Tecnologia é sinônimo de evolução. E isso é algo óbvio para se dizer em um blog onde o produtor do seu conteúdo é um cara apaixonado pelo assunto.
Dediquei boa parte da minha vida acompanhando a evolução tecnológica, e ao longo de quase 15 anos, testemunhei como o setor evoluiu nos mais diferentes segmentos. Acompanhei como vários produtos nasceram, evoluíram e prevaleceram. Já outros chegaram ao mercado destinados ao fracasso.
E existe um grupo de produtos que simplesmente nasceram à frente do seu tempo, e não foram muito bem compreendidos pelo público e crítica. Dispositivos de tecnologia que poderiam ter feito um sucesso enorme se tivessem nascido no tempo certo, e não em um momento em que o mundo ao seu redor não estava preparado para a sua proposta.
Vamos então refletir sobre alguns desses produtos que se adiantaram ao seu tempo adequado para a compreensão de sua genialidade, chegando ao mundo antes do que deveria e entrando no grupo de dispositivos a frente do seu tempo.
E o mais importante: vamos procurar compreender o que tal expressão realmente representa para o mundo da tecnologia.
Tecnologias que chegaram cedo demais
Rapidamente, é possível lembrar do Google Glass, que já tem dez anos de vida. Uma década depois do seu lançamento, falamos de óculos de realidade aumentada como uma experiência minimamente atraente e crível. Porém, no passado, a ideia da gigante de Mountain View parecia genial, mas futurista demais. E o mundo daquela época não estava totalmente preparado para este conceito.
Outro dispositivo que chegou antes do período ideal foi o Motorola Atrix. Muitos leitores não se lembram dele, mas este foi um dos primeiros smartphones da era moderna a flertar com a convergência smartphone-PC, permitindo que os usuários transformassem o telefone móvel em desktops quando conectado em um dock que, por sua vez, seria conectado em uma tela ou monitor.
Hoje, quando falamos em smartphones que podem ser utilizados como desktops para a produtividade, encontramos soluções da Samsung que conseguem alcançar resultados práticos muito válidos. Mas naquela época, por mais inovador que o Motorola Atrix parecesse, ele não recebeu a acolhida que poderia ter para um dispositivo que tentava aumentar a produtividade do usuário.
Saindo um pouco do universo dos smartphones, encontramos o EV-1, o primeiro carro elétrico fabricado pela General Motors nos anos 90. Menos de 2.000 unidades foram vendidas, o que transformou o veículo em um fracasso nos aspectos comerciais. E como ninguém estava disposto a queimar dinheiro em ideias teoricamente naufragadas, o produto caiu no completo esquecimento.
E eu nem preciso dizer que, neste exato momento, vivemos uma verdadeira revolução para os formatos de carros híbridos ou elétricos. Porém, o caminho até chegar aqui foi longo o suficiente para justificar a desistência da General Motors no conceito de carros elétricos. Afinal de contas, eles só deram certo de verdade quase 30 anos depois, e não dá para prever o futuro a tão longo prazo.
No software, o Vine conquistou muitos usuários, mas morreu de forma prematura. E este é um exemplo negativo sobre como um produto chegou cedo demais no mercado, mesmo sendo totalmente funcional e adaptado às necessidades dos usuários de seu tempo. Ele até que aguentou bem durante um bom tempo, mas sucumbiu diante da necessidade de o novo surgir e, com ele, apresentar efetivamente os caminhos que o conceito adotado por ele poderia tomar.
E entre sucessos e fracassos, é importante definir exatamente o que significa um produto de tecnologia chegar muito antes do seu tempo no mercado.
O “a frente do seu tempo” no mundo da tecnologia
O entendimento geral ou definição mais aceita para o termo “a frente do seu tempo” no mundo da tecnologia é para um produto cuja vida e morte aconteceu antes que surgisse uma categoria onde ele se encaixaria e tivesse sucesso no mercado. Ou seja, é todo é qualquer produto que chegou ao mercado antes do próprio mercado estar devidamente preparado para ele.
