, que também está na Netflix.

Bom, quero dizer… vou falar para aqueles que não cancelaram a assinatura depois dos últimos acontecimentos.

Dois Papas.

Antes de mais nada, é preciso deixar bem claro que este filme, apesar de ser muito bem feito, não retrata fatos reais. E é importante que algumas pessoas que estão reclamando sobre o que foi apresentado entendam isso de forma muito clara. Dois Papas é um filme INSPIRADO EM FATOS REAIS. Ou seja, existe toda uma liberdade narrativa e várias doses de licença poética para apresentar uma versão ficcional dos bastidores de uma visita do então Jorge Mario Bergoglio ao também então Papa Bento XVI (aka Joseph Aloisius Ratzinger).

A história parte de eventos que realmente aconteceram, como a visita dos dois protagonistas, mas os diálogos retratados são ficcionais. Aliás, existem inconsistências diversas sobre características pessoais dos dois personagens. Mas… de novo, é uma história de ficção. Se o filme é tão bom a ponto de fazer algumas pessoas acreditarem que tudo aquilo realmente aconteceu da forma como o filme apresentou, é missão cumprida para o filme. E eu acho isso incrível.

O que torna Dois Papas um filme muito mais interessante do que aparentemente ele se vendia a forma em como ele levanta suas questões e discussões de forma direta e, ao mesmo tempo, humanizando os seus protagonistas. Não acredito na teoria da conspiração que algumas pessoas de pouca fé levantaram sobre o filme, acusando a obra dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles de distorcer a imagem de Bento XVI para beneficiar a imagem de Francisco, ou até o suposto viés político que o filme aborda, tanto na igreja como na apresentação da ditadura militar da Argentina na década de 70.

As pessoas às vezes se esquecem que vivemos em um mundo político, e que esse não é um tema que está à margem da igreja. E quem é muito próximo dos envolvidos sabe que, em linhas gerais, as duas personalidades eram aquelas apresentadas no filme, e estão bem definidas, para quem quiser ver. Mesmo porque os dois protagonistas na vida real nunca se esforçaram para apresentar outro tipo de personalidade.

O filme bate pesado em temas polêmicos, como a ostentação da Igreja Católica, os casos de pedofilia dentro da instituição e a política interna para a escolha dos líderes máximos dessa religião. Por outro lado, assume um tom bem humorado para ilustrar e aliviar as diferentes visões teológicas de Bergoglio e Ratzinger. É muito interessante ver os duelos travados pelos dois em forma de diálogos aprofundados sobre o que é fé e qual seria a leitura correta dos ensinamentos de Jesus Cristo, com pontos de vista defendidos com entusiasmo e tensão.

Também é interessante ver como esses dois homens vão suavizando o discurso, compreendendo a natureza e as origens do outro, absorvendo também a ideia onde pensamentos diferentes não precisam ser conflitantes. E o ponto máximo do filme é deixar bem claro para quem quiser ver que uma das ferramentas mais poderosas para obter o verdadeiro perdão é justamente a compreensão sobre o próximo. Saber ouvir e entender as motivações daquela pessoa, e entender que ele é humano e falível.

Dois Papas é um filme excelente. É envolvente, mesmo sem ser um filme movimentado. Anthony Hopkins e Jonathan Pryce estão excelentes, em um roteiro recheado de diálogos que ajudam a entregar uma interpretação cheia de camadas e intensidade. A direção e a produção são impecáveis, colocando o espectador na atmosfera da história com uma imersão prazerosa.

E é o tipo de filme que você tem vontade de assistir mais vezes. Eu mesmo quero ser amigo pessoal de Bergoglio e Ratzinger. Se algumas pessoas vão dizer “mas não é bem assim”, eu prefiro dizer “se for assim, está bom demais”. As várias lições positivas e pontos de reflexão que Dois Papas entrega já valem (e muito) que você, católico, cristão, judeu, ateu, agnóstico, corintiano e ser humano que gostou de verdade de Star Wars: A Ascensão Skywalker, pelo menos dê uma chance para esse filme onde dois líderes religiosos se encontram para discutir visões religiosas divergentes, com conversas sobre música e futebol nos intervalos.

 


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@oEduardoMoreira