Fato: a Apple não é mais a mesma.
Aquela Apple virgem e imaculada, toda preocupada em oferecer a melhor experiência possível ao mesmo tempo em que se orgulhava em ser uma empresa autossuficiente em ganhar dinheiro (principalmente depois que a Microsoft salvou a empresa neste aspecto) aceitou seguir o caminho que qualquer empresa que só pensa em dinheiro faria hoje: apostou na publicidade em suas plataformas.
Pois é… os usuários estão reclamando com o excesso de publicidade na App Store, e a tendência é que os anúncios só vão aumentar nas plataformas da gigante de Cupertino a partir de agora.
E sabe quem iria simplesmente odiar essa nova Apple?
Ele mesmo: Steve Jobs.
Steve Jobs jamais deixaria isso acontecer
Não resta dúvidas que Steve Jobs era um homem de princípios e ideais. E ele acreditava tanto nisso, que há quem diga que ele negligenciou os seus cuidados de saúde no fim da vida por conta disso. Ou sabia muito bem que não tinha chances tão favoráveis de sobreviver de sua enfermidade, e decidiu apostar em métodos alternativos por entender que não tinha mais nada a perder.
Mas isso não é assunto para esse post.
O que realmente importa aqui é que a Apple de 2022 está passando por cima das vontades de Steve Jobs em nome do lucro, que é necessário em nosso mundo moderno, mas pode corromper empresas inteiras. Há quem diga que a empresa está dando um tiro no pé junto aos usuários, que sempre acreditaram em uma empresa que se manteve imaculada neste aspecto.
E a filosofia da Apple em manter os seus apps livres de publicidade foi muito bem aceita pelos usuários, que neste momento estão reclamando do abuso dos anúncios na App Store. E Steve Jobs seria mais uma voz nas queixas, se é que ele algum dia deixaria que isso acontecesse.
Jobs afirmou no passado que ele estava disposto a fazer da Apple uma empresa que desenvolvia aplicativos e serviços para os usuários que ficariam livres da influência da publicidade. Porém, a evolução natural da empresa e o momento de crise econômica que o mundo vive hoje fez com que Tim Cook tomasse um caminho diferente.
E isso nem chega a ser um grande absurdo da Apple. Pensando rapidamente, a decisão do Barcelona (aquele mítico time de futebol) em colocar publicidade em seu uniforme (o que muitos torcedores afirmaram que seria um pecado mortal) foi muito mais polêmica do que essa que a gigante de Cupertino tomou.
Afinal de contas, os torcedores do Barcelona se orgulhavam em ainda serem um time de futebol autossuficiente, que não dependia da publicidade no uniforme para pagar as contas, lembrando a ideia de que este era mais do que um time de um clube, mas sim uma autêntica nação futebolística, com um uniforme único.
Hoje, o mesmo Barcelona toma goleadas na UEFA Champions League, e tem como o seu patrocinador master o Spotify.
E eu entendo que o grande problema não está no fato da Apple se render para a publicidade, já que todo mundo gosta de ganhar dinheiro e ver a grana circulando em temos de crise é algo relativamente difícil de se ver.
O problema maior está no tipo de publicidade que a Apple está exibindo na App Store, e isso sim está causando a fúria de muitos usuários de dispositivos da empresa.
Uma publicidade pouco ética
With Apple’s recent changes to ads on the App Store, your product pages may now show ads for gambling apps. One of my product pages just did that 😞 pic.twitter.com/CjbrXpajX0
— Simon B. Støvring (@simonbs) October 25, 2022
Muitos estão preocupados com o tipo de publicidade que a App Store está exibindo para os usuários. Afinal de contas, o sistema não é nada diferente de outras plataformas de anúncios na internet: o anunciante que paga a mais vai ter o seu produto ou serviço exibido para um número maior de usuários, de forma prioritária.
E, nesse momento, os anunciantes que mais estão pagando para a Apple nos anúncios publicitários são as casas de apostas, cassinos online e plataformas de chamadas de vídeo para o público adulto. E muitos menores de idade estão entrando em contato com esses conteúdos de forma totalmente indiscriminada e sem filtros.
Para os pais, que construíram os seus lares pautados em “valores cristãos ocidentais”, a última coisa que eles desejam é que a sua filha Laura de 10 anos de idade acabe encontrando no meio dos livros para os estudos na escola um anúncio para uma videochamada para adultos, com conteúdos pouco edificantes.
Em termos práticos, a Apple tem culpa no cartório. Ela é a única responsável pelo filtro estabelecido para a exibição de publicidade em suas plataformas e, ao que tudo indica, ou esse filtro é muito ruim, ou ele é inexistente mesmo. Está bem fácil para a gigante de Cupertino colocar ordem na casa e estabelecer um controle para limitar ou eliminar a exibição de sites inadequados.
Porém, isso não está acontecendo e, neste momento, a polêmica está servida em uma bandeja de prata que poderia muito bem transportar a cabeça de Tim Cook neste momento. E, dessa vez, os usuários da Apple não estão aceitando essa infeliz decisão com muita facilidade.
Tudo o que muitos pedem é que a Apple ao menos apresente a publicidade que esteja com o mínimo de sintonia com os interesses dos usuários e, de forma bem coerente, com os próprios interesses da empresa. Tudo o que Tim Cook menos poderia querer neste momento é irritar os internautas, pois bem sabemos que algumas dessas pessoas podem simplesmente querer mudar de serviço para evitar esse transtorno.
Ou a Apple muda a sua postura em relação às exibições de publicidade nas suas plataformas, ou terá que enfrentar a ira dos usuários e do espírito de Steve Jobs, que vai voltar do além para dar uns tapas na cara de alguns executivos da empresa.
Só para a galera que ainda está trabalhando lá ficar um pouco mais esperta.