Press "Enter" to skip to content
Início » Cinema e TV » O crítico de cinema será substituído pelo influenciador digital ou ChatGPT?

O crítico de cinema será substituído pelo influenciador digital ou ChatGPT?

Compartilhe

Por favor, não pense que sou presunçoso ou indulgente com qualquer tipo de profissão. Eu respeito toda e qualquer atividade profissional (incluindo o político de extrema direita), e entendo perfeitamente que os críticos de cinema e TV são profissionais que sempre me inspiraram a escrever sobre os filmes e séries de TV que tanto amo.

Mas… há quem diga que a profissão de crítico de conteúdo audiovisual está ficando cada vez mais obsoleta. Eu particularmente não quero isso, e vou compartilhar algumas reflexões que podem contrariar essa tendência de desaparecimento dessa atividade.

Eu ainda tenho a esperança de que a missão daqueles que compartilham com o mundo perspectivas diferentes sobre os filmes e séries de TV que assistimos todos os dias continua mais viva do que nunca. Porque precisamos dessas vozes para expandir nossa percepção sobre essas histórias.

 

A inspiração para escrever de forma pessoal

Vários críticos de cinema e TV, jornalistas e até mesmo colegas blogueiros me inspiraram a escrever sobre as produções que assisti ao longo de 10 anos que comandei o SpinOff.com.br. E na maior parte do tempo, compartilhei as minhas opiniões de forma pessoal e, em alguns casos, passional.

Para mim, não existia outra forma de compartilhar a minha visão sobre o mundo da sétima arte que não fosse entregando o meu coração nisso. Da mesma forma que faço na hora de escrever sobre tecnologia no TargetHD.net. Sempre acreditei que o leitor queria a minha impressão mais fidedigna sobre o filme e série que estava assistindo, pois era basicamente dessa forma que os críticos de cinema e TV sempre fizeram.

A interpretação pessoal de uma obra cinematográfica é algo muito importante, pois essa visão singular ajuda a enfatizar aspectos subjetivos na experiência que é assistir a um filme ou episódio de uma série. Aquele olhar único para a obra permite que se identifique alguns elementos da narrativa que podem ser ignorados pelo coletivo, e cada perspectiva ajuda a enriquecer a apreciação daquela história de uma forma mais ampla.

Ou seja, a minha perspectiva pode contribuir para que o espectador olhe para aquele filme ou série de forma diferente, absorvendo mais nuances e contrastes e, com alguma sorte, deixando aquele conteúdo ainda mais transformador para quem assiste.

Devo confessar que pensar na possibilidade de contribuir para uma melhor apreciação do outro em relação a uma obra é algo que me fascina. Me inspira a seguir em frente. Me motiva a seguir me comunicando com outras pessoas que estão abertas a ler ou ouvir o que tenho a dizer.

 

Uma nobre missão

Aqueles que escrevem críticas de cinema e TV abraçam missões que vão além do simples ato de compartilhar o que pensa com outras pessoas.

Escrever a sua opinião sobre qualquer coisa é uma enorme responsabilidade, não apenas nos aspectos literários (pois alguém está lendo aquele texto com atenção), mas também no compromisso em não deturpar aquela obra pensando apenas e tão somente nos seus gostos e afinidades.

Existe uma grande diferença entre os críticos que encaram essa missão como uma forma de arte e aqueles que fazem avaliações mecânicas e matemáticas sobre os filmes e séries que assistem. Tento trazer o meu trabalho para o primeiro grupo.

Gosto de compartilhar o que realmente sinto em uma crítica de um filme, inclusive traçando paralelos com a minha história de vida e até mesmo compartilhando o que aprendi com aquela história. Mostro minha humanidade ao reconhecer que uma história de duas horas ou mais pode efetivamente mudar a minha visão de mundo e, por tabela, a história da minha vida.

Dessa forma, procuro compartilhar os detalhes da obra que não são visíveis para o grande público, apontando os traços de sabedoria dos roteiristas ao entregar esses detalhes que se tornam relevantes dentro do contexto da narrativa. Para mim, escrever uma crítica é uma forma de descobrir e valorizar detalhes em uma obra que podem fazer toda a diferença para o filme e para a nossa existência em médio e longo prazos.

E o grande desafio de todo crítico é se conectar com o leitor, oferecendo uma experiência agradável de leitura. E nem todo mundo pensa nessa relação entre crítico e leitor: é quase uma cumplicidade, já que a ideia é ter uma pessoa conversando com a outra, confessando o que pensa e sente em um mundo que demonstra enormes dificuldades em conciliar visões e percepções diferentes sobre o mesmo tema.

 

As diferenças entre crítico e influenciador

Eu sei que vou encerrar esse artigo com um tema espinhoso, mas necessário.

Existem diferenças substanciais entre os críticos de cinema e TV de ofício e os influenciadores digitais. E a principal delas está na emoção que cada um deles transmite ao compartilhar opiniões e pensamentos sobre as obras.

Críticos de cinema tendem a ser mais neutros em suas opiniões, enquanto que os influenciadores são mais passionais, compartilhando o hype ou a decepção com uma determinada obra com ênfase muito maior.

O problema da crítica tradicional está na “neutralidade” excessiva para avaliar os filmes, o que pode pender para o lado do insípido ou indiferente. Neste caso, admiro (e muito) o trabalho da Isabela Boscov, que transmite o que pensa sobre os filmes e séries de TV com elegância e sobriedade, mas combinando a paixão e a emoção que sente ao assistir os conteúdos.

E esse equilíbrio é algo muito difícil de ser alcançado nos dias de hoje.

 

Por que o ChatGPT não vai aposentar o crítico de cinema

Outro fator a ser considerado nessa problemática é que muitos influenciadores estão se valendo da chegada das Inteligências Artificiais para a produção de suas críticas, o que resulta em naturais limitações no formato e no desenvolvimento do conteúdo.

E isso acontece por um motivo bem simples: qualquer ferramenta de Inteligência Artificial disponível no mercado neste momento não conta com elementos tão necessários para uma boa crítica, como empatia e emoção genuína. Os textos produzidos pelos modelos generativos são frios demais para demonstrar para o leitor que aquela visão sobre um filme e série de TV pode se comunicar efetivamente com uma audiência que quer ver além do que está na tela para se convencer que aquela história merece ser acompanhada.

Hoje, todo mundo compartilha a sua opinião sobre tudo, e dá até para pensar que os críticos estão entrando em processo de extinção. Porém, uma máquina nunca vai substituir aquele ser humano que vai compartilhar o que pensa e sente sobre um filme.

E sempre vai ter alguém para ler essa opinião. Mesmo que a pessoa que escreveu o conteúdo não seja mais chamado de crítico de cinema e TV.

O nome do profissional pode até mudar. Mas sua função em nossa sociedade vai prevalecer.


Compartilhe
@oEduardoMoreira