A CBS exibe nos Estados Unidos um reality show que eu gosto muito, chamado Undercover Boss. Nele, o CEO de uma empresa se disfarça de trabalhador comum para entender melhor como a empresa funciona na prática, e quais são os problemas que os funcionários enfrentam no dia a dia.
Recentemente, Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, fez o mesmo para entender as dificuldades dos motoristas da empresa, criando o Projeto Boomerang.
De acordo com Khosrowshahi, o Projeto Boomerang foi criado em resposta à pandemia de coronavírus. A empresa estava enfrentando dificuldades para encontrar novos motoristas e precisava entender por que isso estava acontecendo.
Vamos olhar para essa experiência com um pouco mais de detalhes.
Sentindo na própria pele
Khosrowshahi decidiu se passar por um motorista da Uber para experimentar em primeira mão as complicações que os motoristas enfrentam ao se cadastrar na plataforma e manter um alto índice de satisfação com a empresa.
Durante meses, Khosrowshahi viajou por San Francisco em um Tesla Model Y de segunda mão, conhecendo todas as dificuldades que os motoristas da Uber enfrentam diariamente. Dessa forma, ele descobriu que a empresa precisava reexaminar todas as suposições que tinha feito sobre ter motoristas disponíveis.
A Uber não estava enfrentando problemas apenas em San Francisco, vários outros países do mundo, onde existe uma certa carência de motoristas disponíveis, o que é um problema para todas as empresas especializadas em transportes por aplicativo.
O Projeto Boomerang não foi o primeiro contato de Khosrowshahi com seus funcionários de baixo escalão. Em 2021, ele experimentou como era a vida de um motorista do do Uber Eats trabalhando em San Francisco, mas essa experiência não terminou com um olhar tão autocrítico.
Ele tentou vender uma boa imagem do trabalho como entregador de comida, afirmando que ganhou mais de US$ 100 no final do dia. No entanto, essa afirmação gerou controvérsia entre os trabalhadores do Uber Eats, que destacaram todos os detalhes que o executivo não considerou nos seus ganhos líquidos.
Despesas como a manutenção de seus carros, as dificuldades em cumprir os tempos esperados pelo aplicativo e o quão longe foi a experiência do CEO da Uber para se aproximar da realidade prática de quem teve que transportar uma pizza familiar em uma bicicleta durante uma tempestade de neve foram destacadas pelos motoristas da plataforma.
Uber trabalha para resolver seus problemas (em teoria)
A Uber também enfrentou problemas com seus executivos no passado. Em 2020, o The Guardian revelou um vazamento de e-mails mostrando como alguns executivos da empresa seguiram com a expansão de suas atividades, mesmo sabendo que o seu modelo de negócio era considerado ilegal em alguns mercados.
Os e-mails vazados também mostraram que a empresa incentivava os motoristas a continuar trabalhando, mesmo quando havia protestos de taxistas que acabavam agredindo os motoristas da Uber ou realizando ações violentas contra os veículos.
Apesar desses problemas sérios, a Uber afirma que está trabalhando para melhorar as condições de trabalho de seus funcionários. Entre algumas das iniciativas que seu executivo destaca estão a oferta de melhores salários e benefícios para atrair novos trabalhadores.
Além disso, Khosrowshahi está se esforçando para entender melhor as dificuldades dos motoristas da Uber e implementar soluções para ajudá-los a ter uma experiência de trabalho melhor dentro da empresa.
Bom, se a ideia do “se colocar no sapato dos outros” serve de alguma coisa, dá até para ter algum tipo de esperança de que o CEO da Uber vai mesmo entender quais são os principais problemas dos motoristas. Mas isso é algo tão raro, que não consigo acreditar que a solução virá dessa forma.
É muito mais fácil ver alguma coisa mudando na Uber através do meio mais prático para fazer qualquer executivo mudar de ideia na vida: a perda de dinheiro em escala global.
Nada como números negativos nas contas para reposicionar conceitos nas mentes de quem manda na p**** toda…