Eu me sinto bem confortável com um Xbox Series X ao lado da minha Smart TV. Talvez não ficasse tão satisfeito com o PlayStation 5 ocupando tanto espaço aqui no apartamento, mas sei que estou afirmando isso apenas porque não tenho recursos financeiros para ter o videogame da Sony.
De qualquer forma, algumas pessoas defendem a ideia de que os consoles domésticos deveriam ser extintos. Uma vez que você pode simplesmente rodar os jogos a partir do smartphone e espelhar as imagens para a TV ou até mesmo ter esses mesmos títulos rodando na tela a partir de um sistema de Smart TV, não faz mais sentido ter um dispositivo dedicado a executar os games, certo?
Bom… vamos tentar entender juntos o que está acontecendo.
A questão estética é importante, claro
Os produtos de tecnologia estão, de uma forma ou de outra, alinhados com o grande público consumidor, que hoje é composto pelas novas gerações. Pessoas que são pelo menos 20 anos mais novas do que eu, e que aprenderam a abraçar estilos de vida diferentes e alternativos.
Hoje, o jovem tem uma visão de mundo minimalista. Não se apega ao local onde mora (já que ele existe basicamente para se ter um lugar para dormir) e aprendeu a conviver com poucas coisas e em espaços pequenos.
Logo, tudo o que esse público menos deseja é ter diversos gadgets ao redor da TV. Diferente de mim, que socou videogame, receptor de TV por assinatura, Blu-ray, emulador e vários outros itens para o meu entretenimento.
Devo confessar que até eu estou aderindo ao conceito do “menos gadgets para ambientes mais limpos”. Decidi deixar o Xbox Series S e o emulador na TV do escritório, e a sala só tem o Chromecast com Google TV e o Blu-ray. Ficou melhor assim, já que a estética ficou mais limpa.
Logo, pensar no fim dos consoles por esse argumento não chega a ser nenhum absurdo. Na verdade, é uma tendência que pode se materializar em um futuro não muito distante.
Porém, a estética não é tudo neste mundo.
A Microsoft deu um importante passo neste sentido
Quando a Microsoft anunciou o projeto do xCloud, muitos entenderam qual seria o destino dessa jornada. Apesar do tempo que demorou para essa funcionalidade se materializar entre os jogadores, ela agora é uma realidade, e pode no futuro matar o videogame tal e como conhecemos.
Todo mundo sabe que não é com a venda de consoles que a Microsoft ganha dinheiro no mercado de videogames. É com a venda de jogos e assinaturas do Game Pass (Ultimate), além de todas as micro transações que acontecem dentro dos jogos.
Logo, se livrar dos consoles para garantir uma maior margem de lucro é algo que pode ser vital para que a Microsoft permaneça no jogo. E a empresa nunca esteve tão perto de alcançar tal objetivo, apesar de entender que existe um longo caminho pela frente.
O xCloud vinculado ao Game Pass (Ultimate) é uma grande sacada. Em termos práticos, o gamer não precisa ter um console Xbox para executar os jogos. Basta ter um smartphone ou Smart TV compatível com o serviço e pronto: pode começar a jogar sem maiores problemas.
Dá para dizer que o xCloud entrega mais do que o Google Stadia prometeu fazer no passado, e isso deve fazer com que a gigante de Mountain View desista do seu projeto de jogos via streaming.
Sem falar que a Sony parece ainda engatinhar com a sua proposta similar, pecando inclusive na retrocompatibilidade de jogos (apenas alguns títulos do PS3 são compatíveis com os jogos via streaming).
Tudo muito perfeito, certo?
Errado. A proposta dos videogames via streaming esbarra em um obstáculo que se faz presente para muitos jogadores ao redor do mundo.
Sem uma ótima conexão de internet, nada feito
O streaming de videogames é algo que eventualmente pode vira a substituir os consoles de videogames domésticos no futuro. Porém, até esse futuro chegar, a qualidade de conexão de internet ao redor do mundo precisa melhorar (e muito).
Esse problema não acontece apenas no Brasil, que é um país que cobra caro por uma conexão de internet ruim. Em outros grandes mercados, boa parte dos potenciais usuários dos games via streaming se encontram limitados pela largura de banda deficiente, pelas taxas de upload muito baixas, pela elevada latência e por planos que cobram muito para não entregar o suficiente para múltiplas tarefas conectadas.
Aqui, não estou falando apenas dos videogames, pois temos que considerar a possibilidade de qualquer pessoa ser obrigada a dedicar algum tempo de sua vida para pagar contas. É preciso ter uma boa conexão de internet para enviar grandes volumes de arquivos para o trabalho, realizar as chamadas de vídeo para as reuniões virtuais e, quando sobrar algum tempo, assistir a sua série preferida na Netflix via streaming.
Aliás, da mesma forma que a Netflix anunciou o fim da TV tradicional em dez anos, me arrisco a dizer que os consoles de videogames domésticos só vão desaparecer do mercado quando o problema da relação custo-benefício da internet for resolvido de forma decente.
Antes disso, o jogo não deve mudar com tanta facilidade.
Quando vai acontecer a morte dos consoles de videogames?
Essa pergunta é de difícil resposta.
A única coisa que posso afirmar neste momento é que realmente será dispensável ter um console doméstico de videogames no futuro, pois os jogos estarão na nuvem, em servidores ultra potentes e com uma qualidade de imagem excepcional.
O que estamos testemunhando neste momento sobre os jogos via streaming pode ser considerado “os primeiros passos” para essa mudança. E, ainda assim, quero esperar que o jogo não vai mudar para os próximos dez anos.
Há quem diga que a atual geração de consoles domésticos de videogames (Xbox Series X e S/PlayStation 5) será a última da história, ou pelo menos a última como conhecemos (utilizando algum tipo de formato físico para executar os títulos por exemplo).
Eu prefiro esperar mais um pouco para acreditar nessa afirmação. Não estou negando que a tecnologia dos jogos via streaming está amadurecendo. Porém, sem ter uma condição de conexão que seja a melhor possível para todos os jogadores, essa solução de jogos na nuvem vai ficar emperrada por algum tempo.
Até lá, eu já consegui meu Xbox Series X (porque o Series S será insuficiente), ou terei arrumado uma desculpa melhor para não ter um PlayStation 5 em casa.