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Por que janeiro é um mês que passa tão arrastado para muitas pessoas (mais do que agosto, inclusive)

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Por que janeiro parece durar uma eternidade? Ou pelo menos parece ser? Bom, talvez o janeiro de 2024 não foi tão longo quanto todo mundo esperava, mas em várias outras oportunidades ele se distanciou da ideia de ser curto demais quanto desejávamos.

Muitas pessoas compartilham dessa sensação, que é alvo de brincadeiras e memes nas redes sociais. Mas será que há alguma explicação científica por trás disso? Bom, se este artigo existe, é sinal de que a resposta é SIM (pra variar).

Neste post, vamos explorar alguns fatores que podem contribuir para a fama de janeiro como o mês mais longo do ano. E, com alguma sorte, despertar em você uma reflexão sobre como nos relacionamos com o tempo.

 

Entendendo o “Blue Monday”

Um dos motivos para todo mundo achar que janeiro é o mês mais longo do ano é o chamado “Blue Monday”, que acontece na terceira segunda-feira de janeiro, considerado por alguns especialistas como “o dia mais triste do ano”.

Essa data foi criada em 2005 pelo psicólogo Cliff Arnall, que desenvolveu uma fórmula baseada em variáveis como clima, dívidas, salário, tempo desde o Natal, tempo desde o fracasso das resoluções de Ano Novo, baixa motivação e necessidade de agir. Esses fatores se combinam para criar um pico de infelicidade coletiva nesse dia específico.

Eu nunca parei para pensar nisso a sério, muito menos em fazer uma associação com a minha realidade prática. Mas prometo prestar mais atenção nisso em 2025 para detectar se existe essa correlação com o meu estado de espírito.

O “Blue Monday” não é reconhecido pela comunidade científica como um fenômeno real, e sim como uma estratégia de marketing para incentivar as pessoas a viajar e consumir. De qualquer forma, ele reflete a sensação de que janeiro é desesperadamente longo e difícil de suportar.

Uma possível explicação científica para isso tem a ver com o aborrecimento. De acordo com Zhenguang G. Cai, pesquisador do University College of London, o retorno ao trabalho após o período festivo pode gerar tédio, contribuindo para a sensação de que o tempo passa mais devagar em janeiro.

Isso acontece porque o tédio reduz a atenção e a concentração, fazendo com que as pessoas se distraiam mais facilmente e percam a noção do tempo.

E isso é uma realidade prática na vida da maioria das pessoas que eu conheço, e na minha também. Ou vai me dizer que você retorna das férias totalmente animado e pronto para produzir um volume de trabalho intenso após semanas de descanso?

 

A relação entre dopamina e o tempo

Outra teoria relaciona a liberação de dopamina à percepção do tempo.

A dopamina é um neurotransmissor que está envolvido na sensação de prazer e recompensa. Quando estamos expostos a ambientes novos e estimulantes, nosso cérebro libera mais dopamina, aumentando nossa atenção e memória.

Isso faz com que o tempo pareça passar mais rápido, pois temos mais informações para processar. É como um jogo de futebol que está bom: quanto maior o número de lances importantes, maior a sensação de que o jogo passou voando, pois o seu cérebro é estimulado o tempo todo.

Ou seja, a ciência ao menos consegue confirmar o famoso ditado: “tudo o que é bom dura pouco”. Com exceção do sexo, obviamente.

Por outro lado, quando estamos em ambientes conhecidos e previsíveis, como a rotina de janeiro, nosso cérebro demanda menos esforço cognitivo, resultando em menor liberação de dopamina e percepção mais lenta do tempo.

O que explica por que as férias parecem voar, enquanto os dias de trabalho se arrastam. Agora, combine isso ao tédio que eu já mencionei, e rapidamente você conclui que tudo isso é um plano para tirar a sua vida lentamente.

Além disso, há um contraste entre o período natalino e o mês de janeiro, que pode afetar nossa percepção temporal.

O Natal é uma época repleta de estímulos sensoriais, emocionais e sociais, que nos mantêm ocupados e felizes. Já janeiro é um mês mais calmo e monótono, em que as novidades do ano ainda não se concretizaram e as expectativas são altas.

 

Existem algumas variáveis nessa equação

Outros fatores que podem contribuir para a sensação de que janeiro é o mês mais longo do ano são o frio e a falta de luz solar (para quem mora no Hemisfério Norte), os problemas financeiros pós-Natal e a pressão dos objetivos de Ano Novo.

Esses elementos podem gerar estresse, ansiedade e depressão, afetando negativamente nosso humor e nossa disposição.

Por fim, há também um efeito de grupo envolvido nessa questão.

A simultaneidade da volta ao trabalho no início do ano reforça a sensação coletiva de que janeiro é longo, pois as pessoas se influenciam mutuamente. Quando todos ao nosso redor reclamam do mesmo problema, tendemos a concordar e compartilhar da mesma emoção.

Não podemos nos esquecer que o ser humano é adaptável e influenciável ao meio. É um componente que está em nosso DNA social, e carregamos essa informação comportamental ao longo de nossa evolução.

 

O que fazer para se salvar durante o mês de janeiro?

 

Mas nem tudo está perdido. Existem algumas estratégias que podem amenizar essa sensação e tornar janeiro mais leve e produtivo.

Psicólogos recomendam técnicas de ativação comportamental e gamificação pessoal para planejar atividades e objetivos estratégicos, ajudando a suavizar o impacto do retorno à rotina.

A ativação comportamental consiste em identificar os comportamentos que nos fazem sentir bem e aumentar sua frequência e intensidade. Por exemplo, praticar exercícios físicos, meditar, ler um livro ou assistir a um filme. Essas atividades podem gerar prazer, relaxamento e bem-estar, além de liberar dopamina e melhorar nossa percepção do tempo.

A gamificação pessoal consiste em transformar nossas tarefas e metas em um jogo, criando regras, desafios, recompensas e feedbacks. Aprender um novo idioma, estabelecer um cronograma de estudos, um sistema de pontuação, um prêmio para cada nível alcançado e uma forma de avaliar nosso progresso.

São pequenos truques que podem tornar nossos objetivos mais divertidos, motivadores e gratificantes, além de aumentar nossa atenção e memória.

Logo, janeiro não precisa ser o mês mais longo e torturante do ano. Com algumas mudanças de hábito e de atitude, podemos transformá-lo em um mês mais agradável e proveitoso.

E lembre-se: o tempo é relativo, e depende muito de como nós o vivemos.


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@oEduardoMoreira