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“Férias ilimitadas” para os funcionários da Microsoft: isso vai funcionar?

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Diferente do pensamento atrasado de Elon Musk, algumas empresas entendem que o trabalho remoto e o home office são a tendência do futuro laboral. E uma dessas empresas é ninguém menos que a gigante Microsoft, que conta com alguns dos profissionais mais qualificados do mundo na área de desenvolvimento de software.

Para muitas pessoas, o trabalho todos os dias no escritório em 40 horas semanais é uma rotina desgastante e pouco produtiva. Felizmente, algumas grandes empresas entenderam isso.

E agora, a Microsoft dá um grande passo para mudar de vez os paradigmas das rotinas de trabalho presencial, estabelecendo uma política de férias ilimitadas para os seus funcionários.

Antes que você comece a pesquisar sobre o custo de vida em Redmond, Seattle ou Washingon, vale a pena aprender como a Microsoft chegou a essa oferta dos sonhos para qualquer profissional do mercado de trabalho.

 

Dias livres ilimitados na Microsoft

Em comunicado interno redigido e assinado por Kathleen Hogan, diretora do departamento pessoal da empresa, a Microsoft informa que vai oferecer férias ilimitadas aos seus funcionários nos Estados Unidos.

Para os funcionários da Microsoft que trabalham em outros países, fica valendo as regras de férias de acordo com a legislação daquele país.

Essa nova política denominada “Discretionary Time Off” (ou “férias ilimitadas”, em livre tradução) entrou em vigor em 16 de janeiro de 2023.

Um dos argumentos para a decisão é que a Microsoft entende que a empresa precisa se modernizar sobre o “como, quando e onde realizamos o nosso trabalho”, já que esses aspectos mudaram radicalmente, deixando assim as suas políticas de férias mais flexíveis.

Além disso, a Microsoft passa a oferecer mais 10 dias dos chamados “Corporate Holidays”, que são as férias corporativas para todos os funcionários.

Dessa forma, os assalariados na empresa não terão que esperar acumular um número específico de dias de férias corporativas para pedir as férias por mais tempo. Por outro lado, os funcionários que optarem por não realizar pausas de férias vão receber um pagamento adicional nos seus salários.

 

Copiando a Netflix na cara dura, e isso é algo positivo

A Netflix é uma das empresas que adotam esse formato de férias ilimitadas para seus funcionários. Para Reed Hastings (CEO da gigante do streaming), o que importa hoje é o que você consegue como resultados, e não as horas que você gasta trabalhando.

Ou seja, não é relevante se você trabalha 48 ou 50 semanas por ano. O que importa é se você alcançou um resultado estabelecido ao longo da jornada de trabalho.

A Goldman Sachs foi outra empresa que adotou a solução laboral, mas diferente da Microsoft, apenas os postos de trabalho mais importantes teriam direito a esse privilégio. A maioria dos funcionários da empresa (que, segundo denúncias realizadas em 2021, precisam passar por jornadas de trabalho de 98 horas semanais), as políticas de férias estão inalteradas.

 

É claro que tem pegadinhas no processo

Mais e mais empresas estão adotando o formato de férias ilimitadas ao redor do mundo, como forma de atrair os profissionais mais qualificados. Entre 2015 e 2019, o aumento dessas vagas com essa proposta foi de nada menos que 178%.

Porém, nem tudo são flores na vida das férias ilimitadas.

Alguns estudos indicam que os funcionários que trabalhavam no formato de férias ilimitadas pegaram em média apenas 13 dias livres por ano, enquanto que os empregados que estavam no regime tradicional folgaram por 15 dias.

Ou seja, temos um paradoxo: quem poderia tirar pausas quando queria trabalhou MAIS do que quem ainda estava no modelo tradicional.

O motivo para isso acontecer é por conta da ansiedade gerada pelos funcionários que estão no regime de férias ilimitadas, além do mal estar gerado na empresa entre os funcionários que não contavam com esse benefício.

Existe um componente psicológico que fez com que aquelas pessoas que não tinham um número específico de férias acabavam não valorizando esse período, pois se sentiram pressionados a trabalhar mais pela pressão dos colegas e dos chefes.

Já aqueles com dias de férias previamente estabelecidos não se preocupavam com isso, pois sabiam que contavam com esses dias especificamente para descansar sem qualquer tipo de pressão.

Outros problemas que precisam ser observados ao adotar esse formato é a pressão do funcionário em ser obrigado a responder aos chefes e colegas o tempo todo nas plataformas de comunicação instantânea, inclusive fora dos horários de trabalho.

Além disso, as empresas podem muito bem utilizar as tais férias ilimitadas dos funcionários para realizar o “quiet hiring”, ou a “contratação silenciosa”: é quando a empresa aproveita as férias de um funcionário para focar nos trabalhadores mais produtivos, que são promovidos dentro da empresa para o lugar daquele que escolhe quando descansar.

Bem sabemos que o Google faz isso, e por mais que um funcionário conte com suas tarefas definidas por objetivos, não é raro ver empresas que contam com superiores que enviam tarefas extras quando é necessário que aquele funcionário que está de férias realize aquele trabalho em específico.

E dizer NÃO para o chefe nessas circunstâncias pode resultar em uma demissão no futuro.

 

Conclusão

A política de “férias ilimitadas” da Microsoft pode ser encarada como um avanço dentro das relações laborais da empresa com os seus funcionários, mas precisa ser observada com lupa para que possamos compreender melhor os efeitos práticos da mudança.

O sistema pode funcionar muito bem, desde que as partes envolvidas estejam comprometidas com a produtividade e bem-estar laboral de todos os envolvidos. Não adianta muito se a Microsoft oferece as tais “férias ilimitadas” se lá na frente decide tirar o doce da criança com uma demissão misteriosa para promoção de outro funcionário que não tem esse benefício.

Particularmente, sou a favor de sistemas de trabalho com horários mais flexíveis, pois o indivíduo tende a ser produtivo com janelas de pausa mais constantes. Mas como eu não sou o CEO da Microsoft, só posso compartilhar neste momento a minha opinião sobre tudo isso e esperar pacientemente para que os resultados dessa decisão apareçam com o passar do tempo.


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@oEduardoMoreira