A versão 6.1 do kernel do Linux enfrentou uma situação bastante peculiar, mostrando um Linus Torvalds que é “gente como a gente”, enfrentando problemas no mundo da tecnologia que eu e você certamente já encaramos pelo menos uma vez na vida.
Esse tão esperado kernel sofreu um pequeno atraso no seu lançamento por conta de um problema de hardware no computador de Linus, criador e ainda principal responsável por esse componente no sistema operacional.
Ele teve que encarar essa dificuldade por dias, onde a ausência de recursos de hardware no seu computador impediu a fusão do código do kernel na velocidade esperada. Do mesmo jeito que aquele jogo que você tanto queria rodar no computador não conseguiu executar de forma competente.
A espera por DIMM e ECC: WTF
Um dos desenvolvedores perguntou para Linus Torvalds na sua lista de e-mails oficial se ele teve algum problema no código do Git. E ele respondeu que essa parte estava pendente de revisão porque…
“Estou fazendo mesclagens [de código] muito lentamente em meu laptop, enquanto espero a chegada dos novos DIMMs de memória ECC.”
Para quem não sabe do que ele está falando, ECC significa “Error Correcting Code”, e um topo de RAM que detecta e corrige os tipos mais comuns de problemas de dados perdidos na memória.
Torvalds prosseguiu nas suas explicações sobre o problema que estava atrasando o novo kernel do Linux:
“Alguma instabilidade na minha área de trabalho principal [devido a] corrupção aleatória de memória no espaço do usuário, resultando em minhas compilações ‘allmodconfig’ falhando aleatoriamente com erros internos do compilador.”
“Provavelmente vou guardar o memtest86+ para outra noite [quando receber] os novos DIMMs, porque esta não foi a melhor experiência de todas. Perdi um bom tempo culpando as coisas erradas, porque obviamente não poderia seja meu hardware que de repente quebrou. ”
Torvalds está furioso com as políticas comerciais da Intel
Torvalds foi tão “brando” nas explicações para o atraso do novo kernel do Linux, o que chega a ser surpreendente. Conhecendo a sua personalidade explosiva, era para ele estar espumando de raiva por não poder acelerar o projeto.
Afinal de contas, ele não iria esperar um componente que, em teoria, ele poderia comprar em qualquer loja do bairro.
Em 2020, Torvalds comprou um novo desktop com processador AMD pela primeira vez em 15 anos. Acreditando que estava tomando uma boa decisão, ele deixou o seu equipamento “totalmente configurado para o ECC”, mas na época ele não encontrou nenhuma memória compatível por um preço aceitável, pois os preços inflacionaram durante a pandemia.
Por conta disso…
“E então eu nunca consegui consertá-lo, até que tive que detectar os bugs da maneira mais difícil. Eu absolutamente odeio essa política insana da indústria e fornecedores ruins que tornaram a memória ECC tão ‘especial’.”
Ele colocou a sua visão sobre o problema em contexto um ano depois, em 2021. Essa tal política que Linus fala é a seguinte: a Intel não permite que o ECC seja utilizado com todos os seus processadores de consumo, já que a empresa entende que esse tipo de memória deve ser exclusivo para servidores, deixando de lado os computadores comerciais.
“Não caia nessa porcaria de que o ECC não é para servidores. ECC é para todos, e querer pagar um pouco mais por RAM não significa ser limitado de outras maneiras.”
Foi dado o recado, dona Intel.