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Primeiras Impressões | O Dentista Mascarado (Globo, 2013)

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“A primeira impressão é a que fica”. E para tudo nesse mundo, pelo visto. A primeira impressão que tive com o pequeno preview de O Dentista Mascarado exibido no programa de “upfront” da temporada 2013 da Rede Globo foi a pior possível. Algo do tipo “é um spinoff de um personagem do Zorra Total“. Não foi exatamente isso, mas não me fez rir por nenhum segundo, o que gera o mesmo efeito moral no final das contas.

Escrita por Alexandre Machado e Fernanda Young (Os Normais), O Dentista Mascarado conta a história do Dr. Paladino (Marcelo Adnet), que filho e neto de policiais. É a grande decepção do seu pai (Otávio Augusto), que foi um lendário policial, que por sua vez, foi filho de outro lendário policial. Decepção porque seu pai esperava que ele seguisse a linhagem de décadas de sua família em ser tira, e no final das contas, ele decidiu abraçar uma das profissões mais chatas do mundo: ser dentista.

Porém, mesmo sendo aparentemente boboca e atrapalhado, o Dr. Paladino possui uma visão astuta e peculiar de tudo o que acontece ao seu redor, o que facilita na solução dos problemas de sua vida. Na verdade, o principal problema dele no momento, a golpista Sheila (Taís Araújo), que acaba passando o balão nele e no seu amigo, o protético Sérgio (Leandro Hassum). Por causa de um pedido de 70 próteses de ouro, os dois começam a caçar Sheila pela cidade, mostrando suas “habilidades” para buscar pistas e atrair problemas.

Nesse meio do caminho, Paladino e Sérgio percebem que Sheila não é uma moça perigosa, mas sim uma menina que quer fugir dos seus próprios problemas. Então, depois de conseguirem livrar a moça de uma dívida, convidam a mesma para formar com eles o tal grupo de super-heróis mascarados (ainda não estão, mas vão ficar), com o objetivo de combaterem o crime.

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Muito bem… o problema de O Dentista Mascarado é que ela não me fez rir, e isso é o mínimo que uma comédia deve oferecer. Marcelo Adnet estava lá, mas muito mais “ator” do que humorista. Caiu na mesma armadilha que outros bons humoristas brasileiros se envolveram ao pisar nas dependências da Rede Globo de Televisão, que é “o padrão Globo de qualidade”. O forte de Adnet na MTV era a capacidade e a liberdade de improvisar. A liberdade criativa e o desenvolvimento de argumentos vindos de sua mente.

No caso da Globo, ele foi contratado para ser um ator. E isso fica bem claro durante o piloto. Em vários momentos, Adnet fez um dentista caricata, sem graça, meio burro e nada carismático. E olha que Adnet fazia personagens na MTV, mas tinha a sua assinatura bem clara nos personagens feitos. Falta muito disso no Dr. Paladino que ele está fazendo, e isso é um problema grave.

Hassum até que está bem no papel de “sidekick” de Adnet. Bom, prefiro ele no papel de protético do que de “cara de pau”. Mas ainda assim não ajuda muito. Taís Araújo se aventurando no terreno de humor é um desafio maior para a atriz.

Mas o pior de tudo foi o todo. A série não diz a que veio. Se o objetivo é mostrar que qualquer cidadão comum pode combater o crime, eu entendi. Mas não colou. Até mesmo a piada do gás hilariante foi mal aproveitada, e tinha tudo para ao menos fazer rir com algo fugindo do controle. Tudo bem, é o piloto, um episódio que não mostra tudo o que a série é capaz de fazer. Mas a impressão clara que dá é que, em alguns momentos, eles se inspiraram muito nas trapalhadas de Zorra Total para fazer esse “spinoff” acidental.

Outro problema da série é o seu texto. Os Normais conquistou todo mundo rapidamente porque além de ser uma proposta diferenciada (quebrar a quarta parede), o texto era muito mais ágil e inteligente (sem falar que os protagonistas eram livres para improvisar quando necessário). No caso de O Dentista Mascarado, já não ajuda muito quando a série está em um formato fechado, em um universo em particular. Piora quando o texto não sai da mesmice de fazer um humor de referências visuais, com apelo físico e quase sem nenhum tom mais ácido ou inteligente.

O Dentista Mascarado começou mal. Não me sinto estimulado a continuar a ver a série. Ainda mais quando sei que Marcelo Adnet pode fazer melhor do que isso. Por ser de apelo popular, e por ter “referências ao mundo dos quadrinhos”, deve ter um grupo razoável de pessoas gostando da produção. Mas como tem gosto pra tudo nesse mundo, não vou condenar ninguém. Só que entra na mesma regra de Pé na Cova (que é muito pior): será que é esse o “padrão Globo de qualidade”? E será que é esse tipo de série que a Globo quer atrair o seu público-alvo?

Se for isso, mais uma vez, eu não sou o público-alvo da Rede Globo.


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@oEduardoMoreira