Nem tudo o que reluz é ouro. Em muitos casos, é latão ou bijuteria pintada. E em alguns casos, o que pode ser uma ótima notícia é, na prática, um problema para todo um coletivo.
Que a Samsung fez um trabalho praticamente impecável no software dos seus smartphones em 2022, não resta muitas dúvidas. As novas versões do Android com One UI são distribuídas com rapidez e para um amplo leque de dispositivos disponíveis.
O problema aqui ainda está na ordem em como esses dispositivos são atualizados, e em como isso influencia o comportamento de todo um mercado.
Ver um smartphone de linha média ser atualizado antes de 90% de todo o mercado de telefones top de linha não é a melhor notícia para você que não tem um smartphone da Samsung. E vou explicar melhor por que essa afirmação é verdadeira, por mais controversa que pode parecer.
Os fabricantes seguem dormindo nas atualizações
A Samsung conseguiu algo histórico em 2022: ser o fabricante a oferecer o maior ciclo de atualizações para os seus smartphones (por enquanto).
Até então, o Google oferecia três anos de atualizações do sistema operacional e até cinco anos de correções para os seus dispositivos Pixel. Agora, a Samsung entrega até quatro anos de atualizações para versões do Android e cinco anos de parches para correções de problemas.
O Google ainda entrega as atualizações mais rápido, mas a Samsung possui uma capa de personalização mais pesada e oferece um ano a mais de updates. E isso é algo que é digno de nota e reflexão.
Outros fabricantes também estão entregando três anos de atualizações, como Xiaomi, Vivo e OPPO. Porém, poucos modelos dessas marcas entram nessa regra. Além disso, o tempo de atualização do Android adotado pela maioria dos fabricantes é algo absurdo, onde as versões estáveis levam muitos meses para chegar na maioria dos dispositivos ativos no mercado.
A maioria dos telefones Android de linha média só vão receber o Android 13 (com alguma sorte) no primeiro trimestre de 2023, e se você tem um smartphone de entrada, pode levar até um ano para que o dispositivo seja atualizado.
Essa estratégia dos fabricantes contraria com muita força os planos da União Europeia, que deseja que todos os telefones sejam atualizados por, pelo menos, cinco anos nas correções de segurança e no mínimo por três anos para a atualização do sistema operacional.
Detalhe: essas atualizações não podem resultar em uma queda de desempenho dos dispositivos, o que é um enorme desafio para a maioria dos fabricantes Android nesse momento.
Como esse problema pode ser resolvido?
Essa é uma pergunta muito interessante.
É de se observar que tudo isso que acontece pode muito bem ser uma consequência da própria obsolescência programada e fragmentação estabelecidos pelos fabricantes e pelo próprio Google ao longo de anos de desenvolvimento do Android.
Ver um sistema operacional que é obrigado a funcionar de forma minimamente decente em dispositivos com configurações de hardware tão diferentes é uma missão hercúlia para a gigante de Mountain View, mas foi a escolha feita lá atrás, quando o software chegou ao mundo.
Por outro lado, os fabricantes passaram anos abandonando de forma precoce telefones que contavam com configurações boas o suficiente para funcionar por mais alguns anos sem maiores problemas. Porém, as marcas optaram por atender as suas necessidades em vender novos modelos para que a roda da economia continuasse a girar.
No final das contas, os usuários acabaram estabelecendo as regras do mercado. Muitos pararam de trocar de telefone todos os anos, e a dinâmica financeira do planeta que ficou maluca desde 2020 fez com que as marcas repensassem nessa estratégia de abandonar dispositivos nas atualizações.
O recado está dado. Se tem executivo de certas marcas que vai ignorar os sinais, é outra história.