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Mamonas Assassinas – O Filme (2023) | Cinema em Review

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Eu estava naquele show de outubro de 1995. A Mamonas Assassinas já era a banda mais popular do Brasil na época, e aquele ginásio Plácido Rocha nunca ficou tão cheio.

Confesso que o fator nostalgia foi um dos motivadores para sair de casa em uma tarde de chuva para assistir ao filme que conta como foi construído o meteórico sucesso dessa banda de Guarulhos.

Mas estou aqui para comentar um filme como um todo, e não apenas as boas memórias da minha adolescência. A boa notícia é que eu confirmei que o passado era melhor do que o presente, em vários aspectos.

 

Sobre a história

“Mamonas Assassinas – O Filme” acompanha a trajetória dos cinco integrantes originais da banda que, em apenas oito meses, tomou o Brasil de assalto, com um pop-rock irreverente e original.

Dinho (Ruy Brissac), Júlio (Robson Lima), Bento (Alberto Hinoto), Sérgio (Rhener Freitas) e Samuel (Adriano Tunes) formaram um dos grupos mais inesperados e inicialmente desacreditados pelo grande público.

Desde o início do Utopia até o último show em Brasília, essa história mostra como a banda Mamonas Assassinas se tornou um sucesso estrondoso em um curtíssimo espaço de tempo;

O quinteto precisou de muitas tentativas frustradas para conseguir mostrar que podia ser a próxima grande banda do Brasil, superando os corres do dia a dia e a descrença de alguns “amigos” no início da carreira.

Todo mundo sabe como essa história terminou (infelizmente), mas poucos sabem de detalhes peculiares do começo e do meio. E esse é um dos motivos para pagar o ingresso e acompanhar essa história.

 

A aposta na nostalgia se paga?

Em partes, como diria o Jack.

A escolha de elenco de “Mamonas Assassinas – O Filme”  se esforçou em escolher atores que fossem fisionomicamente parecidos com o quinteto. Incluindo a escolha de Beto Hinoto, sobrinho do guitarrista Bento, que também é músico.

Por outro lado, para quem testemunhou as personalidades públicas dos integrantes da banda, a impressão que fica é que a atuação se afastou um pouco do comportamento divertido que os saudosos integrantes transmitiam.

Ruy Brissac lembra bastante Dinho na fisionomia e nos gestuais, mas perde carisma, quase pendendo para a arrogância e pedância. A não ser é claro que o vocalista dos Mamonas Assassinas realmente tivesse uma personalidade mais errática na realidade (e preciso ler algumas biografias para ter certeza disso).

No restante do elenco, até existe um esforço para deixar claro quais são as diferentes personalidades dos membros da banda. Porém, acaba soterrando alguns membros do grupo para dar foco evidente para pelo menos três personagens.

“Mamonas Assassinas – O Filme” concentra sua narrativa principal principalmente em Dinho e nos irmãos Sérgio e Samuel. Bento e Júlio (este último seria aquele que teve o tal sonho premonitório antes do acidente) viram coadjuvantes quase inexistentes na narrativa.

A trama flutua entre o desejo de Dinho em ser famoso para mostrar para todos que poderia vencer na vida e as diferenças de personalidade (com algumas situações muito peculiares) entre Sérgio e Samuel. No meio de tudo isso, temos Rick Bonadio, mentor da banda, e toda a história que resultou nos Mamonas Assassinas como plano de fundo.

O filme conta aqueles que são os principais e mais pitorescos momentos que envolvem a banda, mas peca no roteiro desorganizado e na edição apressada. É o problema de querer contar muita coisa em apenas 90 minutos de filme.

A produção demonstra ser reduzida, pois várias cenas claramente foram gravadas em um único dia, aproveitando cenários e figurantes para diferentes situações.

Alguns momentos de “Mamonas Assassinas – O Filme” até servem para mostrar quais foram as inspirações para as músicas do único disco da curta carreira da banda. Já outros são colocados de forma quase descontextualizada, mostrando mais uma vez como a montagem desse filme foi confusa (para não dizer ruim mesmo).

Aliás, essa montagem é vítima de um roteiro que deixa muito a desejar na construção da história. Não existe profundidade na narrativa (e nem poderia esperar isso em um filme que existe para atender aos fãs), e os personagens chegam prontos em seus respectivos pacotes.

A boa notícia é que ao menos o filme mostra que os integrantes dos Mamonas Assassinas eram humanos como qualquer um de nós. E fizeram sucesso justamente por cantar as bobagens que nós, meros mortais, jamais tivemos a coragem de compartilhar em público.

 

Vale a pena?

Pode não parecer, mas não desgostei por completo de “Mamonas Assassinas – O Filme”. Entendo que ele foi feito para alimentar a base de fãs da banda, que se mantém fiel aos caras até hoje e é consideravelmente grande.

Tão grande, que esta é a maior estreia do cinema nacional desde a pandemia. A popularidade da banda, o fator nostalgia e a curiosidade em saber mais sobre essa história explicam todo esse movimento aos cinemas.

Eu mesmo assisti ao filme em uma sala com muitas pessoas (não estava lotada) para uma segunda-feira no final de tarde, o que reforça que o filme será um sucesso de bilheteria.

Porém, entendo que nem mesmo a nostalgia faz com que eu vire as costas para os problemas que detectei no roteiro, produção e montagem do longa.

Se eu estivesse de mau humor, chegaria a afirmar que tudo o que vi em “Mamonas Assassinas – O Filme” foi um grande “caça níquel” de baixo orçamento. Mas não quero ser maldoso a tal ponto.

Mas não posso deixar de compartilhar o sentimento de que poderia ter esperado o filme chegar ao streaming com relativa facilidade.

Se coloco “Mamonas Assassinas – O Filme” ao lado de “Mussum, o Filmis”, o longa que conta a história do integrante dos Originais do Samba e membro de Os Trapalhões é substancialmente melhor na proposta e no resultado final.

Mas acredito que o filme dos Mamonas Assassinas vale para voltar no tempo, reviver o passado e torcer pelo sucesso dos caras de Guarulhos. Foi assim que saí do cinema: pensando em como era a minha vida em 1995, e como foi bom viver aquele tempo em que essa banda era a mais popular do Brasil.

Pelo efeito nostálgico, “Mamonas Assassinas – O Filme” até que vale o ingresso. Estamos falando de (talvez) o último grande fenômeno musical brasileiro em sua história (em escala, o furacão Anitta não alcançou tamanha magnitude em tão pouco tempo).

Mas como filme… é preciso ter uma enorme dose de boa vontade para relativizar os seus problemas.

 

“Mamonas Assassinas – O Filme”
Brasil, 2023
Roteiro: Carlos Lombardi
Direção: Edson Spinello
Nota: 5/10


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@oEduardoMoreira