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Meninas Malvadas: O Musical (2024) | Cinema em Review

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“Meninas Malvadas” (de 2004) é um ícone da cultura pop. É um dos filmes mais relevantes dos últimos 25 anos, antecipando tendências e discussões que perduram até hoje. E pelo menos duas gerações foram impactadas por essa história.

O filme, baseado no livro “Queen Bees & Wannabes” de Rosalind Wiseman, mostra de forma clara como o ambiente escolar daquela época era tóxico para um grupo de adolescentes que já praticavam o bullying e o assassinato da reputação alheia quando esses termos sequer tinham sido inventados.

E como muitos de nós nos identificamos com esse comportamento de coletivo, ficou muito fácil gostar dessa história e refletir sobre ela ao longo de 20 anos. Até porque tudo foi contado sob a ótica da genial Tina Fey, responsável pelo roteiro do filme original.

Agora, 20 anos depois, temos a revisão dessa trama, em “Meninas Malvadas: O Musical”. E se você estava receoso em testemunhar um “mais do mesmo” de quase duas horas de cantoria adolescente, eu digo: o sangue (e o cérebro) de Tina Fey tem poder!

 

Você conhece essa história. Porém…

Eu preciso deixar algumas coisas bem claras logo de cara.

Primeiro, essa não é uma continuação do filme de 2004. “Meninas Malvadas: O Musical” é uma adaptação para os cinemas do espetáculo da Broadway que também teve seu desenvolvimento assinado por Tina Fey, o que garante a qualidade do projeto.

Segundo, a história principal do filme é a mesma de 2004, com os mesmos personagens interpretados por outros atores (que, majoritariamente, conseguem cantar e atuar), com exceção da própria Tina Fey e de Tim Meadows, que repetem os seus respectivos personagens, Mrs. Norbury e Diretor Duval.

Logo, com essas informações em mente, meu principal conselho é uma missão quase impossível: tente evitar as comparações do filme de 2024 com o clássico de 2004. Eu sei, é algo muito difícil, pois estamos falando de uma história icônica. Mas a melhor forma de aproveitar a experiência de “Meninas Malvadas: O Musical” é assistindo tudo como se fosse uma versão alternativa da história que você já conhece.

Isso mesmo que você pensou: um Multiverso. É… você está entendendo onde eu quero chegar…

Encare esse filme como uma história sendo contada a partir de outra perspectiva. E essa trama deixa isso bem claro logo na primeira cena, já que quem “narra” tudo dessa vez não é a Cady Heron, e isso muda um pouco a forma em como os eventos são compartilhados com o espectador.

Aliás, a principal missão de “Meninas Malvadas: O Musical” é justamente atualizar as mecânicas de comunicação com a audiência. Afinal de contas, o filme está conversando com um público jovem que é muito diferente daquele que viu o primeiro filme em 2004.

Em 2004, a internet não era essa força de comunicação em massa como é hoje. As redes sociais não tinham tanta influência, os smartphones não existiam (e os jovens não estavam conectados o tempo todo) e todas as causas e consequências eram trabalhadas de forma muito diferente do que acontece hoje.

O aditivo das plataformas digitais e sua velocidade de disseminação de distorções de narrativas alheias oferece para “Meninas Malvadas: O Musical” uma maior agilidade para o desenvolvimento da trama, algo que se conecta com os jovens de hoje. E isso é perceptível no andamento do filme.

Isso pode incomodar aos mais puristas que gostaram dos detalhes do desenvolvimento da história original. Mas entendo que esse “senso de urgência” do musical foi adotado para oferecer uma maior visibilidade para personagens que são importantes nesse processo de atualização de alguns temas abordados na história.

A trama central não tem spoilers. Quem viu o primeiro filme sabe como o segundo vai terminar. O que Tina Fey fez dessa vez foi modificar alguns detalhes e acontecimentos da narrativa, seja para corrigir eventuais erros históricos, seja para reposicionar decisões de personagens que são mais coerentes para o nosso momento presente.

Mas o mais importante aqui é que Tina Fey coloca o “dedo na ferida” de assuntos que já estavam presentes em 2004, mas que permanecem em 2024 como problemas cristalizados de nossa sociedade, mostrando que pouco aprendemos ao longo de 20 anos.

Sem falar nos conflitos atuais que estão ainda mais relacionados com tal assassinato de reputação e distorção da narrativa alheia, que foram potenciados na era das redes sociais. Nas mãos de uma mente criativa como a de Fey, é um prato cheio para críticas sutis, porém, perceptíveis.

Se é que dá para chamar de spoiler… temos algumas mudanças de narrativa, reposicionamentos de posturas de personagens, piadas bem localizadas e pelo menos uma participação especial que conecta de alguma forma os universos dos dois filmes.

E é claro que eu vou deixar a surpresa para você ver no cinema.

 

Vale o ingresso?

Com toda certeza.

“Meninas Malvadas: O Musical” surpreende, mesmo contando a mesma história que todo mundo conhece. Revisar os eventos é algo prazeroso, e acompanhar tudo a partir de outra perspectiva, em uma trama com contexto atualizado resultou em uma ótima experiência em uma sala de cinema.

É claro que aquelas pessoas que já alimentam dentro de si um ódio incondicional aos musicais nem vão chegar perto desse filme. Por outro lado, acredito que esse longa está alcançando o seu objetivo principal, que é conversar com as novas gerações que, por sinal, descobriu o filme de 2004 nas plataformas de streaming.

Na mesma sessão que eu, a maioria das pessoas presentes assistindo ao filme eram adolescentes. O que mostra que Tina Fey ainda tem o poder de conversar com gerações bem mais novas, com um humor ágil, sarcástico e inteligente.

O novo elenco ajuda (e muito) a deixar o filme de 2024 ainda mais interessante. Você cria empatia com os personagens que foram bem desenvolvidos pelos novos atores, com destaque especial para Reneé Rapp, que teve a ingrata missão de interpretar a poderosa Regina George e lidar com as comparações com Rachel McAdams. E entregou uma versão própria e cheia de personalidade da vilã dessa história.

E as músicas? São boas. Você sai do cinema pensando em fazer o download da trilha sonora do filme, e as letras são verdadeiros socos no estômago em alguns casos, deixando recados claros que precisam ser assimilados pela audiência. Só não sei se teremos hits chegando ao Hot 100 da Billboard.

“Meninas Malvadas: O Musical” é a nostalgia em seu estado puro, e chega em um momento necessário. Em tempos em que as redes sociais podem construir ou destruir pessoas, refletir sobre a nossa efetiva contribuição nesse processo como membros do coletivo é uma forma de aprender algo e, quem sabe, mudar o comportamento de alguma forma.

O filme bate em várias das mesmas teclas do passado, e o pedido por essa reflexão é tão atual como foi em 2004. Só espero que rir de si mesmo em 2024 não impeça o coletivo de repensar as posturas e atitudes, algo que aparentemente aconteceu com a geração de 20 anos atrás.

Em Tina Fey, eu confio. E você pode confiar também.


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@oEduardoMoreira