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Nasce Uma Estrela (2018) | Cinema em Review

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O melhor filme de 2018 (até agora).

Eu já conhecia a história. Já conhecia o final. E, particularmente, me incomodo com essa febre de revivals, reboots e remakes que invadiu Hollywood. Ainda acho que a criatividade morreu, ou que foi para a Netflix (ainda mais que agora o serviço de streaming conta com Shonda Rhimes e Ryan Murphy).

Porém, eu não posso me esquecer que qualquer filme ou série também depende da execução da ideia previamente estabelecida. A arte de contar uma história que todos conhecem, mas de uma maneira tão diferente, que reinventa essa história aos olhos dos veteranos e dos novatos.

Nasce Uma Estrela é uma história que tem, pelo menos, 64 anos. A versão mais famosa dessa história é a de 1976, um excelente filme que destacava o glamour do estrelato por excelência. Porém, dessa vez, testemunhamos uma história narrada pela perspectiva de duas pessoas que, trazendo no coração diferentes vitórias e derrotas, se encontram para se ajudarem.

Muito mais do que uma história de amor. Uma lição de vida, que deixa clara uma coisa: o que realmente importa é o que trazemos por dentro.

Se apaixonar pelo talento.

 

 

Ally e Jack traziam as suas histórias e dramas. O encontro casual dos dois aconteceu em um momento que era decisivo para os dois. Ele, um artista consagrado e de sucesso, sentia que sua carreira chegava ao fim por conta de um problema de surdez que veio da infância, e que se acentua a cada dia. Ela, uma jovem que desistiu dos seus sonhos de ser cantora, porque encontrou todas as portas fechadas uma vez que a consideravam “feia” para o mercado fonográfico.

Ele buscava um pouco de vida. Ela buscava alguém que enxergasse a música dentro dela.

O encontro entre Jack e Ally é o ponto inicial de uma trajetória pessoal e singular. Testemunhamos como duas pessoas podem se aproximar por causa dos sonhos e do talento. Jack sentia que Ally era o seu porto seguro, a renovação das perspectivas em voltar a fazer música da forma que ele sempre acreditou. Já Ally viu em Jack aquela pessoa que acreditou no que ela trazia de melhor em si.

Os talentos naturais dos dois se convergiram em um relacionamento com cumplicidade e entrega plena. Porém, os desafios que a ascensão profissional de Ally apresentaram para Jack determinaram uma dinâmica complexa, onde reforçou a ideia que amar alguém não basta para um relacionamento se sustentar.

O filme mostra a trajetória dessa história de amor, e como Ally se tornou uma estrela musical. E o preço que a vida cobrou para isso acontecer.

 

 

Nasce Uma Estrela é o melhor filme de 2018 até agora. E eu escrevo isso sem medo de errar (desculpa, Vingadores: Guerra Infinita, mas essa é a verdade). A forma como Bradley Cooper decide contar uma história que todos já conheciam é tão impactante e visceral, que é impossível você sair do cinema totalmente indiferente ao que acabou de testemunhar.

É um filme de narrativa detalhada, mas não é um filme cansativo. A música é aplicada da forma correta. É um musical, sim. Mas prefiro dizer que é um drama musical, ou um drama com momentos musicais. Não se preocupe: você não vai ver ninguém começar a cantar do nada e coreografias mirabolantes no meio da rua. Todas as músicas aparecem dentro de um contexto cuidadosamente pensado, para se alinhar com a narrativa do filme.

A decisão de colocar o espectador como testemunha ocular de todos os eventos envolvendo Jack e Ally é uma das mais sábias. Você é automaticamente inserido no filme, olhando tudo ou dos olhos dos personagens principais, ou muito próximos a cada um deles. Praticamente todos os planos de câmera enfatizavam as expressões faciais e o olhar dos nossos protagonistas, e isso deu um ar mais intimista ao filme.

E Nasce Uma Estrela é um filme sobre duas pessoas. E isso basta.

Não há outra palavra para descrever Bradley Cooper que não seja “possuído”. Nós bem conhecemos esse rapaz, e até então sabíamos do que ele era capaz. Gente, para os desavisados: eu estou falando do guaxinim Rocket Racoon de Os Guardiões da Galáxia. Nada contra o personagem, pelo contrário (eu adoro). Porém, Jack é, disparado, o personagem mais denso e complexo que Cooper interpretou em sua carreira.

A complexidade de suas emoções e a dinâmica em ter que lidar com suas fraquezas pelo excesso de consumo de álcool e drogas tornam Jack um personagem de difícil execução. Cooper foi muito competente em transmitir uma personalidade que gera empatia e, ao mesmo tempo, angústia. Uma boa pessoa, mas com uma alma amargurada.

E Lady Gaga? O que falar dessa mulher.

Muitos de nós éramos conscientes do talento de Lady Gaga, e percebemos como a sua curva de evolução é evidente. A vencedora do Globo de Ouro por American Horror Story queria dar um passo além, e conseguiu nesse filme mostrar todo o seu talento no canto e na interpretação.

Aliás, Nasce Uma Estrela tem muito a ver com a própria trajetória profissional de Gaga, que foi muito criticada pela estigma de sua aparência. Em alguns momentos, é possível perceber claramente como a cantora se entrega de forma plena ao drama de Ally. Sentir que o seu talento e potencial não são enxergados por causa da estética é algo terrível. E percebemos que esse desejo de mostrar todo esse potencial fica claro nas expressões faciais e até no olhar da protagonista.

 

 

Ao meu ver, Cooper e Gaga fatalmente serão indicados ao Oscar 2019, assim como Nasce Uma Estrela vai receber uma indicação para Melhor Filme (sem falar nas categorias técnicas, especialmente aquelas que envolvem a parte de som). Não sei se todos são favoritos a vencer os seus prêmios, uma vez que a chamada “temporada de elegíveis” acabou de começar. Mas não podemos negar que este é um forte concorrente a levar para casa vários dos prêmios que virão nos próximos meses.

Nasce Uma Estrela é um filme obrigatório para todos que querem aprender com Jack e Ally o que realmente importa nessa vida. O superficial não nos leva a lugar nenhum. O que existe por dentro é o que vale. Talento é o que realmente importa. Jack se apaixonou pelo talento de Ally, e considerou esse sentimento a sua última esperança de vida. E é isso o que todos nós estamos precisando: sentir amor por algo que vai além do que os olhos podem ver.

Ou se deixar tocar pelo o que o coração pode sentir.

Nasce Uma Estrela é uma das melhores experiências emocionais que você pode viver em 2018. Faça esse favor para você mesmo. E saia do cinema transformado, como eu saí.

Porque música cura almas. Salva vidas. Acalma corações.

 

 


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@oEduardoMoreira