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Disney Adults são O problema?

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Vamos concordar com duas realidades práticas da vida logo de cara: 1) quem tem dinheiro neste mundo são os adultos, e não as crianças; 2) e todo adulto é uma criança crescida que possui um cartão de crédito na carteira.

Dito isso, está mais do que claro que a Disney já não se limita ao público infantil, atraindo adultos que seguem a marca de maneira extensiva ao longo de décadas. A aposta em um Disney+ voltado para todos os públicos e os parques cheios de adultos sem crianças são duas provas cabais do que estou falando.

Os Disney Adults, criticados por seu aparente infantilismo, investem economicamente em merchandising, viagens e plataformas de streaming. E isso está impactando seriamente a percepção coletiva sobre o “mundo mágico” de Walt.

 

Hoje, a Disney quer mais os adultos que as crianças

O movimento de Bob Iger é evidente. A Disney entendeu que hoje são os adultos o maior público consumidor dos seus produtos e serviços, muito em parte pela nostalgia que está no topo de sua popularidade.

As tais “crianças crescidas” estão consumindo e produzindo mais e mais conteúdos relacionados ao passado não muito distante, ou ao presente empolgante. Sim, pois o fenômeno Marvel Studios é relativamente recente.

Logo, muitos produtores de conteúdo que estão na casa entre 30 e 45 anos estão nas redes sociais e plataformas de vídeos falando sobre os conteúdos da Disney. E Bob Iger gosta muito disso.

Um exemplo do que eu estou falando é o iDanny, um Disney Adult com presença no TikTok dedicado a falar sobre os conteúdos relacionados à empresa do Mickey

Séries em streaming, parques e merchandising são os principais temas do influencer. Segundo ele, os filmes da Disney têm níveis de profundidade que atraem tanto crianças quanto adultos.

Ele não deixa de ter uma certa dose de razão no que está falando: UP – Altas Aventuras, Divertida Mente, Viva – A Vida É uma Festa, Wall-E e tantos outros reforçam essa teoria.

Além da nostalgia e da conexão afetiva com as histórias, alguns adultos valorizam o componente econômico do merchandising dos produtos Disney.

Para iDanny, os objetos adquirem mais valor na vida adulta, seja por sua disponibilidade limitada ou pelas memórias que evocam. No final, o colecionismo acaba virando uma forma de capitalizar em cima dessa paixão pela marca.

Todos esses fatores são observados com muita atenção pelos principais executivos da Disney, e a empresa está entregando cada vez mais aquilo que as pessoas que podem pagar mais desejam.

E o mundo mágico das crianças vai desaparecendo. Lentamente.

 

Isso é ridículo, mas é lucrativo para a Disney

 

Os Disney Adults chegam ao cúmulo de protagonizam casamentos temáticos e extensas reportagens fotográficas nos parques da Disney sem a presença de crianças.

O cenário descrito mais parece com Las Vegas do que com um parque voltado para o público infantil, o que desperta em algumas pessoas (eu, inclusive) uma certa dose de preocupação.

Não comigo, que nunca vai chegar perto de um parque da Disney porque, oras bolas, eu sou pobre e reconheço a minha realidade. Mas para as crianças que ainda acreditam que aquele é o melhor lugar do mundo para se estar.

A empresa reconhece a rentabilidade desses clientes e os transforma em estrelas na sombra de seus parques. Em consequência disso, as crianças estão desaparecendo do local, criando um efeito estranho e até perturbador em alguns casos.

Um artigo publicado pelo Business Insider destaca que os adultos investem mais no lazer da Disney do que as famílias com crianças. Normalmente são casais sem filhos que aproveitam a estabilidade financeira para usufruir daquilo que nunca tiveram a chance na infância.

Os parques e museus são a principal fonte de receita da Disney, e a empresa busca torná-los mais atrativos para adultos sem filhos. E o único motivo para isso é o mais óbvio de todos: é esse perfil que está mais propenso a pagar por essa experiência.

De novo: crianças dependem de adultos para praticamente tudo nos aspectos financeiros, e pais com dois filhos precisam priorizar a alimentação e o estudo na maior parte do tempo.

Para a maioria das famílias, não há espaço no orçamento para uma visita aos parques da Disney, pois essa é uma experiência iminentemente cara. Logo, os adultos sem filhos estão se tornando a prioridade do Mickey.

 

Contra números não há argumentos

Segundo um trabalhador anônimo, entre 40 e 50% dos visitantes nos parques de Orlando são adultos sem crianças. Esse aumento leva a Disney a mudar sua estratégia, reconhecendo a importância desse segmento.

O Epcot na Disney World, dedicado à cultura internacional e tecnologia, é um exemplo de parque voltado para adultos que está ganhando uma relevância cada vez maior.

A empresa busca que os adultos gastem mais nos parques, como evidenciado em lugares como o Space 220, um restaurante espacial com custos elevados para entregar uma experiência diferenciada.

Eu só me pergunto se as crianças não gostariam de desfrutar de uma refeição em um lugar incrível e cheio de tecnologia. Mas acho que Bob Iger não está pensando nisso neste momento.

Na prática, os adultos podem desfrutar de atividades vetadas para famílias com crianças, como passeios por pavilhões internacionais provando coquetéis típicos.

Isso mesmo que você acabou de ler: bebidas alcoólicas nos parques da Disney. Não que isso não acontecesse antes, mas não com tanta ênfase e com público claramente direcionado.

É até de se estranhar ver isso em uma empresa que briga tanto pelo “Family friendly”.

A Disney oferece um guia de entretenimento adulto local, reconhecendo a capacidade econômica desse grupo e investindo pesado para ter um retorno ainda mais substancial.

Isso fica claro na estratégia de recuperar os ícones que fizeram sucesso décadas atrás no cinema, com remakes de filmes como ‘A Pequena Sereia’ e ‘O Rei Leão’, visando cativar adultos que se encantaram com as produções na infância.

O problema é que, sinceramente, eu não conheço uma pessoa de bom senso que realmente queira esses remakes live action das animações do passado. Eu mesmo detestei todos que eu vi até agora.

Mas como o novo ‘O Rei Leão’ superou a marca de US$ 1 bilhão nas bilheterias, eu simplesmente me calo.

Reconheço que a estratégia funciona para a empresa do Mickey. iDanny revela que gasta cerca de 150€ por mês em produtos Disney, excluindo as visitas aos parques.

Seu amor pela Disney o leva a visitar repetidamente os parques ao redor do mundo, mostrando a dedicação e o investimento econômico dos adultos nessa paixão.

E não duvido que outros adultos ao redor do mundo estão fazendo exatamente a mesma coisa, fazendo a roda de dinheiro da Disney girar de forma até surpreendente.

Enquanto isso, as crianças ficam de fora. Assistindo ao lento desaparecimento do seu “mundo mágico”.


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@oEduardoMoreira