A Apple substituiu o conector Lightning pela porta USB-C na nova geração de smartphones da empresa, a iPhone 15. E fez isso porque foi obrigada.
Se dependesse da Apple, apenas o iPad e o Mac receberiam a USB-C. A Lightning representava interessantes receitas nas vendas de acessórios compatíveis e exclusivos, a partir do uso da porta proprietária.
Agora, com a mudança para a USB-C, uma série de implicações e desdobramentos importantes aconteceram, e merecem ser explorados em detalhes.
Até porque a Apple não contou tudo o que você precisava (ou merecia) saber sobre o USB-C no iPhone 15.
Da estreia do Lightning às mudanças na União Europeia
O conector Lightning estreou no iPhone 5 em 2012, e sempre foi motivo para debates. Se tornou a marca registrada da Apple, pois foi adotado em praticamente todos os dispositivos da empresa.
Fato é que o Lightning nunca agradou, principalmente no desempenho de recarga de bateria e transmissão de dados. Sem falar que acessórios e cabos compatíveis com esse conector sempre custaram mais caros.
A decisão da Apple de adotar o USB-C não foi meramente estratégica, mas também uma resposta direta a regulamentações impostas pela União Europeia. A UE promulgou uma legislação que exige a padronização dos conectores de carga em uma ampla gama de dispositivos eletrônicos, incluindo smartphones, tablets e câmeras.
O conector escolhido como padrão é o USB-C, que foi abraçado pela indústria e público em geral, deixando a Apple isolada em sua posição continuísta.
A motivação por trás dessa regulamentação europeia é a redução do desperdício eletrônico, permitindo que as pessoas continuem a usar carregadores antigos com seus novos dispositivos. Embora inicialmente a Apple tenha resistido à ideia, a empresa finalmente se curvou às pressões regulatórias e abraçou o USB-C no iPhone 15.
Além da União Europeia, outros países como Índia, Coreia do Sul e Estados Unidos também consideram a implementação de regulamentações semelhantes. Isso torna o uso do USB-C praticamente inevitável em todo o mundo.
Mas a transição não está livre de algumas pequenas trapaças e armadilhas espalhadas por Tim Cook.
Diferenças entre o conector Lightning e o USB-C
Para entender completamente o impacto dessa mudança, é fundamental analisar as diferenças fundamentais entre o conector Lightning e o USB-C.
O conector Lightning, desenvolvido pela Apple em 2005, é conhecido por sua forma compacta e patenteada, sendo utilizado para carregar dispositivos, transferir dados e conectar uma variedade de acessórios exclusivos, como fones de ouvido e adaptadores.
Por outro lado, o USB-C tem como suas principais vantagens ser um padrão aberto, com orientação reversível (o que simplifica a vida do usuário) e entregar um melhor desempenho para envio de energia e dados.
Os cabos Lightning estão limitados a velocidades USB 2.0, que atingem 480 Mbps. Já o USB-C oferece uma velocidade máxima de 80 Gbps, cerca de 166 vezes mais rápida que a tecnologia da Apple.
Atualmente, os iPhones da Apple alcançam velocidades máximas de carga de 20 W, enquanto o USB Power Delivery oferece até 240 W. Embora poucos dispositivos atinjam cargas superiores a 50 W, a Apple ainda fica atrás de concorrentes como o Galaxy S23 Plus e o Galaxy S23 Ultra, que podem ser carregados a até 45 W.
A polêmica transição
Muitos se perguntam se precisam comprar novos cabos para usar o iPhone 15.
No kit de venda do smartphone, já vem um cabo USB-C para USB-C. Ou seja, se o seu carregador é USB-C > USB-A, você precisa comprar outro cabo. Mas é bem provável que a maioria dos usuários já conta com um cabo em casa com qualquer um dos dois padrões.
Outro detalhe importante é que esse cabo USB-C que vem com o iPhone 15 (em todas as suas variantes) não entrega o máximo de desempenho na recarga e transmissão de dados.
Se você quer a máxima performance nessas tarefas, terá que comprar um cabo USB-C específico da Apple com Thunderbolt 4… que custa no Brasil “apenas” R$ 729.
Para aqueles que possuem acessórios Lightning como fones de ouvido, você vai precisar de um adaptador nesse padrão para a porta USB-C do iPhone 15.
A Apple cobra absurdos R$ 329 por esse acessório, que vai permitir a recarga do iPhone com cabos antigos, o uso de fones de ouvido e a transferência de dados em uma velocidade bem lenta.
E por falar na velocidade de recarga e transferência de dados…
De acordo com as especificações técnicas, todos os modelos de iPhone 15 oferecerão “até 50% de carga em 30 minutos com um carregador de 20 W ou mais”.
Os modelos iPhone 15 e o iPhone 15 Plus possuem um limite de 480 Mbps, semelhante ao desempenho entregue pelo cabo Lightning. Já o iPhone 15 Pro e o iPhone 15 Pro Max suportam velocidades USB 3.0, alcançando até 10 Gbps.
Lembrando mais uma vez que o cabo USB-C que vem na caixa do iPhone 15 é compatível com velocidades USB 2.0. Para alcançar os tais 10 Gbps, você precisa do cabo USB 3.2, que é vendido separadamente…
…porque a Apple precisa lucrar em cima de você a todo custo.
O que serve de consolo neste caso é que você pode usar cabos de fabricantes alternativos que oferecem as mesmas características técnicas dos melhores cabos vendidos pela Apple, mas pagando muito menos por isso.
Uma mudança que vai impactar a todos
A decisão da Apple de substituir o conector Lightning pelo USB-C no iPhone 15 não é apenas uma mudança na interface de carregamento e transferência de dados, mas uma transformação que reflete as dinâmicas da indústria tecnológica global.
À medida que as regulamentações se tornam mais rígidas e o consumidor busca maior eficiência e velocidade, a transição para o USB-C era um passo inevitável.
Eu entendo a preocupação dos usuários, que precisam estar cientes das limitações estabelecidas pela Apple no uso do USB-C no iPhone. Inclusive para não ser passado para trás pela gigante de Cupertino ou se decepcionar após investir uma pilha de dinheiro no novo smartphone.
É altamente recomendado ter tudo isso em mente antes mesmo de comprar o iPhone 15. Dependendo do seu cenário individual, é melhor se preparar antes de investir no telefone que matou a porta Lightning para sempre.
E eu fico muito feliz com essa morte.