Existem alguns exemplos emblemáticos de produtos ou tecnologias que apareceram no passado, mas que foram obrigados a esperar todo o desenvolvimento de outras tecnologias para um dia encontrar o seu lugar de destaque em nosso presente. Por exemplo, o vidro Gorilla Glass nasceu na década de 1960, e nenhum produto era capaz de incorporá-lo para aproveitar todas as suas características mais essenciais (telas pequenas que entregavam elevada resistência a quedas e golpes), até que o início do século XXI mudou essa perspectiva.
Porém, essa definição pode variar, diferente da tecnologia ou do conceito que estamos falando, o que deixa a interpretação desse conceito mais flexível e dinâmica. O exemplo do Google Glass pode ajudar a entender melhor este ponto: esse é um produto que continuou a sua evolução aos poucos, e não existe um produto equivalente que seja melhor e tão funcional no mercado. Por outro lado, existe o real interesse em levar a tecnologia de realidade aumentada para óculos inteligentes, e em alguns cenários tal conceito faz muito sentido, mas ainda é uma grande incógnita a sua relevância para o mercado no futuro.
Assim como existem algumas pessoas que estão gastando muito dinheiro para adquirir os óculos de realidade aumentada, outras pessoas estão pagando para se livrar delas. Ou seja, não sabemos se o futuro vai indicar para uma grande massa crítica de usuários interessada em comprar esse tipo de produto no futuro. Logo, não dá para dizer que óculos de realidade aumentada são produtos que estão a frente do seu tempo, tal e como está determinada pela definição mais aceita pelos especialistas em tecnologia… por enquanto.
Outro exemplo que explica melhor tudo o que eu quis dizer no parágrafo anterior está nos óculos do Meta ou do Snap. Eles estão muito longe dos propósitos gerais do Google Glass, mas ao menos funcionam dentro do conceito porque foram adaptadas para as suas respectivas redes sociais e nada mais.
Já o Motorola Atrix chamou a atenção do geek médio por algum tempo, o que já era uma vitória para um produto com o seu conceito. Outras marcas tentaram o mesmo com propostas similares, mas nunca alcançaram um êxito comercial, e seu relativo sucesso só veio com propostas como o Samsung DeX. Ou seja, o Atrix não pode ser considerado exatamente um produto a frente do seu tempo justamente pelo fato de poucos produtos similares consolidarem um segmento de mercado que, no final das contas, era só da Motorola e da Samsung na essência.
Sobre o carro 100% elétrico da General Motors, ele falhava na autonomia de bateria, o que resultou no recall em massa do veículo. A grande maioria das unidades adquiridas via leasing foram destruídas, e, mesmo com tudo isso, é inegável que este foi um veículo a frente do seu tempo. Este foi considerado o primeiro carro elétrico da era moderna, e não teve tanta sorte para fincar o seu nome na história como um produto que foi bem-sucedido nos aspectos comerciais. Quem teve essa honra foi o Tesla Model S.
O Sony Glasstron é outro produto que pode entrar na lista dos que inovaram demais em um tempo em que o mundo não estava preparado para a sua existência. O produto era uma espécie de capacete de realidade virtual lançado em 1996, e foi descontinuado em 1998, depois de sua quinta versão. No final, ele naufragou, e quem popularizou este formato de produto no mercado foi a Oculus.
No mesmo conceito estava o Sega Channel, serviço de jogos online mediante pagamento que a SEGA desenvolveu em 1993. Ele usava um cabo coaxial e dependia de acordos com outros broadcasters e desenvolvedores. Na prática, era muito mais limitado que qualquer plataforma atual de jogos online, mas era uma verdadeira façanha para a primeira metade da década de 1990. Definitivamente, era um conceito a frente do seu tempo.
Por fim, muitos lembram também do Autoped, um produto que até mesmo os mais veteranos em tecnologia nunca ouviram falar. Este era uma espécie de patinete elétrico que foi lançado em 1915, e foram necessários mais de 100 anos até que esse mesmo tipo de produto ganhasse a popularidade e reconhecimento merecidos.
Grandes empresas de tecnologia e de consumo tiveram nas mãos produtos que se anteciparam demais no tempo. Gadgets e veículos de qualidade, onde o mundo e a humanidade não estavam completamente preparados para assimilar os seus elementos de inovação.
Maldita prematuridade.