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É claro que o boicote ao filme “A Primeira Tentação de Cristo” teve efeito contrário

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Eu assisti ao Especial de Natal do Porta dos Fundos para a Netflix, o famigerado “A Primeira Tentação de Cristo”. É sempre importante lembrar que o grupo humorístico que nasceu no YouTube sempre satirizou a religião e todos os seus segmentos, e vem de uma importante conquista no Emmy Internacional pelo Especial de Natal do ano passado, “Se Beber, Não Ceie”.

Decidi encarar o especial por causa de todo o barulho que o mesmo estava produzindo nas redes sociais e, principalmente, por causa da petição online pedindo o seu banimento da Netflix. E como eu sou contra a censura (mas entendo que todos precisam pagar pelas consequências da liberdade de expressão), eu decidi conferir para entender o motivo do boicote.

Boicote esse que, é claro, não serviu para absolutamente nada. Exceto é claro aumentar a visibilidade do próprio especial.

 

 

Muito barulho por nada

“A Primeira Tentação de Cristo” nem é tão engraçado assim. Quer dizer, dá para detectar os objetivos apresentados em 45 minutos de especial, e é possível compreender bem onde ele quer chegar. Algumas falas mais incisivas levantam certos questionamentos que considero válidos, pois são perguntas que os mais críticos sempre levantaram sobre a história de Jesus Cristo.

Porém, eu tenho sérios problemas com o Porta dos Fundos decide esticar a piada por mais tempo. O grupo vai bem no formato curto, com piadas e diálogos ágeis e rápidos, com um humor inteligente e explícito, o que deixa tudo mais engraçado.

Já o Porta dos Fundos em formato longo me incomoda um bocado, pois existe uma certa morosidade para essas piadas se desenvolverem, e por mais ágeis que os textos sejam, o ritmo acaba ficando quebrado. Pelo menos para mim, não me agrada tanto.

Mas nem por isso entendo que o especial deva ser banido da Netflix ou censurado. De forma alguma. O fato de apresentar um Jesus gay, um Deus pegando Maria, um José corno assumido e um dos reis magos levar uma prostituta para a festa de aniversário de Jesus não quer dizer que o especial está afrontando qualquer segmento religioso.

Mesmo porque assiste o especial quem quer. O que eu não posso aceitar é que alguém que não quer assistir ao programa me obrigue a não assistir também, ou que passe por cima do meu direito em assistir ao conteúdo considerado polêmico.

Campanhas para cancelamento de assinaturas e petição online com 2 milhões de assinaturas pedindo a remoção do filme do catálogo da Netflix só causou o efeito contrário: “A Primeira Tentação de Cristo” é a produção nacional mais assistida da história da plataforma de streaming, e tudo o que o Porta dos Fundos queria era visibilidade gratuita para o seu especial natalino.

E como cereja do bolo, a Netflix já encomendou um novo especial de Natal do Porta dos Fundos para 2020. Ou seja, quem fez boicote se esqueceu que a plataforma de streaming historicamente cedeu aos boicotes. E como “prêmio”, os revoltosos terão que engolir o fato que terá mais um programa do grupo humorístico para perder o sono no final do ano que vem.

Resumo da ópera: não quer assistir “A Primeira Tentação de Cristo”? Não assista! Você não é obrigado. Agora, nem vem com essa história de se meter no meu direito em assistir ao especial. Você não tem esse poder.

Já aos demais leitores pensantes e racionais, eu digo que o especial em si nem vale toda essa polêmica, mas graças aos mais nervosinhos, todo mundo está falando do programa. Logo, pode valer a pena você dar uma olhada. Apenas para formar uma opinião, e não para ir no vácuo da opinião dos outros.

 


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@oEduardoMoreira