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A Velma FINALMENTE saiu do armário!

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Devo confessar que Scooby-Doo não entra na lista dos meus desenhos animados preferidos, mas não me recuso a assistir quando está passando. Sabe como é… memória afetiva, aquela lembrança da infância e preguiça de ir até o controle remoto para mudar de canal são bons motivos para ver as aventuras do cachorro falante e sua turma.

Mas o motivo para este artigo existir não tem nada a ver com meus gostos e preferências sobre a animação da Hanna-Barbera. Eu estou aqui para celebrar a evolução da humanidade, que precisa de mais diversidade e liberdade para as pessoas poderem amar a quem quiser.

Dito isso, é um passo gigantesco a decisão de tirarem Velma Dinkley do armário, depois de 50 anos. Aliás, já quero deixar claro que não gosto muito desse termo “sair do armário”. Acho que estou ofendendo a algumas pessoas com isso.

Por isso, é melhor dizer desde já: Velma Dinkley assumiu a sua condição sexual na essência. E é isso o que realmente importa aqui.

 

Uma franquia que se renova, mesmo depois de tanto tempo

Muita gente acha que Scooby-Doo é uma franquia “das antigas”. E é mesmo: como eu já escrevi neste artigo, o desenho (e suas inúmeras variações) existe há pelo menos 50 anos. Porém, segue mais vivo do que nunca. Tanto, que James Gunn já manifestou o desejo de realizar a sequência do primeiro filme live action dessa história.

Scooby-Doo se renova quando aposta em estratégias que já funcionaram com outras franquias do entretenimento. Por exemplo, os crossovers. Quem poderia imaginar ver Salsicha e Scooby ao lado de Coragem, o Cão Covarde, o Batman (ele mesmo, o Cavaleiro das Trevas) e no WWE.

Estratégias como essa sempre funcionam quando queremos apresentar uma história que já tem décadas para um novo público. Dessa forma, as novas gerações conhecem melhor os personagens que participaram do imaginário dos seus pais, o que ajuda a perpetuar o desenho como importante elemento da nossa cultura pop.

E como Scooby-Doo precisa conversar com um público novo, ele vai efetivamente se conectar com o que a nova geração vive dentro de sua realidade. Neste caso, a diversidade sexual. Por isso, algo histórico aconteceu: no novo filme da franquia, “Trick or Treat Scooby-Doo”, finalmente foi permitido que Velma Dinkley se apaixonasse por uma mulher. Tudo bem é uma paixão bandida, já que ela está a fim da Coco Diablo, a chefe do sindicato do crime. Mas… quem é que manda no coração, não é mesmo?

E não pense que Velma simplesmente quer ficar com a Coco. Para quem não viu do que se trata, em uma cena, ela admite para Daphne que está COMPLETAMENTE APAIXONADA por ela, com uma cara de felicidade que qualquer um pode concluir que aquele sentimento é racional e genuíno.

https://youtu.be/kuS9ViNDh_o

Para você, nerdola que defende que poderia existir um partido nazista no Brasil, tudo isso que eu acabei de escrever pode ser um monte de bobagens sem sentido ou lacração da “esquerda gayzista”. Na prática, isso se chama evolução da humanidade como um todo. E só lamento por você ainda morar em uma caverna escura e úmida, ouvindo The Doors todo mijado, sem entender o real significado das músicas dessa banda.

 

O que a humanidade vai ganhar com isso?

Muita coisa.

Para começar, aquilo que foi tratado por décadas como piadas e insinuações (muitas vezes maldosas) agora é canônico em Scooby-Doo, mostrando ao mundo que é possível tratar um assunto mais edificante como algo sério.

De novo: não é uma bobagem ou algo que só se limita ao campo do desenho animado. Estamos falando da essência de um grupo de pessoas que contam com o legítimo direito de serem elas mesmas, revelando sua essência ao mundo e manifestando sua condição sexual de forma aberta e sem receios.

Para um coletivo que cresceu assistindo aos desenhos do Scooby-Doo, ver que Velma agora é, de forma oficial, integrante do coletivo LGBTQIA+ é algo muito significativo. Essa animação é parte da cultura pop do norte-americano e de muitos brasileiros. E tenho certeza que, muito além da discussão da validade dessa revelação, temos aqui a representatividade para muitas pessoas que até hoje encontram enormes dificuldades em se libertar de um coletivo que ainda é extremamente preconceituoso e opressor.

Por outro lado, muitos fãs de Scooby-Doo não encaram a homossexualidade de Velma como uma novidade. Isso não só foi discutido por diversas vezes, como foi sugerido aos responsáveis pelas animações e filmes em produção sobre essa história. Ou seja, essa “revelação” poderia ter acontecido bem antes.

Mas certamente o coletivo e nem mesmo a Warner Bros. (hoje, Warner Bros. Discovery) estava preparada para isso. Tanto que, muito provavelmente, o spin-off de Velma na HBO Max está cancelado, também por causa da repercussão dessa revelação. E é sempre importante lembrar aos mais revoltados que os respectivos donos dos direitos desses personagens podem fazer o que quiser com eles.

Desde criar uma sereia negra até promover a revelação da condição sexual de uma integrante de um time de jovens investigadores que contam com um cachorro falante.

Aliás, um ponto de observação: se passamos cinco décadas aceitando um cachorro falante cujo melhor amigo é um hippie que demonstra um comportamento claramente inspirado em um usuário de substâncias ilícitas, por que não podemos aceitar uma Velma lésbica?

Ah, céus… essa nerdolada que não tem critérios na vida…

De qualquer forma, pode parecer algo ridículo o que vou dizer, principalmente considerando que estamos falando o tempo todo de um personagem de desenho animado. Mas… eu estou feliz pela Velma. E estou feliz por todas as pessoas que vão se sentir representadas por essa decisão.

Precisamos de um mundo que seja mais justo para todos. Sem exceção. Não dá mais para aceitar que um grupo trate outro grupo como algo menor porque “os padrões e as visões de mundo são diferentes”. A diversidade é o que dá a graça para as nossas vidas, pois viver em um mundo de iguais sempre foi algo muito chato.

Logo, que as Velmas por aí possam se inspirar na ficção para encontrar o caminho de abertura de suas reais essências. De minha parte, sintam-se todxs abraçados (sim, ainda estou aprendendo a usar o gênero neutro, e peço desculpas por isso… estou me esforçando para, a cada dia, ser alguém melhor para o coletivo).

E, Velma… vai lá dar uns beijos, mulher! Você merece!

https://www.youtube.com/watch?v=2T-AB2_UaWs


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@oEduardoMoreira