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CEO demitido segue afirmando que é o CEO

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Disputas de poder sempre acontecem. É mais comum do que parece, e não é só na série Sucession da HBO. Veja o que acontece no Brasil até hoje desde 2023 (e eu não vou entrar em polêmicas neste artigo).

Por exemplo… Beat Zaugg, ex-CEO da Scott Sports, se recusa a deixar o cargo após o anúncio de sua demissão pela junta diretiva da empresa. E isso poderia ser interpretado como uma atitude infantil por parte dele, mas nada é tão simples quanto parece.

Vou explorar neste artigo as camadas de mais uma história polêmica do mundo coorporativo que merece ser apresentada para os meus leitores. Quem sabe aprendemos alguma coisa mais útil neste caso do que simplesmente sair criticando as pessoas pelos seus comportamentos excêntricos.

 

O cerne da polêmica

Zaugg alega que o anúncio de sua demissão foi feito por uma agência de relações públicas que representa a empresa majoritária no empreendimento, a Youngone, sem a devida autorização.

Por outro lado, a junta de diretores afirma que Zaugg foi demitido por “choque cultural” com a Youngone, e que a decisão por sua demissão é definitiva.

E a polêmica está servida.

Zaugg se defende, afirmando que o anúncio foi feito para “desestabilizar a empresa e seus funcionários”. Diante disso, ele ainda se considera CEO, acionista minoritário e presidente da junta diretiva da Scott Sports.

Ele se recusa a revelar detalhes sobre o processo de demissão, mas afirma que a junta não o demitiu “corretamente”. E isso obviamente deixa margem para múltiplas interpretações.

Agora, vamos ouvir o outro lado da disputa.

Os diretores da Scott Corporation, com maioria de representantes da Youngone, insistem na demissão de Zaugg. Eles afirmam que a decisão é legal e irrevogável, e que as razões para a demissão não podem ser reveladas.

O que também deixa margem de dúvidas e abertura para interpretar qualquer coisa diante dos fatos apresentados (e, principalmente, dos fatos não apresentados aqui).

Apenas para explicar melhor a relação de poder entre as partes envolvidas, a Youngone, fornecedora de material esportivo para grandes marcas como Patagonia e Adidas, possui 50,01% da Scott Sports.

Logo, é fácil entender quem é que pode mandar prender ou mandar soltar na Scott Sports.

 

O que pode ter acontecido (e o que pode acontecer)

O “choque cultural” entre Zaugg e Youngone pode ter sido causado por diferenças de visão ou estratégia, mas não podemos confirmar isso pela ausência de informações sobre o assunto.

O máximo que posso fazer neste momento é especular causas e consequências, além de apresentar os fatos de momento.

A recusa de Zaugg em deixar o cargo pode gerar instabilidade e insegurança na empresa, além de ilustrar os problemas que normalmente acontecem nos aspectos de governança corporativa, relações entre acionistas e o papel do CEO dentro de uma empresa de grande porte.

Lembrando que ser um CEO passa bem longe de ser o dono da empresa. Você até pode acumular os dois postos de forma eventual, mas a função basicamente torna você o responsável por decidir os caminhos que a empresa vai tomar, executando as decisões mais importantes para torná-la lucrativa e financeiramente sustentável.

Nem preciso dizer a essa altura do campeonato que a disputa pode levar a ações legais ou negociações entre as partes. Aqui, das duas, uma: ou as partes negociam de forma civilizada o fim desse conflito, ou teremos um “te vejo nos tribunais” em breve.

No final das contas, o que está faltando para todos os envolvidos é um elemento que ficou em segundo ou terceiro plano em nossas vidas práticas: a comunicação transparente.


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@oEduardoMoreira