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Twin Peaks, e o final da terceira temporada que nos leva a uma estrada sem fim

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twin peaks

Twin Peaks nunca teve uma explicação racional, simples e compreensível. David Lynch sempre teve muito claro quais eram as suas prioridades, e a nova temporada foi uma execução que, em regra, caminhava à parte da sua filmografia.

Em vários dos seus filmes contavam com elementos em comum que refletiam o sonho americano na estética e nos costumes dos anos 50. Em muitas oportunidades, o caminho até a escuridão era representado por uma estrada com tijolos amarelos, em referência ao Mágico de Oz.

As dobras de universo de Lynch são representações de uma fantasia que esconde um ato terrível, ou complexas projeções que evocam uma realidade alternativa. A estrada é um símbolo de conexão dos dois mundos.

O final da terceira temporada de Twin Peaks mostra o agente Dale Cooper viajando por uma estrada com essas características.

No começo da temporada, foi o seu doppleganger. O tempo e o espaço pareciam quebrados, e o espectador ficava completamente perdido. Porém, estava claro a li a obsessão de Lynch, com personagens em diferentes dimensões.

Para o espectador, não há nada em que ele possa se apoiar para compreender o jogo de conexões, imagens e símbolos, em um sentido intuitivo, porém, nunca explicado. Fotogramas com detalhes e a integração de identidades alteradas, sonhos e personagens que desfilavam abrindo tramas.

As últimas duas horas da série fecham algumas (não todas) das linhas abertas. E o que não é resolvido desafia todos os espectadores, rompendo uma brecha na realidade, onde Dale Cooper, mais uma vez pode tentar pela enésima vez se transformar no herói que todos esperamos.

No final, o destino de Cooper é do telespectador, que entrega todas as esperanças e anseios de uma recompensa que ele também espera, já que se convence que um dia ele vai receber.

Lyinch oferece um clímax que eleva o absurdo das convenções da luta do bem contra o mal, com elementos super-heroicos que podem até confortar quem esperava por esse tipo de final. Tudo isso é organizado em um plano exagerado e complacente, que contrasta com a volta para a obscuridade e velhos fantasmas de um Cooper preso em um loop de sua missão impossível.

Muita gente se perguntou sobre o que realmente estava assistindo e se o fim foi satisfatório, mas conforme os intermináveis minutos vão passado, compreendemos como Lynch novamente prendeu a audiência em sua teia.

O que queremos ver não vai ter lugar nenhum. Como no final da segunda temporada. Se o revival nos devolveu Cooper com um final mais trágico e amargo que poderíamos imaginar, o final da série nada mais é do que a volta ao ponto de partida.

O epílogo nada mais é do que algo que já vivemos. Só que, dessa vez, com novas perguntas em aberto, um mistério tão grande que nem todas as explicações sobre a mitologia da série servem como pistas, e em um caminho que nos leva para onde queríamos, mas em um ponto final aterrorizante.

Um desvio no caminho inteiro, e sem fim. Por uma estrada de tijolos amarelos.


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@oEduardoMoreira