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Eu me sinto perdido no Brasil, e quero meu GPS de volta

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Eu estava jantando no shopping quando eu olhei para a Ana e disse: “eu me sinto perdido no Brasil de hoje”.

E é verdade. Eu não sou um cara de contar (muitas) mentiras. Nesse Brasil que nós estamos vivendo, eu me sinto sem GPS, no meio do nada, no escuro, sem sinal de internet móvel e usando um celular da Gradiente (lembra disso?) no lugar de um smartphone com Google Mapas.

Estou exagerando nas metáforas? Com certeza. Mas muita gente está exagerando na defesa cega de visões políticas, deixando de lado conceitos que me ensinaram a vida toda, mas que agora são descartados como a toalha de papel sujo de ketchup que eu usei para não limpar os dedos enquanto eu comia o meu lanche no sábado.

 

 

Pode tudo isso, Arnaldo?

Todo mundo decidiu relativizar as cagadas homéricas dos outros? Agora tudo pode? Está valendo falar qualquer idiotice, mesmo que isso ofenda ao próximo, humilhe ao diferente e coloque em risco as minorias?

Eu passei uma vida inteira aprendendo o quão é errado tais posicionamentos porque, em linhas gerais, o próximo merece o respeito. E agora, vem um zé mané qualquer e vomita na cara da sociedade inteira o contrário… e boa parte do coletivo fica quieto?

Eu tento achar o meu GPS e estou cada vez mais perdido. Porque pessoas que eu admirava simplesmente abraçam visões de mundo absolutamente repugnantes para um Brasil pseudo-evoluído de 2020.

E algumas dessas pessoas me disseram no passado que tudo isso é errado.

 

 

Onde está o meu GPS?

É isso que dá ser isento.

Na verdade, eu não me isentei. Eu só entendo que os dois lados dessa história são sacos de lixo gigantescos, e minha mãe (que escolheu abraçar um desses sacos de lixo) sempre me ensinou que eu devo ser um menino limpinho, que toma banho todos os dias (e não apenas aos sábados).

Podem me chamar de isentão, mas ao menos tenho consciência que eu não preciso passar pano para nazista na tentativa de justificar o meu ódio ao outro lado. Assim como eu tenho inteligência o suficiente para jamais engolir o “nós contra eles” de 2013.

Foi em 2013 que começamos a nos dividir. Não se esqueça disso.

Me entristece ver as pessoas abraçando o capeta em nome de ideologias políticas falidas. Nem a série Lúcifer consegue ser tão perversa quanto esse Brasil de 2020 (até porque o Tom Ellis é considerado um gato pelo mulherio).

Essa porcaria de GPS me faz falta, porque eu estou no escuro no meio da estrada, ouvindo as pessoas gritando dos dois lados, os carros passando e ninguém enxergando que eu estou ali no meio, procurando pelo acostamento que não aparece. E não tem nenhuma placa nessa estrada esburacada, mas cheia de pedágios para pegar o dinheiro dos otários.

Esse é um cenário de pesadelo para quem passou uma vida inteira sendo estimulado a não abraçar visões de mundo que objetivamente humilham, ofendem e machucam o próximo.

Pelo visto, não ter um GPS me levou para um hospício gigante. E meu maior receio nesse momento é enlouquecer com os gritos ameaçadores dos atuais diretores do hospício.


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@oEduardoMoreira