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O fandom sempre existiu. A internet só potenciou o fenômeno absurdamente

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O fandom não apareceu com a internet. Ou todo mundo se esqueceu dos fenômenos de massa global que foram The Beatles, Elvis Presley, Michael Jackson e, principalmente, Menudo?

Porém, tal e como acontece com outras facetas de nossa sociedade, o mundo digital transformou o fandom em algo nunca antes visto em nossa história. E não estou falando apenas no quanto as pessoas passaram a admirar seus artistas, mas principalmente em como todos se tornaram mais próximos dos seus ídolos.

Os fãs se tornaram ainda mais persistentes no consumo das obras de artistas que, em alguns casos, se tornaram evangelizadores natos. Por outro lado, essa legião de pessoas se tornaram defensoras ferrenhas de seus trabalhos, chegando ao ponto do mundo freak bizarro e inusitado.

Será que esse movimento de coletivo é algo genuinamente normal?

 

O impacto do fandom, de Star Trek ao K-Pop

Em alguns casos, a reação do fandom diante de algum evento ou acontecimento tende a ser agressiva ou violenta. Conan Doyle bem sabe disso, quando tomou a polêmica decisão de “matar” Sherlock Holmes: a fúria do público foi tamanha, que ele teve que ressuscitar o personagem.

A prova que o fandom existe há muito tempo está em Star Trek, que mesmo sendo considerada uma série de nicho, foi salva do cancelamento graças aos fãs, que enviaram um monte de cartas para a NBC para protestar.

Agora, imagine o que os fãs de Star Trek poderiam fazer se a internet existisse no final da década de 1960.

Alias, o fandom de Star Trek também sentiu o gosto amargo da traição (e protestou por causa disso) com a polêmica esquete humorística protagonizada por ninguém menos que William Shatner no Saturday Night Live em 1986, que defendida a tese do “Get a Life”, dando a entender que trekkies eram seres que não tinham vida além da série.

De qualquer forma, foi o fandom que construiu todos os movimentos de fenômenos de massa dentro da cultura pop nas últimas cinco décadas, onde podemos mencionar as primeiras edições da Comic-con, as boy bands, Harry Potter e O Senhor dos Aneis e, mais recentemente (com a influência clara da internet), Taylor Swift, os filmes da Marvel e o K-Pop.

Em cada fase do fenômeno dos fãs, é possível observar uma progressiva ampliação do público, da faixa etária alcançada e do número de ídolos que são acompanhados pelas diferentes plataformas disponíveis hoje.

Os fãs de qualquer produto de entretenimento atual se fazem notar nas redes sociais e plataformas online, com mensagens diretas, vídeos, lives no YouTube, iniciativas no change.org e diversas campanhas para chamar a atenção dos artistas e da indústria como um todo.

Um dos exemplos recentes disso é a mudança do personagem Sonic no filme live action inspirado no jogo de videogames da SEGA. Ele seria um ser bisonho, mas depois do barulho na internet, voltou a ser o personagem amigável e adorável que aprendemos a amar desde a década de 1990.

 

O fanservice alimenta esse comportamento?

Estúdios e produtoras que contam com propriedades intelectuais vivem um dilema que pode não ser visível para muita gente: o que fazer com o fanservice?

É melhor não arriscar tocar naquelas memórias que são imaculadas para muitos fãs? Ou é melhor entregar tudo o que eles esperam? Ou quem sabe vale a pena investir em mudanças para avançar com aquela referência para um novo caminho (e, com isso, correr o risco que os fãs caiam na porrada por causa das mudanças)?

Por outro lado, essa mesma indústria não pode se ver como refém de um grupo de pessoas que, em muitos casos, simplesmente não aceitam que algo pode evoluir. Para eles, referências culturais históricas são intocáveis e imaculadas, o que é algo perigoso em um sentido mais amplo.

O que se percebe é que o fandom é uma subcultura que resiste. É resistente e persistente. Em alguns casos, persiste na ideia errada. Um exemplo disso está nos fãs do One Direction, que acreditam com todas as forças que o grupo vai voltar um dia, sendo que alguns dos seus integrantes estão com carreiras solo mais que consolidadas.

Isso ajuda a explicar por que a maioria dos fandons acabam se distanciando da realidade ou, em alguns casos, em melancolia coletiva. E esse é o problema em adorar incondicionalmente algo ou alguém: a cegueira objetiva impede o alcance da percepção do que é real e do que é fantasioso.

Uma coisa é você adorar a música de Eric Clapton. A outra (bem diferente) é perceber que ele é uma pessoa horrível por abraçar pensamentos de extrema direita.

É preciso ter uma consciência clara sobre a real diferença entre as duas coisas.


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@oEduardoMoreira