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O streaming fracassou em 2023

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Não precisava ser nenhum Sherlock Holmes ou especialista no setor para concluir que a bolha do streaming estourou com toda a força do mundo na cara do mercado, tal e como aconteceu com o cinema.

Os números são desanimadores para todas as principais plataformas de streaming, mas principalmente para aquelas que não respondem pelo nome Netflix.

Quem optou por enfrentar a força dominante do streaming ao redor do mundo se ferrou lindamente, e é importante entender o tamanho dessa derrota para tentar descobrir o que vai acontecer com o futuro do nosso cartão de crédito.

 

O streaming, como negócio, é um fracasso.

Contra números não há argumentos.

Os números apresentados no relatório publicado pelo Financial Times indicam que os competidores de Netflix enfrentaram perdas superiores a 5 bilhões de dólares em 2023.

Em um segmento que luta para encontrar um formato que seja lucrativo para as empresas e, ao mesmo tempo, viável para o consumidor, prejuízos desse porte soam como trombetas de crise iminente.

O modelo de negócios das assinaturas mais parece nesse momento uma estrutura de pirâmide multinível, onde a rentabilidade exige muitos assinantes.

Por outro lado, a manutenção desses mesmos assinantes exige uma produção constante de conteúdo, aumentando significativamente os gastos dos estúdios e plataformas.

Ou seja… a conta não fecha, de jeito nenhum.

 

Mercado de streaming desfragmentado

A análise revela que o mercado do streaming está fragmentado, com apenas a Netflix prevendo lucros em 2023, enquanto outras plataformas, como HBO Max, Disney+ e Paramount+, enfrentam prejuízos expressivos.

Nem todos os esforços feitos pela concorrência para destronar a Big N foram suficientes para mudar o cenário de momento, mesmo com a Netflix com um catálogo mais fraco e punindo os usuários com uma pior relação custo-benefício.

A concorrência também não ajudou. Fatores como aumento de planos e restrições no compartilhamento de contas afetaram negativamente algumas plataformas.

O mais bizarro é que a Netflix contrariou todas as expectativas neste aspecto, mesmo realizando os mesmos movimentos que a concorrência.

A plataforma ganhou 9 milhões de clientes ao investir massivamente em produções de séries e filmes, ao mesmo tempo em que acabou com a divisão de contas, eliminou o plano básico sem anúncios e aumentou os preços de mensalidade em vários mercados internacionais.

Vou repetir o meu mantra do ano passado: o plano da maldita funcionou.

 

Como está o cenário para o resto?

E não me entenda mal. O “resto” composto por potências do mundo do entretenimento virou mesmo resto diante dos fatos apresentados.

Embora a Disney+ tenha conquistado 8 milhões de usuários, seus resultados são desanimadores, acumulando 1,6 bilhão de dólares em perdas e demissões significativas devido a filmes com desempenho fraco nas bilheteiras e falta de rentabilidade no streaming.

A Disney ainda está tentando se reorganizar com a volta da era Bob Iger na empresa. Os filmes da Marvel não foram bem nas bilheterias (em sua maioria; a grande exceção foi Guardiões da Galáxia Vol. 3) e nenhum filme da franquia Star Wars deu as caras nos cinemas.

Já a HBO Max, apesar de encerrar o ano com lucros modestos, teve que licenciar séries emblemáticas para outras plataformas, enfrentou cancelamentos e a perda de 2 milhões de assinantes.

Ainda desconfio (e muito) da capacidade de David Zaslav em gerenciar esse negócio. A união com o grupo Discovery foi desordenada, e a possível parceria com o Paramount+ deixa alguns acionistas preocupados.

Sem falar que os filmes da DC mais atrapalharam que ajudaram, com histórias ridículas e bilheterias fracas. E no meio de tudo isso, o HBO Max vai virar Max na América Latina ainda neste primeiro semestre.

Um cenário de caos.

E já que falamos do Paramount+, devo informar que a situação desse serviço de streaming é considerada crítica.

Registrando enormes perdas em 2023, a Paramount+ busca desesperadamente fusões ou vendas, negociando possíveis acordos com Skydance e Warner para enfrentar a crise financeira.

Ao que tudo indica, os conteúdos da Paramount+ vão para o Max em um futuro a médio prazo. E quem assiste Harry Potter poderá ver no futuro a franquia Missão: Impossível, o que não deixa de ser uma bela adição ao serviço.

Sem cifras específicas, a análise sugere que as perdas da Apple TV+ estão alinhadas com as demais plataformas, embora a empresa não veja isso como um problema significativo.

E isso é bem simples de explicar: para a Apple, o serviço de streaming é um “apenas mais um” dentro de suas divisões. Enquanto o iPhone vender como água no deserto, o Apple TV+ não será um grande problema para Tim Cook.

 

Perspectivas para o futuro

Com mais de 5 bilhões de dólares em perdas, os especialistas concordam que a única solução para a indústria do streaming é a fusão, licenciamento de conteúdo ou a redução, pois a manutenção de plataformas individuais se tornou algo insustentável.

De forma curiosa, o mercado de streaming terá que voltar para a sua origem.

No começo, todo mundo licenciava conteúdo para a concorrência, e lucrava alguma coisa com isso. Depois, todos entenderam que concentrar os conteúdos em um único serviço era uma forma “interessante” de manter os assinantes fieis nas plataformas.

Deu ruim. Deu muito ruim.

A conta não fechou. Os assinantes passaram a pagar mais do que a TV por assinatura para assistir a tudo o que desejavam, e aqueles que não contavam com saldo infinito no cartão de crédito passaram a escolher o que assistir, cancelando as plataformas que não eram consideradas indispensáveis.

O relatório destaca que o sucesso do modelo de negócios de streaming pode ser afetado por fatores externos, como inflação, conflitos e eventos imprevisíveis, o que ressalta a volatilidade desse setor.

E como dinheiro não dá em árvore, os usuários decidiram segurar a carteira e só assinar o que é essencial.

Até porque comer ainda é mais importante que ver Ilhados com a Sogra.


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@oEduardoMoreira