O homem branco heterossexual é o privilegiado na sociedade, e isso é uma realidade inescapável, goste você ou não disso. O mundo foi concebido por e para homens brancos, com todas as regras estabelecidas por esse grupo e manipuladas para que essa parcela do coletivo vença na grande maioria dos casos.
E toda a mídia ao nosso redor deixa claro o orgulho que esse grupo dito dominante sente em ser como é.
Logo, duas das coisas mais fáceis do mundo para um homem branco heterossexual é celebrar e expressar livremente a sua sexualidade. E infelizmente, a grande maioria dos membros do coletivo LGBTQIA+ não pode dizer ou fazer o mesmo.
Em pleno 2023, os membros desse coletivo estão limitados aos filmes independentes, e são excluídos dos blockbusters de grandes estúdios. E é especialmente necessário reivindicar a importância de uma maior e mais eficiente representação LGBTQIA+ no cinema e nas outras artes.
E nos próximos minutos, eu vou jogar um monte de argumentos na sua cara para provar o meu ponto.
“Por que o protagonista desse filme tem que ser gay?”
Pelo mesmo motivo que a Ariel da versão live action de A Pequena Sereia pode ser negra: pela representatividade.
Mas como não posso achar nenhuma pergunta ridícula (já que ridículo mesmo é ser homofóbico e racista depois de toda a teórica evolução que a humanidade testemunhou nos últimos 100 anos), vou explicar da forma mais didática possível porque é necessário encontrar diferentes grupos em personagens protagonistas de diferentes tipos de produções.
A principal razão sobre a importância de um maior protagonismo para personagens homossexuais na TV e no cinema é porque – olha só você, que interessante… e nem é uma descoberta recente… – os gays existem!
Assim como pessoas pretas são a maioria no Brasil.
Simples assim.
Acredite, se quiser, dona Dulce, casada há 55 anos com o general Gervásio (que precisa de Viagra para comer a marmita de strogonoff com a amante em um motel qualquer, enquanto a senhora vê esse conteúdo indignada): existem pessoas que gostam de pessoas do mesmo sexo.
E essas pessoas estão completamente integradas em nossa sociedade. E podem fazer qualquer coisa, acredite: desde andar de metrô ao nosso lado até ajudar a defender o planeta de uma invasão alienígena.
Se existem personagens de todas as raças, credos, sexos e condições realizando todo e qualquer tipo de atividades no cinema e na TV, por que invalidar a condição de um protagonista na hora de ter relações sexuais com outra pessoa?
Para mim, aceitar o outro é algo óbvio e simples. Mas a surpresa e a relutância que um grupo da sociedade demonstra diante de personagens LGBTQIA+ é apenas um reflexo de como esse mesmo coletivo manifesta sua essência moral e ética.
Parte da minha missão nesse mundo é – inclusive – ajudar às novas gerações a abraçar com total naturalidade e amor não apenas a própria condição sexual, mas também o que o outro tem como real essência neste aspecto, sempre com honestidade e responsabilidade.
Por mais que isso deixe o seu avô revoltado e sua avó ainda mais indignada, pois descobriu que o Gervásio usou sim o Viagra com aquela sirigaita gostosa e com bunda perfeita que ele hipocritamente chama de “secretária” e serviu como companhia dele no motel para “finalizar o trabalho que eles começaram no escritório”.
A hipocrisia de Hollywood, e a necessidade de representação honesta e responsável
Nos últimos anos, percebemos um notável aumento nas ações que a comunidade LGBTQIA+ está realizando para reivindicar os seus direitos nos mais diferentes campos da sociedade.
E Holllywood não vive em uma bolha, por mais que os velhos da Academia votantes no Oscar insistam em pensar que seja assim.
Todo esse movimento já tem os seus efeitos na indústria cinematográfica, de forma quase inevitável. O problema é que a parte mais rançosa de Hollywood decidiu se vingar de tudo isso, incluindo em produções personagens LGBTQIA+ cuja sexualidade não se faz presente na edição final dos filmes.
Não são poucos os exemplos de filmes onde só ficamos sabendo sobre a sexualidade de alguns personagens depois que essas histórias chegam aos cinemas e, ainda assim, com um comportamento que passa bem longe de ficar claro para o grande público.
Em um passado não muito distante, incidentes muito semelhantes aconteceram em histórias gigantescas como Jurassic World: Reino Ameaçado, Thor: Ragnarok, Pantera Negra e outros tantos filmes cujos personagens só se revelaram homossexuais pelos seus atores, diretores e roteiristas.
A Disney é a que mais passa vergonha neste aspecto. Por exemplo, no remake live action de A Bela e a Fera, se gabou por supostamente dar um passo à frente na questão, ao definir o personagem Le Fou como abertamente homossexual, mas no corte final do longa escondeu esse aspecto da narrativa quase que completamente, reduzindo o personagem aos gestos rançosos e estereotipados.
O que o coletivo LGBTQIA+ realmente deseja é um tratamento frontal para a condição sexual, de forma responsável e livre de clichês. Mais ou menos como aconteceu no espetacular Me Chame Pelo Seu Nome…
…que é um filme de um estúdio independente, e não da Disney.
Entendeu a raiz do problema?
Por fim, um exercício simples
Será que Duro de Matar seria tão diferente assim se John McLane, no lugar de neutralizar Hans e seu grupo de terroristas para salvar a sua esposa Holly Gennaro fizesse tudo aquilo para resgatar o seu marido Henry Gennaro?
Aneka e Ayo, duas das integrantes do corajoso grupo de guerreiras Dora Milage, são menos fodas e destemidas porque se amam?
Elton John é um músico menos genial por ser assumidamente homossexual? Pedro Almodóvar é um diretor menos relevante e influente por ser casado com Fernando Iglesias desde 2002?
Será que realmente devemos reduzir os valores e habilidades das pessoas apenas e exclusivamente pelo fato desses seres pertencerem ao coletivo LGBTQIA+?
Isso me parece algo simplório demais diante de tudo o que cada indivíduo tem de positivo em suas respectivas essências.
E… não… essas pessoas não são especiais por causa da condição sexual.
Porém, milhões e milhões de pessoas que estão nesse enorme coletivo LGBTQIA+ precisam saber e efetivamente acreditar que todos podem alcançar o mesmo patamar que o chamado “grupo de pessoas consideradas normais” sempre estiveram (eu sei que essa expressão é ridícula e ofensiva, mas preciso dela neste momento para ilustrar meu ponto).
Se para você Duro de Matar seria um filme menor se John McLane fosse gay, temos aqui mais um indício que algo está errado EM VOCÊ, e não em um hipotético personagem homossexual em um filme de ação.
Hoje, toda a representação LGBTQIA+ presente nos cinemas é escassa e ineficaz, pois você e outros tantos membros do coletivo não aprenderam até hoje (e dependendo da sua idade e da sua baixa capacidade cognitiva não vai aprender mais) que a verdadeira grandeza de um indivíduo não está no fato de abraçar, beijar ou fazer sexo com pessoas do mesmo sexo ou do sexo oposto.
Mas sim no genuíno e mais do que necessário ato de amar alguém.