Rei morto, rei posto.
O anúncio da conclusão do processo de compra da Activision Blizzard King pela Microsoft na semana passada nos faz lembrar que ela custou menos do que deveria, principalmente por causa das denúncias sobre a cultura laboral tóxica envolvendo essa empresa em 2021.
E o principal responsável pela situação da empresa nesse ambiente de trabalho deplorável é Bobby Kotick, na época CEO da Activision. E como a conclusão da compra coloca um fim à sua presença na desenvolvedora de games após 33 anos de serviços (e alguns desserviços) prestados, vale a pena refletir sobre a sua história dentro da empresa.
Bobby Kotick praticamente agiu como agente duplo
Não precisa ser um profundo conhecedor do mundo dos videogames para saber que a Activision Blizzard King valia bem mais do que US$ 68,7 bilhões. E ainda há quem diga que a empresa saiu bem cara para a Microsoft, mesmo considerando a polêmica das políticas laborais tóxicas.
Mesmo assim, Bobby Kotick tem as mãos sujas pelo protagonismo assumido neste escândalo. Ele é acusado de ter conhecimento sobre o péssimo ambiente de trabalho na Activision e, em alguns casos, encobrir práticas abusivas contra os funcionários e desenvolvedores empregados.
O que tornou a situação de Bobby Kotick ainda mais séria foram as suspeitas de sua cumplicidade ao encobrir as ações dos assediadores, algo que não é inédito dentro do mundo corporativo, mas que sempre recai sobre aquele que tem o efetivo poder para combater tais práticas.
Mas Kotick não foi criticado apenas por sua omissão em um caso tão grave como esse. A falta de controle sobre a empresa também foi depreciada por acionistas, outros executivos e profissionais da imprensa ao longo de seu período como CEO da desenvolvedora de jogos.
Diante desse cenário de caos, a Microsoft apareceu como uma espécie de “tábua de salvação” para a reputação de Kotick, pois deixar acionistas e investidores mais ricos sempre acalmam os ânimos.
Ou será que não?
Nem a Microsoft aliviou pra cima de Bobby Kotick
A Microsoft (obviamente) aproveitou a situação para criar uma espécie de “tempestade perfeita” para reduzir o preço estimado e, na sequência, adquirir a Activision Blizzard King por um valor menor do que ela realmente poderia valer.
E neste caso, a gigante de Redmond teve a vida muito facilitada neste aspecto. Tudo o que precisou fazer foi espancar a já fragilizada reputação de Bobby Kotick sem dó nem piedade, para depois realizar uma oferta de compra considerada “irrecusável” para resolver o problema de uma Activision que está com o filme mais do que queimado.
E nem isso melhorou a vida de Kotick: parte dos investidores apresentaram um movimento de oposição à liderança de Bobby durante o processo de aquisição da empresa. E nem poderia ser diferente diante do escândalo do ambiente tóxico laboral e suposta conivência do executivo com as práticas nefastas.
Mesmo com o mundo desabando sobre a sua cabeça, Kotick permaneceu como CEO da Activison Blizzard King até a conclusão da aquisição por parte da Microsoft. E agora que a negociação foi concluída (apesar da FTC tentar embaçar o rolê), o império do executivo de gosto duvidoso já tem data para terminar.
Alguém vai sentir falta de Bobby Kotick?
Bobby Kotick ficará no comando da Activison Blizzard King até 31 de dezembro de 2023, conforme anunciado em um e-mail emitido em comunicado interno. Ele afirma estar comprometido em ajudar na transição para a nova liderança, mas isso não impede que investidores e acionistas torçam o nariz para tudo isso.
O que deixa o pessoal da empresa um pouco mais tranquilo é que Kotick será obrigado a se reportar para ninguém menos que Phil Spencer, o chefão da divisão do Xbox, durante todo o período de transição.
E em 1 de janeiro de 2024, chega ao fim a era Bobby Kotick na Activision Blizzard King: ele abandona o posto de CEO e deixa a empresa após 33 anos de serviços prestados (e alguns desserviços nos últimos anos).
Apesar de todas as polêmicas e burradas no final de sua gestão, Kotick tem importância e relevância na história da Activision. Ele entrou na empresa em 1991 e foi responsável por fusões importantes, ajudando a transformar a empresa no que ela é hoje.
Kotick estava no comando da empresa nas duas fusões mais importantes de sua história. Ele liderou a Activision quando a empresa absorveu a Blizzard em 2007, e foi o responsável pela aquisição da desenvolvedora de jogos para smartphones King em 2016.
Ou seja, seu capítulo final foi desastroso. Mas sua atuação deixou a Activision do tamanho que ela tem hoje.
Alguns terão motivos para agradecer a passagem de Bobby Kotick na Activision. Mas boa parte do mundo civilizado vai entender que estamos diante do clássico exemplo que mencionei no começo do artigo.
Rei morto, rei posto. E nada mais.
Longa vida para a Activision Blizzard King nas mãos da Microsoft. E vê se não ferra com o meu Call of Duty. Senão, vamos ter sérios problemas.